sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Cícero Galeno Lopes (Poemas)

A gaiola

Que coragem tens ou cruel brutalidade,
que incauto inocente, pelo alimento,
condenas à prisão pela vida inteira
e dele usufruis financeiros resultados?

Ainda ontem pelo verde e pelo azul voava,
o encanto da vida e o aconchego dos seus
podia usufruir em plena natureza...
hoje o tens mísero, pequeno e dominado.

A gaiola o prende em reclusão perpétua,
e há de cantar e olhar a luz e o verde,
fechado entre grades, ruídos e estranhos;

o silêncio e a cor da mata e dos seus o canto
serão torturas amargas daqui em frente
a quem duas asas tinham poder de céu
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A chuva

Flocos líquidos transparentes descem
pequenos, leves e inofensivos,
um, depois mais um, depois tantos crescem,
que a terra toda alagam, e os rios

se elevam, veias da natureza,
e levam a vida a todos os seres.
Ah, quem me dera ter essa firmeza:
de gota em gota construir saberes.
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As rosas, Dafne

As rosas são belas, Dafne, e como,
A quem por deleite só as cultive,
Por prazer apenas!
A quem as cultive, que delas viva,
Não serão tão belas: quanto esforço
Por menores penas!

Sol mesmo ou água de um regato
Não se dão igual a folha e raiz:
Estão, não estão!
Mata uma por falta, outro por demasia;
O tempo se esvai no só cultivar,
E a rosa é pão!

De onde tempo, Dafne, onde o tempo
Para admirá-las brotar, colorir,
Se é mister fazê-las!
O homem, pois, que tem na rosa ofício,
Rosas não vê, senão o que delas tem:
Regá-las n'é tê-las!
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