segunda-feira, 4 de maio de 2009

Noel Rosa (Poeta da Vila)



Fita Amarela

Quero que o sol
Não invada o meu caixão
Para a minha pobre alma
Não morrer de insolação

Quando eu morrer,
Não quero choro nem vela,
Quero uma fita amarela
Gravada com o nome dela.

Se existe alma
Se há outra encarnação
Eu queria que a mulata
Sapateasse no meu caixão

Não quero flores
Nem coroa com espinho
Só quero choro de flauta
Violão e cavaquinho

Estou contente,
Consolado por saber
Que as morenas tão formosas
A terra um dia vai comer.

Não tenho herdeiros
Não possuo um só vintém
Eu vivi devendo a todos
Mas não paguei a ninguém

Meus inimigos
Que hoje falam mal de mim,
Vão dizer que nunca viram
Uma pessoa tão boa assim.
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Pastorinhas

A estrela d'alva no céu desponta
E a lua anda tonta com tamanho esplendor
E as pastorinhas pra consolo da lua
Vão cantando na rua lindos versos de amor

Linda pastora morena da cor de madalena
Tu não tens pena de mim
Que vivo tonto com o teu olhar
Linda criança tu não me sais da lembrança
Meu coração não se cansa
De sempre sempre te amar
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Até Amanhã

Até amanhã se Deus quiser
Se não chover, eu volto pra te ver, ó mulher
De ti gosto mais que outra qualquer
Não vou por gosto, o destino é quem quer

Adeus é pra quem deixa a vida
É sempre na certa que eu jogo
Três palavras vou gritar por despedida
Até amanhã, até já, até logo

O mundo é um samba em que eu danço
Sem nunca sair do meu trilho
Vou cantando o teu nome sem descanso
Pois do meu samba tu és o estribilho

Eu sei me livrar do perigo
Num golpe de azar eu não jogo
É por isso que risonho eu te digo
Até amanhã, até já, até logo
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Menina dos Meus Olhos

Menina dos olhos castanhos,
Que reside lá na serra,
Bem juntinho de deus...
Tu és a menina dos meus olhos,
Estou cego de saudade
Pelos olhos seus.

A serra não precisa de luar,
É iluminada pela luz do teu olhar,
Até o próprio sol resolveu não brilhar
Pra não perder (pra quem?) pro teu olhar!

Teus olhos abusaram do clarão
Parecem fogos dominando a multidão
Um rasgo de luz teu olhar produziu
Foi o olhar (de quem?) do meu brasil
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Chuva de Vento

Chuva de vento
É quando o vento dá na chuva
Sol com chuva,
Céu cinzento
Casamento de viúva

Zeca Secura
Da fazendo do Anzol
Quando chove não vê sol
Vai comprar feijão no centro
Bebe dez litros
De cachaça em meia hora
Pra agüentá chuva por fora
Tem que se molhar por dentro

Vento danado
É aquele lá de Minas
Sopra em cima das meninas
Diverte a população
Até os velhos
Vão correndo pras janelas
Pra ver se alguma delas
Já usa combinação

Faz sol com chuva
Tem viúva lá da Penha
Não há viúva que tenha
Tantos pretendente junto
Nessa corrida
Da viúva de seu Mário
Quem for vencedor do páreo
Ganha resto de defunto

Quem nunca viu
Chuva de vento à fantasia
Vá em Caxambu de dia
Domingo de carnaval
Chuva de vento
Só essa de Caxambu
Domingo chove chuchu
E venta água mineral

Um Zé Pau d'Água
Tem um amigo parasita
Não trabalha e sempre grita:
Viva Deus e chova arroz!
Gritando assim
Do seu povo ele se vinga:
Viva Deus e chova pinga
Que o arroz nasce depois.
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Estrela da Manhã

A estrela da manhã
Quando brilha na amplidão
Faz lembrar uma saudade
Que guardei no coração

Quando à noite olho as estrelas
A brilhar no firmamento
Fica distraída ao vê-las
Esquecendo o meu tormento

E dos amores que tive
A gozar a mocidade
Só um no meu peito vive
Sob a forma de saudade
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Feitio De Oração

Quem acha
Vive se perdendo

Por isso agora vou me defendendo
Da dor tão cruel dessa saudade
Que por infelicidade
Meu pobre peito invade

Por isso agora
Lá na Penha vou mandar
Minha morena pra cantar
Com satisfação

E com harmonia
Esta triste melodia
Que é meu samba
Em feitio de oração

Batuque é um privilégio
Ninguém aprende samba no colégio
Cantar é chorar de alegria
É sorrir de nostalgia
Dentro da melodia

Por isso agora
Lá na Penha vou mandar
Minha morena pra cantar
Com maior satisfação

E com harmonia
Esta triste melodia
Que é meu samba
Em feitio de oração

O samba na realidade
Não vem do morro nem lá da cidade
E quem suportar uma paixão
Sentirá que o samba então
Nasce no coração
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Pedacinhos do Céu

sei que me amas com grande fervor,
há em teus lábios mil frazes de amor
entretanto,eu preciso houvir a voz da razão
para saber se direi sim ou não.

és para mim um formoso troféu,
vejo em ti pedacinhos do céu
porém preciso refletir mais um porquinho
para não desiludir ao meu dorido coração,
que ainda sente a emoção
de uma ingratidão

afinal,com amor,com fervor e muito apreço,
eu agradeço
a grandeza,a beleza e a riqueza do troféu,
julgo-me feliz,pois sempre quis
e tudo fiz,para exaltar um grandioso amor
e incluir neste chorinho,
entre beijos e carinhos,
pedacinhos lá do céu

és para mim um formoso troféu,
vejo em ti pedacinhos do céu,
porém preciso refletir mais um porquinho
para não desiludir ao meu dorido coração,
que ainda sente a emoção
de uma ingratidão

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