sábado, 25 de fevereiro de 2023

Afrânio Peixoto (Trovas Populares Brasileiras) – 8

Atenção: Na época da publicação deste livro (1919), ainda não havia a normalização da trova para rimar o 1. com o 3. Verso, sendo obrigatório apenas o 2. Com o 4. São trovas populares coletadas por Afrânio Peixoto.



A pitanga é fruta doce,
mais doce é jaboticaba;
quem toma amores contigo,
começa, mas não acaba.
= = = = = = = = = 

As ondas brincam de amores,
correm à terra beijar...
Sê tu a terra, querida,
e deixa qu'eu seja o mar.
= = = = = = = = = 

Chuva que tem de chover,
porque é que está peneirando?
Amor que tem de ser meu,
porque está negaciando?
= = = = = = = = = 

Coração vai visitar
o mimo da formosura,
pergunta, quero saber,
se nosso amor ainda dura.
= = = = = = = = = 

Dizes que bem me queres,
que meu é teu coração;
Malmequeres que desfolho
dizem-me todos que nâo…
= = = = = = = = = 

Duvidar de quem se adora,
não é decerto viver,
vida assim tão desgraçada
é pior do que morrer.
= = = = = = = = = 

Estrela do céu brilhante,
raio de sol encarnado,
se tens amores com outro,
não me tragas enganado.
= = = = = = = = = 

Eu sofri e fiz sofrer,
amei e me fiz amar,
Se a partida fosse errada,
que gosto principiar!
= = = = = = = = = 

Eu sofri por ter de amar,
e sofri por ser amado,
mas tudo quanto sofri,
eu dou por bem empregado.
= = = = = = = = = 

Fui à fonte ver Maria,
encontrei com Isabel.
Isto mesmo é qu'eu queria,
caiu-me a sopa no mel.
= = = = = = = = = 

Fui fraca, facilitei,
cuidei que amor n'era nada.
Amor é mal sem remédio,
hoje estou desenganada!
= = = = = = = = = 

Lá dentro desse teu peito
eu desejava morar,
não estorvando a quem mora,
dizei-me se tem lugar.
= = = = = = = = = 

Manjericão rajadinho,
rajadinho pelo pé,
o meu coração é teu,
o teu não sei de quem é.
= = = = = = = = = 

Marília, se não me amas,
não me digas a verdade,
finge amor, tem compaixão,
mente, ingrata, por piedade.
= = = = = = = = = 

Na galera dos amores,
todos se embarcam cantando,
porém no fim da viagem,
todos se apartam chorando.
= = = = = = = = = 

Não tenho onde me esconder
Do meu amor inimigo:
Perto, estou fora de mim,
longe, está dentro comigo!
= = = = = = = = = 

Oh bela, porque me matas,
mas a vida me estás dando?
Se tens de ser meu amor,
não andes vira-virando.
= = = = = = = = = 

0 marmelo é boa fruta,
enquanto não apodrece;
assim são amores novos
enquanto não se aborrece.
= = = = = = = = = 

0 meu amor mais o teu
pesei na mesma balança,
o meu pesou direitinho,
só no teu achei mudança.
= = = = = = = = = 

0 vento que veio hoje
levou palha e deixou trigo,
eu quero te perguntar
se essa carranca é comigo.
= = = = = = = = = 

Papagaio come milho,
periquito leva a fama...
Vai fazer teu fingimento
com aquele que te ama.
= = = = = = = = = 

Se eu soubesse com certeza
que tu me querias bem,
eu te faria um carinho
que nunca te fez ninguém.
= = = = = = = = = 

Se queres de mim que te ame,
como sempre já te amei,
bota fora do sentido
certa gentinha que eu sei…
= = = = = = = = = 

Você diz que me quer bem,
eu também quero a você,
onde há fogo há fumaça,
quem quer bem logo se vê.
= = = = = = = = = 

Você diz que me quer bem,
que me traz dentro do peito,
isso não, não acredito,
quem quer bem tem outro jeito.

Fonte:
Afrânio Peixoto (seleção). Trovas populares brasileiras. RJ: Francisco Alves, 1919. 
Disponível no Portal de Domínio Público

Nenhum comentário: