domingo, 29 de dezembro de 2019

José Augusto de Castro e Costa (Poemas Avulsos)


ALMA ACREANA
Alma minha gentil que aqui ainda estás,
Contemplando, perplexa, a ora sadia ora insana
Vida de um reino em busca de paz,
És, sim, única e própria alma acreana!

A propriedade de tua formação
Objeto da paz emanada de guerra,
Nasceu da exata miscigenação
De almas patrícias que a esperança encerra.

És brasileira por opção
Para seres de fato alma acreana.
Caráter firme, orgulho e decisão
De bravos, de onde o amor à pátria emana

Distingue-se algo da alma sulista,
Mas tens muito da alma cearense, pernambucana...
Destaca-se, sim, a influência nortista,
Pois desta mistura de almas és tu – alma acreana.

FLORESTA

Floresta, és tu sublime inspiração
De Deus – esplendorosa criação!
Favoreces o equilíbrio das matas,
Assim como proteges as límpidas cascatas!

Floresta, é a sombria casa da flor esta.
Nas flores, nas folhas, nos caules, enfim em festa
És esperança real deste céu, deste rio-mar, desta terra...
Depósito energético que a natureza encerra!

A brisa que sopra na folhagem
Conta mil segredos para a flor...
A natureza a escutar esta homenagem
Diz serem tais, cantos de amor!

Tuas matas, a natureza sente,
Vibra, encanta e emana chama ardente
De belezas plásticas e eterno fulgor,
No triunfo imortal do soberano amor!

Bendito o verde que de ti fulgura
Ao banhar-te o sol – o real rei de luz pura...
Transportando raios coloridos em águas cristalinas
A esperá-los nos rios, igarapés, nas relvas das campinas!

Bendita sejas Floresta nossa de cada dia!
Que Deus te perpetue saudável!
Devolva-te todo o porte e magia...
Te recupere a selva que te foi extraída
E voltes tu a oxigenar nossa própria vida!

HORROR – GRANDE E MUDO
Rio Acre, interminável e fundo,
Entre barrancas de impotência e dor,
Em que mar remoto, profundo,
Estás tu a lançar tantas lágrimas de horror?

Aqui, ali, além, de dobra em dobra,
De curva em curva invades tua terra,
E tal qual uma imensa e assustadora cobra
Vais tragando a vida que a mata bonita encerra...

Da minha terra, toda a risonha história,
Alagaste-a... engoliste-a... São páginas lidas!
Mostras-me tu que o amor é crença ilusória,
E as almas são todas elas esquecidas?

Tuas margens, não as vejo mais. A linha
Das tuas barrancas, onde à tardinha
As garças e alguns de nós íamos cismar a esmo

Me desconcentra,  e ao ver esta água turva,
Descubro o Rio Acre em cada curva
E o destino colérico a bagunçar comigo mesmo!

RÉQUIEM MATERNO

Quando acordei para o mundo,
Vi um rosto alabastrino
A beijar-me, ainda no berço
Premeditando o destino.

Me afagou e me ensinou
A falar e dar meus passos.
Cheguei até ter ciúmes
Do calor dos seus abraços !

Passou a ser a Mãezinha
Razão da minha alegria,
Pois foi quem me amparou
Quando ninguém me queria !

Mas enfim foi embora
Essa minha estrela guia...
Fico rogando a Deus
Por essa outra Maria !

Ao mandar que me deixasse
Deus lhe disse, em tom profundo
Que iria pagar em dobro
O bem que ela fez ao mundo.

Vou chorar sempre sua falta
Mas fazendo os rogos meus,
Que maior felicidade
Tenha depois desse adeus.

Pode partir minha mãe,
Que não será esquecida,
Porque o tempo jamais apaga
O bem que se quer na vida.

Fontes:
Antonio Miranda
Felicidacre (Blog do Poeta)

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