quinta-feira, 5 de junho de 2008

Salvino Pires (“As Quatro Estações”, Novo Livro de Poemas)

por Silas Correa Leite

“Lá vem o Poeta
Salvino Pires
Servindo, ourives
Seus poemas em pratos límpidos


Foi assim que entrei verdadeiramente no verbo ler, o novo livro “Quatro Estações” do mineiro Salvino Pires Sobrinho, Alvo Artes Gráficas Editora (salvino@jorlan.com) Floresta, Belo Horizonte/Minas Gerais, recentemente lançado. Salvino Pires tem poesia na alma? Decerto que é assim porque ele está melhor do que nunca, aperfeiçoando sempre o oficio de bem poetar. De seu primeiro trabalho, Perfumes, a Quatro Estações agora, ele continua tocando o seu belo rebanho de poemas, nas margens despertas da vida que recolhe em seus alheamentos e desenredos, em seu entorno e derredor que capta com olhares alados, feito uma espécie assim de ourives – ou melhor dizendo, encantador de versos alumbrados, alguns até mesmo sinceramente proverbiais. Harmonia e autenticidade. Páginas da mente humana em sintonia com a vida arrebentando viço, poemas dela tirados entre o sub e o sobre; poemas de se ler com ternura. Na poesia Salvino Pires percorre caminhos, percorre olhares, percorre reinações, conta pra gente o seu enfoque límpido de ourives, registra o enlivramento. Emily Dickinson disse: “Não há melhor fragata do que um livro para nos levar a terras distantes”. Salvino Pires recolhe a sua terra para a sua alma cristalina, ventila (na serpentina das idéias) para a poesia, depois, resgatando tudo e dando lírica formosa a tudo, bravamente lança Quatro Estações.

“Construtor de Poemas, Conflitos Quase Andaimes, Afloramento Confessional, Apuro Severo com a Linguagem, Exploração de Sentimentos”, todos os críticos têm um lógico pensar a respeito dele enquanto engenheiro erguedor de versos; opiniões verdadeiras e perenes, porque ele é mesmo um poeta de quilate, um especial olhar sempre atento a tirar closes de simplismos e passagens, mão apurada assim no traquejo, escrevendo gostosamente bem seus quitutes de percursos. Depois de Quatro Estações, por certo, outras desnaturezas virão no mesmo confessionário de sua alma avelã, apanhadora, de sua ótica sensível para recolhes de fragmentos de acontecências simples que bem retrata no lírico, entre pertencimentos, reflexões, purezas e tantas outras coisas mais às quais dá envergadura literária entre o sub e o sobre. A vida não pára? Pois Salvino Pires faz os recolhes para louvações dela.

Reflexões em pensagens, sim. Letras de canção. Estados de espíritos. Pontos de fuga? Imagens e humor. Andaimes poéticos. Pedaços de frutas. Salvino Pires, engenheiro de sustento e ofício, é mineiro por ancestralidade, é poeta por dom e qualidade sensorial e, Quatro Estações, seu novo livro muito bem editado e com bela capa de excelente projeto gráfico, tem verão, primavera e inverno no contexto todo, e, claro, também outonais, catanças até de meias estações. Quer ver/ler só?:

Reflexões de Vôo (in, pg 27):

amarrado na poltrona
voando no céu profundo

há tanto espaço lá fora
e eu trancado no muro

Ou ainda: Poética I (Pg. 33)

para quem faz poesia
dor de poeta
não tem importância

desde que verseje bonito
e sofra com elegância

Em Quatro Estações Salvino Pires faz-se competente apanhador de mil lágrimas, de utilezas e pensadilhos, numa significação de seu estado reflexivo depurado e fino, a poetar, e então se prestar lastrador entre prós e contras num livro que denota o galeio de palavras, com poemas de excelente nível, ele mesmo, por certo, pelo que o seu versejar demonstra “gente mais maior de grande” como cantou Gonzaguinha na mpb. Quatro Estações é sim um caleidoscópio de pensar a arte poética enquanto também ser humano crítico, inteligente, alerta, sentidor, portanto. Ele reforça o que muito bem também cantou a Poetisa Elisa Barreto, recentemente falecida:

“A vida é sonho, é gaze, é véu, fumaça
Que a eternidade, com seus dedos finos
Tece na rotativa do universo
...”
(-In, A Poesia Brasileira de Elisa Barreto, Documentário, Paulino Rolim de Moura, Edição do Autor, 2006)

Aliás, inspirado por ele e, até mesmo parafraseando-o no poema Conflito (in, pg. 24) quando diz “Existe em mim/Um conflito que me espanta/A cigarra trabalha/A formiga canta”, de presto destilei minha troca de poema na mesma temática, continuando o seu trovar:

Paradoxo
Para Salvino Pires

Um paradoxo me atrapalha
E, conflitante se agiganta:

Infeliz a formiga trabalha
Tão contente a cigarra canta?

(Talvez a tal felicidade santa
Só o prazer de viver a vida em viço valha)

Quatro Estações de Salvino Pires é isso mesmo: extremamente inspirador. Será que o adulto Poeta Salvino Pires escreve para voltar a ser criança, e, muito mais que sê-la, exercitá-la? Sim, meus camaradas, talvez nessa nossa insana vida socializada haja muita lama, o pântano dói nos olhos sensíveis, mas, ainda assim e por isso mesmo – resistir é preciso? - alguns poetas por excelência ainda sabem ver estrelas em todas as estações.

Fonte:
http://www.secrel.com.br/jpoesia/

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