terça-feira, 5 de abril de 2011

O Senhor dos Anéis: Mitos e Realidades


"Se não é alegoria, então seus trabalhos são recheados com personagens e fatos paralelos a este mundo". A complexidade da trama de causa e efeito que Tolkien tece, as interações de motivos e vontades, natural ou sobrenatural são extraordinários, e sem contar o lado fantasioso é profundamente realístico ". Em O Senhor dos Anéis, eu estive pesquisando as similaridades entre os eventos acontecidos na história, religião e em outros trabalhos de Tolkien. A trilogia "O Senhor dos Anéis" é baseada em fatos históricos, religiosos, e em pessoas e outros trabalhos pessoas do autor.

Na trilogia do anel, J.R.R. Tolkien tem uma guerra entre o Oeste e o Leste. Em ambas as Guerras Mundiais esse foi o caso. Alemanha ou Prússia foram os poderes do Leste e América e a pátria de Tolkien, Inglaterra, foram o Oeste. Muitas pessoas comparam a guerra no Senhor dos Anéis à Primeira Guerra Mundial. Como C.S. Lewis diz em "Tolkien e os Críticos":

Essa guerra tem aquela qualidade de guerra que minha geração conheceu. Tem tudo lá: o interminável, o movimento sem sentido, o silêncio sinistro do front quando enfim tudo está pronto. Os civis fugindo, as grandes e vívidas amizades, o pano de fundo de algo como desespero e a frente uma disfarçada alegria e um pouco de tabaco a mando divino salvo das ruínas... ".

Tolkien foi ele próprio afetado pela Primeira Guerra Mundial. Ele serviu num regimento "country regiment" na guerra, com 23 anos na época, e como toda a sua geração de ingleses, jovens leões sob o mando do burro, foram para o abatedouro... Tolkien serviu no papel de soldado de infantaria nos Fuzileiros de Landcashire, um dos bons regimentos, "good country regiments" que inevitavelmente sofreu grandes perdas, diz William Ready em "A relação Tolkien: um inquérito pessoal, The Tolkien Relation: a Personal Inquiry". De fato, alguns críticos afirmam que Mordor é uma imagem das linhas de frente da Primeira Guerra Mundial pela visão de J.R.R. Tolkien. Como diz Manlove em "Fantasia Moderna: cinco estudos Modern Fantasy: Five Studies".

Quando os hobbits adentravam mais em Mordor, já passado o escabroso acampamento militar dos orcs e através das planícies de Gorgoroth "cheias de crateras, como se, quando ainda era apenas um deserto de lama mole, foi crivado com uma chuva de pedras", rastejando de cratera em cratera, nós começamos a perceber o que pode haver atrás do poder com a qual esta paisagem foi apresentada. A própria experiência de Tolkien da destruição gradual da vida e saúde como que se aproximando do Front Oeste na guerra de 1914-18, e o deserto de trincheiras que marcavam o fim daquela jornada; e da intensidade deste relato pode-se perceber que este tipo de paisagem deixou marcas mais profundas que qualquer outra. Alguns críticos dizem que a Guerra teve um papel fundamental na sua carreira como escritor. Seu serviço na infantaria e o fim da guerra faziam parte de uma única força que o uniu consigo mesmo e iria levá-lo ao destino que ele queria e que o surpreendeu na fama que veio mais tarde. Uma outra grande referência de sua vida pessoal veio de sua experiência de guerra nas trincheiras em Somme. Seus relatos detalhados das preparações para a guerra, a estratégia, o ritmo diário que faz parte do tempo de guerra, são muito fiéis e precisos, como se esperaria de um antigo soldado. É mencionado que ele chegou mesmo a usar um almanaque para calcular até aonde soldados a pé poderiam se mover dado um certo período.

Tolkien foi afetado pela guerra e pode até ter usado seus escritos para escapar da dor sofrida durante e depois da guerra, como diz Ready em "The Tolkien Relation: A Personal Inquiry". Por tudo isso a guerra jogou uma sombra sobre Tolkien; ele era um fuzileiro, e é preciso estar pessoalmente sob a sombra da guerra para sentir sua opressão... lá por 1918, todos os seus amigos, com a exceção de um, estavam mortos" (148). Finalmente Tolkien afirma que um conto de fadas, pelo uso da fantasia, fornece um meio de escape e consolo...".

