Nesse momento o Visconde gritou do alto da sua janela:
— Estou vendo outra poeirinha lá longe!...
— Deve ser a minha amiga Branca de Neve — disse a princesa Cinderela. — Branca mora perto de mim e quando passei por lá vi que sua carruagem já estava na porta do castelo.
E foi isso mesmo. Minutos depois ouviu-se um toc, toc, toc. O marquês abriu a porta e anunciou:
— A princesa Branca das Neves.
Narizinho danou outra vez.
— Branca de Neve, bobo! — corrigiu de passagem, indo receber a recém-chegada.
Introduziu-a, fez as apresentações e levou-a a sentar-se Junto de sua amiga Cinderela. Branca reconheceu imediatamente a famosa boneca, apesar de ser a primeira vez que a via.
— Eu trouxe um presentinho para você — disse tirando da bolsa um pacote. — É um espelho mágico que responde a todas as perguntas feitas. Tome.
Abriu o pacote amarrado com fita de ouro e deu-o a Emília. Que alegria! A boneca abraçou o espelho, beijou-o, bafejou nele e depois o limpou bem limpo com o seu lencinho de cambraia. Por fim não resistiu à tentação de fazer ali mesmo uma experiência.
— Diga-me, senhor espelho, qual a boneca que conta histórias mais bonitas?
— É a ilustre marquesa de Rabicó! — respondeu o espelho na sua voz mágica.
Emília suspirou. Embora nada dissesse, Narizinho percebeu que aquele suspiro era de tristeza de já ser casada e não poder portanto casar-se com o espelho.
Branca de Neve contou toda a história da sua vida, prometendo vir mais vezes ao sítio brincar com a menina e a boneca. Prometeu também trazer os anõezinhos que a haviam salvado das unhas da má madrasta.
— Onde vivem hoje aqueles sete anõezinhos ? – perguntou Emília.
— Vivem comigo no castelo. Tudo lá brilha que nem ouro, porque não pode haver no mundo criaturas mais trabalhadeiras.
— Oh! — exclamou a boneca — por que não dá um deles a tia Nastácia? A coitada vive se queixando de que está velha e precisada de quem a ajude na cozinha.
— Impossível! — respondeu Branca. — Eles são sete, e se sair um quebra á conta. A gente não deve mexer com o número sete, que é mágico.
Nesse ponto da conversa o Visconde gritou de novo do alto da sua janela:
— Estou vendo duas poeirinhas lá longe!...
— Duas? — repetiu Branca de Neve. — Com certeza é Rosa Vermelha e sua irmã Rosa Branca. Nunca andam sem ser juntas.
Eram elas, sim. Logo que a carruagem parou no terreiro, Rabicó, com toda a sua burrice, anunciou:
— As senhoras Pé de Rosa Branca e Pé de Rosa Vermelha!
Desta vez Narizinho deu-lhe um beliscão disfarçado, enquanto recebia as duas princesas. Rosa Branca disse logo ao entrar:
— A Bela Adormecida manda comunicar que não pode vir.
— Que pena! — exclamou Narizinho. — E por quê?
— Não sei. Suponho que está se preparando para espetar o dedo noutro espinho e dormir mais cem anos.
Emília imediatamente veio perguntar pelo urso que tinha virado príncipe e casado com Rosa Branca.
A princesa deu uma risada gostosa.
— Pois se o urso virou príncipe, como há de existir ainda?
— Sei disso — replicou Emília toda espevitada. — Mas pelo menos a pele há de existir. Eu queria tanto ver uma pele de urso que virou príncipe...
Depois contou que sabia a história das duas e que muito se indignara com as brutalidades do anão de barba comprida.
— Você querendo fazer-lhe o bem e o burro ai!... não me belisque, Narizinho! sempre com más-criações.
— Anões são gentinha perigosa — disse Rosa Vermelha. – Se uns comportam-se que nem anjos, como aqueles sete do castelo de Branca, outros são verdadeiras pestes. É muito perigoso lidar com essa gentinha.
