Por que escrevo?
"Em O pirotécnico eu digo que escrevo por maldições, porque não há outra maneira. Passei quatro anos na Espanha e disse que não ia escrever mais, porque já tinha escrito dois livros e decidi que ia ler, que era melhor. Mas resisti só três anos; no quarto comecei a escrever novamente. Não está em mim. Talvez no início eu procurasse a literatura, hoje eu verifico que fui mesmo levado e não havia outra maneira. Se nascesse novamente, não escaparia da maldição. Às vezes, fico bastante tempo sem escrever, mas continuo sempre com o pensamento voltado para a literatura, estou sempre pensando em novos contos ou voltando aos antigos e, mesmo que não esteja escrevendo, estou permanentemente ligado à criação. Da criação não consigo escapar".
Como escrevo?
"O conto nasce sem um acontecimento. Nos primeiros tempos, veio principalmente de leituras. Às vezes, a leitura de um escritor que me entusiasmou, certamente, daria material para outro trabalho meu. Às vezes, de maneira aparentemente espontânea, surgia um tema. Meu processo, depois do amadurecimento (quando eu era jovem, escrevia imediatamente um conto), foi um trabalho de reelaboração. Mais tarde, vinha a idéia, fazia as anotações, trabalhava um pouco, fazia um primeiro rascunho e deixava na gaveta. O meu livro O convidado foi escrito 26 anos antes de ser publicado. Se o tema resistia a uma segunda investida, eu continuava a trabalhar; se mesmo com uma segunda investida, o resultado não era bom, eu deixava dormir uns tempos e, depois, às vezes, eu ainda jogava fora. Não gosto de escrever a frio; as emoções do momento, geralmente, não são boas".
Fonte:
RICCIARDI, Giovanni. Auto-retratos. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
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