No Senhor dos Anéis, os personagens de Tolkien percebem a guerra contra Sauron da mesma maneira que os povos europeus faziam depois da Primeira Guerra Mundial. "O público em geral via a Primeira Guerra Mundial como a guerra para acabar com todas as guerras, assim pensavam os sobreviventes da Guerra do Anel. Entretanto, Gandalf avisa que enquanto houver o mal, sempre haverá a guerra. Se for banido de alguma forma, aparecerá de outra".

No Senhor dos Anéis, uma conversa entre Gandalf e Denethor parece ter saído diretamente de uma das Guerras Mundiais. Como Kocher repete em "A ficção de J.R.R. Tolkien: O mestre da Terra-média, The Fiction of J.R.R. Tolkien: Master of Middle-earth": A resposta de Gandalf a Denethor afirmando que ele também é um regente, aceita a possibilidade que Sauron conquistará o Oeste… a manhã virá e o bem florescerá por mais completa que a destruição causada pelo mal pareça".

Alguns compararam o Anel com a bomba de hidrogênio e Mordor com a Rússia, como C.S. Lewis diz em "Tolkien and the Critics", e Fuller diz em "Tolkien and the Critics": Uma analogia natural aparece entre a bomba de hidrogênio e o Anel do Poder que por sua natureza não poderia ser usada para conseguir nada de bom". Na Segunda Guerra Mundial, Hitler experimentou uma grande variedade de experimentos genéticos para melhorar a raça ariana, e foi relativamente bem sucedido nas suas tentativas. No Senhor dos Anéis, Saruman também trabalha com genética... ele produz um novo tipo de orc que é melhor lutador e se adapta ao sol melhor que os orcs normais, e são maiores. Em "The Fiction of J.R.R. Tolkien: Master of Middle-earth", Kocher diz "Saruman está continuando estas experiências e produzindo uma nova variação (não uma nova espécie) de orcs da Mão Branca, maiores e melhores guerreiros…".

Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial, empregou centenas de espiões. Seu serviço era coletar informação relacionada à guerra. No Senhor dos Anéis, Sauron emprega uma rede vasta de agentes inimigos que estão comprometidos em achar o Um Anel. Como Fuller diz em "Tolkien and the Critics": com tantas desvantagens, contra um adversário tão formidável, um fator significante provê um elemento de esperança na desagradável rede de agentes do Sauron que estão atrás do anel... esse fator é a pequenez e fragilidade de Frodo."

Quando o infindável bombardeio pelos alemães caía, o povo inglês nunca perdia as esperanças ou a coragem de lutar, e como Gimli diz no Senhor dos Anéis, "Há boa rocha aqui; esta terra tem ossos fortes". No Senhor dos Anéis, há várias alusões a eventos que aconteceram na história antiga. Muitos países diferentes de muitas diferentes direções atacaram a Inglaterra em sua historia. Os Romanos, tribos Germânicas, e muitos outros.

Também a Europa lutou desde antigamente contra Árabes e Persas do sul, Mongois, Turcos do leste. Similarmente Gondor resiste aos povos do leste e do sul, que pressionavam contra suas fronteiras por milênios, e se transformaram em aliados naturais contra Sauron. Os Haradrim do Sul lembram mesmo os Sarracenos com sua tez escura armas e armaduras, e sugerem outros exércitos não-europeus no uso de ancestrais de elefantes, enquanto os Wain riders do leste vêm em vagões como aqueles das hordas de Tártaros. Os homens de Gondor vivem e lutam num estilo legendário Arturiano, proto-medieval, e os Rohirrim se diferenciam dos antigos Anglo-Saxões primariamente por viverem em função dos cavalos como os Cossacos.

