segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Wanda de Paula Mourthé (Canteiro de Trovas) – 6 -


A inspiração, inconstante,
tem caprichos de mulher:
chega, às vezes, inebriante
e outras, nem chega sequer!
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A noite — orquestrando o encanto
dos sons difusos que encerra —
entoa suave acalanto
que embala o sono da Terra.
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A realidade transponho
e vivo em mundo ideal...
Quero as mentiras do sonho,
não as da vida real!
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Bem maior da humanidade,
que o tempo só consolida,
o direito à liberdade
é o direito à própria vida!
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Diante do irmão indefeso,
não fique de mãos atadas,
que a indiferença e o desprezo
andam sempre de mãos dadas.
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É mais humano e eficaz
sanar conflitos na Terra
só pela força da paz,
não pela força da guerra!
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Em desvelos, me desfaço
se vejo que vais partir:
para alongar teu abraço,
não tenho mãos a medir.
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Guardo, ainda, vivo o encanto,
bem no fundo do meu peito,
daquele momento santo
em que você disse: — Aceito!
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"Homem não chora". Pois sim!
Frase vã... só é sonora.
Homem forte, para mim,
suporta os trancos... mas chora!
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Mesmo se o orgulho disfarça,
a seu encanto sou preso,
e a indiferença é uma farsa
de revide a seu desprezo!
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Minha alma se desaponta:
nem breve mensagem veio,
mas meu amor faz de conta
que a culpa é só do correio.
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Minha insensata paixão
passou — transpondo barreiras —
das fronteiras da ilusão
para a ilusão sem fronteiras...
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Nas montanhas, vivo ao léu,
com o amor de que preciso;
nem estou perto do céu,
mas no próprio paraíso!
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No inverno da minha vida,
sou gaivota em migração,
buscando ainda guarida
no calor de um coração.
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O encanto do teu sorriso,
em instante de emoção,
sem licença e de improviso,
confiscou meu coração!
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Olho a rua... a noite avança,
tudo adormece ao luar...
Dorme até minha esperança,
pois cansou de te esperar!
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Partiu... nem disse o motivo,
e eu, da saudade à mercê,
estou vivo, mas não vivo,
pois não vivo sem você.
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Quando o homem será capaz
de unir-se em fraternos laços,
lançando a pomba da paz
e não mísseis nos espaços?
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Seja o exemplo a diretriz
que os pais aos filhos garanta:
quanto mais funda a raiz
tanto mais se alteia a plantai
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Sem liberdade de escolha,
os excluídos da vida,
não tendo quem os acolha,
aos vícios dão acolhida.
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Sem temor, meu barco avança,
seja qual for a maré,
pois, no mastro da esperança,
iço a bandeira da fé.
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Singre os mares da cultura
em viagem de prazer!
Pela nave da leitura,
chegue ao porto do saber.
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Tanto me atrai teu encanto
que meu enlevo é sem fim...
Se nada falo, no entanto,
fala o silêncio por mim!
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Tento, com minhas façanhas,
ultrapassar os meus males:
eu me espelho nas montanhas
que superam sempre os vales.
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Tens tal feitiço no olhar
que, em nosso adeus, por encanto,
foram gotas de luar
que escorreram do teu pranto!
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Fonte> Wanda de Paula Mourthé. Com…passos de emoções. Belo Horizonte: Flux, 2013. 
Enviado pela Trovadora.

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