quarta-feira, 4 de maio de 2011

Gabriela Silva (A Vida de um Autor Influencia em sua Escrita?)

foto de Gabriela Silva
Uma discussão habita o mundo da literatura: a vida de um autor influencia em sua escrita? É do âmbito da critica genética que essa discussão parte. Quando experienciamos compartilhar e perceber como se davam as ações cotidianas ou reais desses artistas.

Lembro-me da primeira vez que li uma obra de Fiódor Dostoievski (1821-1881), estava no segundo ano da graduação e tínhamos uma disciplina chamada Literatura Ocidental. Líamos os grandes nomes da literatura. Li Crime e castigo (1866), com avidez, queria entender cada passo de Raskolnikov, perceber cada movimento, sentimento ou nuance de ação da personagem. Conheci São Petersburgo pelas páginas da obra de Dostoievski. Li no mesmo ano O jogador (1864) e gostei de passar algum tempo na companhia de Alexei Ivanovich, o protagonista, tentando entender a avareza e a vulnerabilidade humana. Algum tempo depois me apaixonei pelo doente narrador de Notas do Subterrâneo (1864), mesmo com a declaração da primeira página: sou um homem doente. Tal como Ofélia, amei um louco. Fui feliz. Conheci outras coisas de Dostoievski.

Percebi que a mente humana, e todas as suas peripécias era a motivadora da escrita de Dostoievski e isso se percebe em O jogador (1865), O idiota (1868), Os irmãos Karamazov (1878).

Todas as suas personagens reúnem os questionamentos humanos de individualidade e necessidade de sobrevivência em seu tempo.

Então me pergunto como era a vida de Dostoievski? Como o passar do tempo corria entre suas linhas e personagens?

Não posso reclamar dos deuses, eles me atenderam: Dostoievski: correspondências 1838-1880, tradução de Robertson Frizero pela editora 8Inverso, é uma grande leitura para quem gosta do autor e também para quem quer um bom motivo para gostar.

As correspondências traduzidas e organizadas por Frizero, trazem ao leitor a experiência de conhecer e perceber a vida social e o círculo de amizade e convivências que Dostoievski tinha em sua época.

Dividido em cinco capítulos, a coletânea organiza as correspondências em épocas e situações: “Os primeiros anos”; “A prisão e os anos de exílio em solo pátrio”; “Os anos de exílio no estrangeiro”; “O regresso à Rússia e a consagração como escritor” e por último uma cronologia da vida do autor, que traça uma linha temporal entre os acontecimentos do mundo e a vida de Dostoievski.

Como nos diz o tradutor em seu prefácio à obra: sempre tendemos uma interpretação do que está escrito, tentando colocar as situações vividas e relatadas nas obras literárias, como que fazendo a junção entre ficção e verdade. São cartas destinadas ao pai, ao irmão, à sobrinha e também amigos. Nelas são contadas situações, sentimentos, esperanças e expectativas do autor. Portadoras de lirismo, da necessidade humana de comunicar-se, de compartilhar, as cartas mostram-nos que o autor é tão frágil, emotivo, apegado à família como outros tantos mortais.

Mas diferente deste fatal destino, a obra em questão, mostra-nos a relação de Dostoievski com o mundo, com as pessoas estimadas e com o universo que ele mesmo criava para suas personagens. Leitor incansável, segundo Robertson, o autor russo conciliava talento e capacidade de observação alimentados por uma vida de duras experiências e leitura ávida.

Não apenas para olhos acadêmicos, mas para olhos apaixonados pela literatura e por Dostoievski, Correspondências é um convite a conhecer o mundo do autor, a entender o gênio que até hoje provoca nos leitores sentimentos e sensações diversas. Entre eles: a curiosidade e a admiração.
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Gabriela Silva é licenciada em Letras pelas Faculdades Porto Alegrenses de Educação Ciências e Letras, Especialista em Literatura Brasileira (PUCRS), Especialista em Leitura: teoria e prática ( FAPA), Mestre em Teoria da Literatura (PUCRS), doutoranda em Teoria da Literatura (PUCRS) sob a orientação de Luiz Antonio de Assis Brasil.
www.omundodeparker.blogspot.com; twitter.com/srtaparker


Fonte:
Artistas Gauchos

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