Certa manhã, Nica zangou-se com Mica e Tica. Estas três rolas bravias não se davam muito bem.
Nica afastou-se para um canto e ali ficou de olhos cerrados. Zangada, nem queria fixar as irmãs. E detestava a natureza inteira: os arvoredos, a lua, o sol, as estrelas, as nuvens, os caminhos, as fontes, - tudo, tudo a aborrecia ou enervava, dizia.
Nisto, um passarinho amarelo pôs-se a cantar empoleirado num galho de marmeleiro...
- Tu não vês aquele pássaro, Mica, a fazer troça de ti?
- Não pode ser, disse a Mica; a esta hora, os passarinhos têm mais em que pensar.
Nica, então, distraiu-se, passeou, compôs o ninho, e quando nas águas de um charco molhou o bico e lavou as penas do peito, o mesmo passarinho amarelo ainda gorjeava alegremente.
- Que passarinho tão amável!, exclamou ela. A cantar e a chamar-me linda! Não é o mesmo que à pouco se pôs a troçar de mim, certamente.
- É o mesmo, responde Tica; e diz o que à pouco dizia. Tu é que não és a mesma.
Fonte:
Os Contos de Antonio Botto. RJ: Livraria Bertrand.
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