domingo, 1 de maio de 2011

Ialmar Pio Schneider (Uma Pequena Obra Prima)


Por esses dias, sem querer querendo, ao vasculhar certos livros depositados em prateleira de uma estante da minha desorganizada biblioteca, enxerguei um opúsculo que me chamou a atenção e despertou-me certa nostalgia de uma época distante já envolta na névoa do passado. Lembrei-me da ocasião em que li pela primeira vez o romance poético Iracema, de José de Alencar, lá pela década dos anos 50, quando cursava o antigo curso ginasial. Aquelas páginas que me embeveceram a juventude outrora e me suscitaram, conjuntamente com outras obras, o espírito para a poesia, estavam a merecer uma releitura, pois além do mais, recordar é viver. E neste intuito abri o livro e comecei a ler o início do sentimental poema em prosa do nosso romancista, considerado o maior expoente nacional no gênero indianista, cuja culminância se deu com o Guarani. Mas fiquemos com o citado Iracema, cujos versos assim principiam: “Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba; Verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda aos raios do Sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros; Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas”.

Percorro algumas linhas e surge o leitmotiv da história: “Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado”. Daí por diante sinto uma aura de poesia impregnando as páginas que se seguem, cantando o amor que une duas almas que se encontraram em meio às ínvias matas tropicais da exuberante natureza americana. E o estrangeiro Martim, o filho de guerreiro, é aceito por Araquém, o pai de Iracema, em cuja cabana fica hospedado. Tudo acontece de acordo com os ritos nativos da nação indígena, magistralmente engendrado pelo autor.

Escrevo estas breves considerações a respeito desta pequena obra-prima da literatura brasileira por devotar-lhe uma particular simpatia pelo que representa de romanesco e poético. O final melancólico ainda deixa uma certa impressão de amargura e saudade nas seguintes palavras:

“A jandaia cantava ainda no olho do coqueiro; mas não repetia já o mavioso nome de Iracema. Tudo passa sobre a terra”.
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Poeta e cronista
Publicado em 29 de novembro de 2000 - no Diário de Canoas.

Fonte:
Colaboração do Autor

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