sábado, 17 de dezembro de 2011

Decimar Biagini (Poesias Avulsas)


POÉTICA DIVAGANTE HODIERNA

Olhei para o canto inferior da tela
Naqueles dias de navegador intrépido
Lá estava o calendário da virtual janela
Mais um ano passando rápido

Na info-maré não se utiliza barco a vela
Nem cinzas ao mar, ou pomposa lápide
A poesia é uma utopia de “a vida é bela”
Mas será que temos aproveitado ela!

Que essência busca o poeta moderno?
Já não se morre de tuberculose
Sequer há rascunho ou algum caderno
Tampouco há tinteiro aqui perto
Aboliram o uso indiscriminado da celulose

Pouco a pouco o mundo inteiro ficará descoberto
Em um único clique de um curioso esperto
Enquanto alguns poetas morrem de overdose
E algumas coisas mudaram por certo
A velha semântica leva a mesma pitada de psicose!

LUZ PRÓPRIA

Todo pai
Vive uma tensão
Logo cai
A angústia do coração

Nem todo pai
Ama sua criação
E assim se vai
A grande contradição

Entre rimas de ai
Entre rimas de ão
O verso então sai
Sem deixar nenhuma lição

Cada filho traz consigo
Uma luz própria cintilante
Um anjo da guarda amigo
E Deus, as vezes distante
Mantém o filho esquecido
Como um enterrado diamante

Até que um belo dia
O mineiro amor, num instante
O ensina a brilhar com alegria
Eis a graça, o mistério triunfante!

NUMA PRAÇA

Por longos anos deixei de visitar aquele ambiente lúdico
Muitos enganos vivenciei ao me afastar, indiferente e pudico
Sim, eu tinha vergonha, de ir lá sem motivo algum
De não ter sequer uma semente para colocar no escorregador
Daí, veio a cegonha, e uma paternidade instintiva me trouxe um:
Filho, que inspira cuidado frequente, e exige brincadeira com amor.
Não vejo a hora de embalar os sonhos de Arthur num balanço
E percebo que agora, ao poetar ao lado desse abajur, não me canso:
De esperar que lá fora, possa caminhar com muita luz, em descanso,
numa praça.

PERCEPÇÕES

O carpete está sujo
O carpete estava sujo
Os pés estavam limpos
Mas os tênis tinham vincos

A lareira está suja
A lareira estava suja
Os deuses do Olimpo
Mantinham templos limpos

PAIXÕES ADORMECIDAS

Observo atentamente
Deus confirmando sua presença
Naquela energia latente
Ungida sobre a Musa e a criança

Sonho a cada dia
Com os olhos bem abertos
Eivado de alegria
Sem escolhos e dias incertos

A vida nos aproxima
Para entender a existência
E nada ela nos ensina
Se não buscarmos sua essência

Arthur está dormindo
A Musa esbanja excelência
Esse babão vai sorrindo
Com verso, rima e cadência

O TAL DE CHÁ DO BEBÊ

Então era Sábado, isso lá pelo meio dia
A Morena encomendava os salgados
A vovó do Arthur fazia o bolo e a torta fria
E eu pegava alguns produtos nos mercados

Entre uma lista de afazeres
Trocava a lâmpada que queimou na garantia
Filas, e alguns desprazeres
Fixava a tampa da caixa do vaso que se abria

Comprei uma pua de pedreiro
Uns parafusos, e cimento-cola
Então se foi todo meu dinheiro
Quando no semáforo dei esmola

Nisso joguei voley por uma hora
A Musa ficou brava, pois tinha de buscar a cunhada
E assim retornei, e vamos embora
E o tempo conspirava, contra a agenda alinhavada

DE noite, massagem na barriga, ninho do Arthur
A mão travava, o creme dava liga, e sem abajur
Eu me inclinava para apagar a tão esperada tomada

No domingo, tudo arrumado para o chá do bebê
Nunca vi tanta mulher falando no mesmo local
Parecia uma torre de Babel, não sei pra que
Me soquei no quarto, para assistir a dupla grenal

Numa que outra me chamavam para tirar foto
Depois que descobri como filmar foi um alívio
Então voltei para o quarto com salgados e um copo
Pois quando vi começou a esvaziar o comício
Um monte de fraldas descartáveis, ganhei na loto
No final, o último convidado disse: - é só o início

MAS TANTO FAZ, AFINAL VOCÊ ME LEU

Sabe que nunca vi um milionário
Tampouco conheci um José Rico
Sabe que nunca ouvi um canário
Tampouco o diferenciaria do tico-tico

Sabe que eu acho esse poema hilário
Falo coisas sem nenhum sentido
Sabe que lendo isso ao contrário
Eu calo por causa do meu improviso

8 MESES EM SEU VENTRE

Estou lhe escrevendo,
só para saber
o final do poema
A vida não é um conto de fada.

Mas não estou gostando.
Acalme-se para ver.
A leitura valerá a pena,
não pisque para não perder nada.

Bom, o último verso vem chegando.
Eu vim aqui para lhe dizer
o quanto amo você morena.
E o quão estou feliz em vê-la grávida!

TROPILHA DE RIMAS

Hoje me sinto
Despido da poesia
Por isso minto
Mais do que eu queria

A rima ainda se encontra
Lá no fundo de minh’alma
E o leitor se pergunta
Onde o poeta perdeu a calma?

Cansei de fazer poema
Mas a atividade lúdica me atrai
Pôr a rima no esquema
Ver como o improviso se sai!

Saudade, sim, dos amigos
Dos poetas parceiros
Dos leitores de meu umbigo
E dos inimigos traiçoeiros

Agora, que me despeço sem glória
Fazendo trilha com patas leves
Com tropilhas de rima na memória
Me sinto no fim dessa lúdica história
Um lobo sem matilha, com poemas em greve

Fonte:
http://www.novaordemdapoesia.com/search/label/Decimar%20Biagini

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