quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Artur da Távola (A Crônica e seu Vasto Mundo)


A crônica, como a provar a inexistência de limites para a sua classificação, envereda com amplitude e liberdade pelo terreno da descrição, da narração, da reflexão ou do episódio cotidiano. Essa modalidade jornalístico-literária ou lítero-jornalística, que fez a glória de Baudelaire a Álvaro Moreyra e Rubem Braga, é uma forma contemporânea de filosofar através do devaneio, (essa instância deliciosa e sonsa) do qual a crônica se aproveita para ser profunda a fingir que é irrelevante...

Abandona os grandes assuntos e aprofunda a relação do artista escritor com os fatos de aparência corriqueira, descobrindo-lhes a graça, a poesia, o inusitado, o valoroso. A analogia, aqui, pode ser feita com o movimento impressionista na pintura quando desobrigou-se dos temas grandiosos para fixar-se em flagrantes expressivos da densidade poética assumida pela relação entre a luz, os objetos e as pessoas, segundo o acaso. Para tal concepção não importa propriamente a vista mas a visão do artista.

Sua narrativa torna-se, por isso mesmo, próxima a desenvolvimentos relacionados com a prosa poética, o texto curto, a poesia em prosa, a crônica pura e simples, o pequeno conto ou a narrativa fatual despretensiosa. Em suma, modalidades várias, um não limite. A crônica não é crônica: é aguda...

Literatura jornalística ou jornalismo literário, é gênero de difícil classificação mas real e presente tanto na história da literatura quanto na da imprensa. Não tem prestígio: tem leitores.

A dificuldade de sua elaboração está na razão inversa da facilidade de sua leitura. Daí a sutileza de seu império: ser serva. Servir. Vir a ser. Vir. Ver. Virver.

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