–––––––
Continua... Cara de Coruja– IV – O Pequeno Polegar
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa
— Estou vendo outra poeirinha lá longe!...
— Deve ser a minha amiga Branca de Neve — disse a princesa Cinderela. — Branca mora perto de mim e quando passei por lá vi que sua carruagem já estava na porta do castelo.
E foi isso mesmo. Minutos depois ouviu-se um toc, toc, toc. O marquês abriu a porta e anunciou:
— A princesa Branca das Neves.
Narizinho danou outra vez.
— Branca de Neve, bobo! — corrigiu de passagem, indo receber a recém-chegada.
Introduziu-a, fez as apresentações e levou-a a sentar-se Junto de sua amiga Cinderela. Branca reconheceu imediatamente a famosa boneca, apesar de ser a primeira vez que a via.
— Eu trouxe um presentinho para você — disse tirando da bolsa um pacote. — É um espelho mágico que responde a todas as perguntas feitas. Tome.
Abriu o pacote amarrado com fita de ouro e deu-o a Emília. Que alegria! A boneca abraçou o espelho, beijou-o, bafejou nele e depois o limpou bem limpo com o seu lencinho de cambraia. Por fim não resistiu à tentação de fazer ali mesmo uma experiência.
— Diga-me, senhor espelho, qual a boneca que conta histórias mais bonitas?
— É a ilustre marquesa de Rabicó! — respondeu o espelho na sua voz mágica.
Emília suspirou. Embora nada dissesse, Narizinho percebeu que aquele suspiro era de tristeza de já ser casada e não poder portanto casar-se com o espelho.
Branca de Neve contou toda a história da sua vida, prometendo vir mais vezes ao sítio brincar com a menina e a boneca. Prometeu também trazer os anõezinhos que a haviam salvado das unhas da má madrasta.
— Onde vivem hoje aqueles sete anõezinhos ? – perguntou Emília.
— Vivem comigo no castelo. Tudo lá brilha que nem ouro, porque não pode haver no mundo criaturas mais trabalhadeiras.
— Oh! — exclamou a boneca — por que não dá um deles a tia Nastácia? A coitada vive se queixando de que está velha e precisada de quem a ajude na cozinha.
— Impossível! — respondeu Branca. — Eles são sete, e se sair um quebra á conta. A gente não deve mexer com o número sete, que é mágico.
Nesse ponto da conversa o Visconde gritou de novo do alto da sua janela:
— Estou vendo duas poeirinhas lá longe!...
— Duas? — repetiu Branca de Neve. — Com certeza é Rosa Vermelha e sua irmã Rosa Branca. Nunca andam sem ser juntas.
Eram elas, sim. Logo que a carruagem parou no terreiro, Rabicó, com toda a sua burrice, anunciou:
— As senhoras Pé de Rosa Branca e Pé de Rosa Vermelha!
Desta vez Narizinho deu-lhe um beliscão disfarçado, enquanto recebia as duas princesas. Rosa Branca disse logo ao entrar:
— A Bela Adormecida manda comunicar que não pode vir.
— Que pena! — exclamou Narizinho. — E por quê?
— Não sei. Suponho que está se preparando para espetar o dedo noutro espinho e dormir mais cem anos.
Emília imediatamente veio perguntar pelo urso que tinha virado príncipe e casado com Rosa Branca.
A princesa deu uma risada gostosa.
— Pois se o urso virou príncipe, como há de existir ainda?
— Sei disso — replicou Emília toda espevitada. — Mas pelo menos a pele há de existir. Eu queria tanto ver uma pele de urso que virou príncipe...
Depois contou que sabia a história das duas e que muito se indignara com as brutalidades do anão de barba comprida.
— Você querendo fazer-lhe o bem e o burro ai!... não me belisque, Narizinho! sempre com más-criações.
— Anões são gentinha perigosa — disse Rosa Vermelha. – Se uns comportam-se que nem anjos, como aqueles sete do castelo de Branca, outros são verdadeiras pestes. É muito perigoso lidar com essa gentinha.
–––––––
Continua... Cara de Coruja– IV – O Pequeno Polegar
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa
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