Na história da Inglaterra, houve várias diferentes migrações. Acontece o mesmo no Senhor dos Anéis. Kocher diz o seguinte sobre isso em "The Fiction of J.R.R. Tolkien: Master of Middle Earth": percebo nas páginas anteriores há várias partes na obra de Tolkien que ganham credibilidade por introduzir episódios de vários tipos que nos tentam com sua semelhança com episódios que nós sabemos ter acontecido realmente em nosso passado não muito distante… como a Terra tem visto ondas e ondas de migrações tribais na Europa de leste e norte, assim também na Terra-média os Elfos, os Edain, os Rohirrim, e os Hobbits, vagaram para oeste em vários períodos das mesmas direções.

No Senhor dos Anéis, o conflito também se encaixaria na descrição das batalhas religiosas durante a Segunda Grande Guerra Mundial. Como Fuller diz em ""Tolkien and the Critics"": O Senhor dos Anéis foi para mim uma revelação alegórica do conflito entre a cristandade ocidental contra as forças englobadas sucessivamente, mas entrelaçadas do nazismo e comunismo. O trabalho foi concebido e continuado quando a sombra mais negra da história foi lançada sobre o Oeste e, por um tempo crucial, sobre a Inglaterra em particular.

O Senhor dos Anéis foi escrito durante a Segunda Grande Guerra Mundial. A batalha em Mordor e o Anel sendo destruído e, portanto finalizado a guerra lembra-me dos últimos estágios da Segunda Grande Guerra Mundial quando os EUA derrubaram a bomba atômica em Hiroshima. Fuller diz em "Tolkien and the Critics" o seguinte:

Em algum momento nos estágios finais de seu desenvolvimento, uma visão ampliada da trilogia veio a ele (Tolkien), e o aumento da escuridão e desesperança sobre o resto do Ocidente na Terceira Era da Terra-média cresceu da escuridão e ameaças pendentes sobre a Cristandade ocidental nos anos 30's quando O Hobbit foi escrito. A Trilogia foi produzida durante e depois da Segunda Grande Guerra Mundial…

O Senhor dos Anéis também tem muitas referências a Bíblia e religião. Essas são as referências a Adão e Eva e a queda do homem. Em "The Fiction of J.R.R. Tolkien: Master of Middle-earth", Kocher diz: a idéias que Durin (um dos pais dos anões) foi o primeiro nascido sem companhia e saiu dando nomes às coisas lembra Adão e Eva." No O Senhor dos Anéis, não há menção de Deus, mas nomes como O Ser Supremo, o Um, e outros vagos, mas claras alusões a Deus. Tolkien disse, numa entrevista que "Gandalf era um anjo", e em uma entrevista a rádio em 1971 revelou que Ilúvatar era Deus.

Há várias outras referências a Cristo. Frodo e/ou Gandalf poderiam ser "antecipações parciais de Cristo". Cristo, antes de ser crucificado rezou para que "o cálice fosse afastado dele". Frodo faz a mesma coisa quando ele pergunta se outra pessoa poderia fazê-lo. Gandalf também se assemelha a Cristo. Ele passa por uma ressurreição e tentação quando Frodo lhe oferece o Anel.

Com Frodo, muito singelo e comovente, está no seu desejo vão de que o cálice seja tirado dele, e que já que isso não é possível, ele vai a sua longa, dolorosa jornada como O Portador do Anel -um tipo de carregador da cruz a vir. Mais misticamente com Gandalf, indicativo de uma operação de um poder não explícito atrás dos acontecimentos, o sábio passa por uma experiência similar a morte, descendo ao inferno, e ressurgindo dos mortos. Também ele vivência algo da tentação na selva na sua recusa do Anel que ele tem poder suficiente para manipular.

No Senhor dos Anéis há boas criaturas e más. As boas criaturas são tipicamente cristãs e as criaturas más são satânicas e demoníacas. "O Mundo de Tolkien tem uma variedade de criaturas malévolas. No centro há os poderes demoníacos, o maior de todos é Sauron, que certamente é uma figura satânica, que provavelmente é nada menos que um anjo caído, cujo nome sugere a serpente."

No Senhor dos Anéis também há várias referências à ressurreição. Na religião cristã, isso é uma parte da maior importância. O tom predominante é muito Cristão. As boas pessoas do Senhor dos Anéis agem como pessoas cristãs e crêem da mesma maneira. Como diz Kocher em "The Fiction of J.R.R. Tolkien: Master of Middle-earth": todas as raças mortais especulam com algum tipo de vida após a morte em algum lugar não específico, e a expectativa de acordar depois da morte é tradicional entre os anões".

