Depois que Narizinho e as princesas se enjoaram de ver
aquela maravilha, resolveram dançar. A boneca imediatamente saiu para arranjar
pares. Foi ao terreiro e trouxe de lá o príncipe Ahmed, o príncipe Codadad e
outros. Narizinho agarrou Codadad antes que alguma princesa o fizesse, e saiu
dançando com ele como se fosse uma princesa oriental. Branca de Neve dançou com
o príncipe Ahmed. Rosa Vermelha foi tirada por Ali Babá, e Rosa Branca, pelo
Gato de Botas. Só Cinderela não dançou para não estragar os seus sapatinhos de
camurça. Nisto o Visconde, que ainda estava à janela, gritou:
— Estou vendo uma poeirinha lá longe... Todos pararam
de dançar, murmurando: “Quem poderá ser?” Logo depois duma batidinha na porta,
Rabicó introduziu a menina da Capinha Vermelha.
— Capinha! — exclamaram todas alegríssimas, porque
todas queriam muito bem a essa gentil criança. Viva Capinha!...
A menina entrou, muito corada por ter vindo a pé, e
disse:
— Boa tarde para todos os presentes, ausentes e
parentes !
Em seguida deu um beijo em Narizinho e outro na
boneca.
— Antes de mais nada — foi dizendo Emília — quero
saber o seu verdadeiro nome, porque uns dizem Capinha Vermelha e outros,
Capuzinho Vermelho. Qual é o certo?
— Meu verdadeiro nome é Capinha Vermelha, porque
depois que vovó me fez esta capinha todos que me viam ir para a casa dela
diziam: “Lá vai indo a menina da capinha vermelha!” Mas, como vocês podem ver,
esta capinha tem um capuz, que eu às vezes uso. De modo que tanto podem
chamar-me Capinha, como Capuzinho, ou mesmo Chapeuzinho Vermelho.
— Coitada de sua avó! — exclamou Emília. — Você não
imagina como ficamos tristes com o que lhe aconteceu! Diga-me: sua avó era
muito magra?
Capinha estranhou a pergunta — mas respondeu que sim.
— Muito magra ou meio magra?
— Bem magra.
— Então não entendo aquele lobo — disse Emília –
porque uma velha muito magra não é alimento. Só osso...
Todos riram-se da boneca, e Narizinho explicou que
Emília, coitada, era asnática de nascença. Nisto o relógio bateu cinco horas.
— As senhoras princesas e os senhores príncipes –
disse Narizinho — estão convidados para um café. E voltando-se para a cozinha:
— Tia Nastácia! Traga um café bem gostoso para estes
ilustres amigos.
Quando tia Nastácia entrou na sala com a bandeja de
café, seus olhos se arregalaram de espanto.
— Credo! — exclamou. — Não sei onde Narizinho descobre
tanta gente importante e tanta princesa tão linda! A sala está que até parece
um céu aberto...
— Quem é ela? — perguntou Branca de Neve ao ouvido da
boneca enquanto a negra servia o café.
— Pois não sabe? — respondeu Emília com carinha
malandra.
— Nastácia é uma princesa núbia que certa fada virou
em cozinheira. Quando aparecer um certo anel, que está na barriga dum certo
peixe, virara princesa outra vez. Quem vai danar com isso é dona Benta, que
nunca achará melhor cozinheira.
Quando tia Nastácia veio servir Narizinho, a menina
notou qualquer coisa enganchada em sua saia.
— Que é isso, Nastácia? Tem jeito de uma
coroinha.
A negra abaixou-se.
— Credo! — exclamou. — Até parece feitiço.
Uma coroinha de rei, sim... É que fui ao quintal buscar um pau de lenha e quase
nem pude andar de tanto rei e fada e princesa que vi por lá. Com certeza
esbarrei nalgum reizinho e a coroa enganchou na minha saia. Mas não foi por
querer, não. Credo!...
— Estou conhecendo essa coroa! — exclamou
Rosa Vermelha.
— É do meu sogro, o poderoso rei
que mora atrás do meu castelo. Com certeza viu passar o bando da Xerazade e
correu atrás e na carreira deixou cair a coroa.
E guardou-a no bolso para restituí-la ao
seu dono. Todos tomaram café, menos Cinderela.
— Só tomo leite — explicou a linda
princesa. — Tenho medo de que o café me deixe morena.
— Faz muito bem — disse Emília. — Foi de
tanto tomar café que tia Nastácia ficou preta assim...
–––––––
Continua... Cara de Coruja– VIII – A Varinha de condão
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio
do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa
Nenhum comentário:
Postar um comentário