segunda-feira, 8 de abril de 2019

Monteiro Lobato (As Duas Cachorras)


Moravam no mesmo bairro. Uma era boa e caridosa; outra, má e ingrata.

A boa, como fosse diligente, tinha a casa bem arranjadinha; a má, como fosse vagabunda, vivia ao léu, sem eira nem beira.

Certa vez… a má, em véspera de dar cria, foi pedir agasalho à boa:

- Fico aqui num cantinho até que meus filhotes possam sair comigo. É por eles que peço…

A boa cedeu-lhe a casa inteira, generosamente.

Nasceu a ninhada, e os cachorrinhos já estavam de olhos abertos quando a dona da casa voltou.

- Podes entregar-me a casa agora?

A má pôs-se a choramingar.

- Ainda não, generosa amiga. Como posso viver na rua com filhinhos tão novos? Conceda-me um novo prazo.

A boa concedeu mais quinze dias, ao termo dos quais voltou.

- Vai sair agora?

- Paciência, minha velha, preciso de mais um mês.

A boa concedeu mais quinze dias; e ao terminar o último prazo voltou. Mas desta vez a intrusa, rodeada dos filhos já crescidos, robustos e de dentes arreganhados, recebeu-a com insolência:

- Quer a casa? Pois venha tomá-la, se é capaz…

 Moral da Estória:  Para os maus, pau!

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