A terra chamada de Condado lembra muita a parte rural da Inglaterra. Os hobbits na história habitam uma região tranqüila que tem muita semelhança com Cotswold Country. Tolkien se certifica que em pequena escala seu terreno local, clima, flora, e fauna dominante são bem como nós os conhecemos hoje em dia. No O Senhor dos Anéis, Tolkien descreve estrelas e constelações; as mesmas que nós vemos hoje. Para aumentar a visibilidade, e para também contra balançar a topografia estranha da Europa da Terra-média, Tolkien ilumina o céu noturno com planetas e constelações que conhecemos, entretanto com nomes diversos. Orion é vista pelos hobbits e elfos se encontrando nas florestas do Condado "lá alinhado, enquanto ele sobe pela borda do mundo, O Espadachim do Céu, Mendelvagor com seu cinturão brilhante". Olhando pela janela da estalagem de Bri, "Frodo viu que a noite estava clara. A Foice brilhava por sobre os ombros de Breehill". Tolkien continua dizendo que "a Foice" é o nome que os Hobbit davam ao Arado ou o Grande Urso. Brilhando qual jóia de fogo "Borgil vermelho pareceria ser Marte. A estrela de Eärendil é certamente Vênus, porque Bilbo descreve-a como brilhando logo após o sol se por ("atrás do sol e a luz da lua") e logo antes do nascer do sol ("uma chama distante antes do sol, uma maravilha na aurora…").

Na Europa, a maior parte das línguas são línguas de romance, todas exceto Alemão. Alemão é muito diferente de qualquer outra língua Européia. Como Kocher diz em The Fiction of J.R.R. Tolkien: Master of Middle-earth, "A rivalidade entre Westron e a língua negra de Sauron, falado pelos seus servidores, tipifica a inimizade entre as duas culturas…". Isto poderia muito bem estar descrevendo alemão ou mesmo russo no sentido citado na sentença anterior.

Sauron também "detestava qualquer outra liberdade que não a sua…" A Alemanha nazista também detestava liberdade e democracia durante a Segunda Grande Guerra Mundial. Durante a guerra, Hitler governava num regime totalitário e fascista. Eles controlavam tudo, e conquistavam os países que não acreditavam no que eles acreditavam. No O Senhor dos Anéis, a "forma mais comum de governo é uma monarquia benigna, mas o Condado dos Hobbits é uma pequena vila democrática e o reino de Sauron, Mordor, é claro uma ditadura totalitária e escravagista".

O Senhor dos Anéis tem semelhanças com outras obras literárias. Já foi comparado a obras como King Arthur. A "terra mágica" fica no misterioso oeste, depois do mar, e alguns personagens velejam para lá numa imagem parecida a passagem de Arthur em Avalon. O Senhor dos Anéis parece se baseado numa ópera de Wagner. A estrutura é a mesma e várias similaridades aparecem entre ambas. Como Fuller diz em "Tolkien and the Critics";

A estrutura em quatro partes da obra é análoga ao Anel do Nibelungo de Wagner. Uma estória mais curta e mais infantil (Das Rheingold e O Hobbit respectivamente) em cada caso introduz uma trilogia grande. È estranho e interessante que um Anel do poder é central em ambas as estórias e dá o seu nome aos títulos, e que dragões e uma espada quebrada para ser reforjada por um guerreiro ocorre em cada.

Se "fantasia é baseada em fatos reais" então O Senhor dos Anéis é completamente baseado em eventos históricos, terras, religião, governos, e outros trabalhos de diferentes autores. Citando autores diversos, mostrei que é impossível não ser perseguido por paralelos entre nosso aqui e agora". Eu também descobri que dá para ter diversas interpretações do Senhor dos Anéis, e diferentes sentidos podem ser extraídos das mesmas cenas. Mas de todo modo, O Senhor dos Anéis foi baseado em várias coisas combinadas para formar uma das maiores obras literária que o mundo já viu".

Fonte: TAGGE, Michael. O Senhor dos Anéis: Mitos e Realidades na Trilogia de Tolkien.

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