domingo, 14 de abril de 2019

Professor Garcia (Trovas que sonhei cantar) 1

Nota: 
Estas trovas do Professor Garcia estão sendo reeditadas em virtude de que algumas tiveram erros na digitação em alguns de seus versos. Os olhos cansados e teimosos já estão me traindo. 
Grato pela compreensão.
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A fé, que a beata carrega,
é tão repleta de luz...
Que crer, que em tudo que pega,
existe um sinal da Cruz!

À tarde, eu vejo chorando,
sozinha, à beira do cais...
Uma saudade acenando
aos que não voltam jamais.

Crê na força de teus braços;
que o destino, por vingança...
Põe atropelos nos passos
de quem não tem confiança!

Eu guardo como se fosse
um dos sentimentos meus...
O amargor de um beijo doce
que roubei dos lábios teus!

Eu sou menestrel das rimas,
dos versos, velho aprendiz...
E o som, dos bordões, das primas,
é que me faz ser feliz!

Foram-se as lindas auroras
da estação mais colorida!...
E, agora o outono das horas
martela as horas da vida!

Mastro erguido, vela a prumo,
dois sentimentos iguais:
Segue a jangada sem rumo
e eu, no rumo de outro cais!

No entardecer sempre existe,
aos sopros do sol se por...
Uma cor rubra mais triste,
na ausência de um grande amor!

O outono, sem dar sinais,
aos poucos, contando os passos...
Achando pouco os meus ais,
põe mais cravos nos meus braços!

O tempo, assim, como a gente,
chega, passa, vai embora.
Saudade, eterna vertente
da eterna dor de quem chora!

O velho abade, sem sono,
reza na antiga abadia
a eterna prece de outono,
no altar da melancolia!

Reparte filho, este pão,
que te dei desde criança!...
Quem planta o amor, colhe o grão
dos bons trigais da esperança!

Se a planta mesmo ferida,
sorrindo oferta uma flor...
Nas cinzas negras da vida,
que lindo exemplo de amor!

Se essa dor te desconsola,
e a mágoa, ainda te afeta;
perdoa!... Que a dor se evola
do coração do poeta!

Se esse andarilho, entre os sábios,
é o vento que te levou...
Foi quem roubou de teus lábios
o mel de quem te beijou!

Se há flores mais preciosas
entre os jardins dos rosais...
Não há disputa entre as rosas;
sentem-se todas iguais!

Se o suor justo é tão nobre
no rosto de quem trabalha...
Não troco o suor do pobre
pelos milhões de um canalha!

Se o tempo, ingrato, me afronta,
culpo a ingrata insensatez
do espelho, que mostra a conta
das rugas que o tempo fez!

Sozinho à beira da estrada,
um rancho de palha!... Um rancho!...
E uma saudade sentada
pendurada em cada gancho!

Velho tempo, ah! Quem me dera,
sentir de novo a virtude
dos sonhos da primavera
no verdor da juventude!

Fonte:
Professor Garcia. Trovas que sonhei cantar vol.2. Caicó/RN: Edição do autor, 2018. 
[livro gentilmente enviado pelo autor]

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