quinta-feira, 5 de maio de 2011

Caldeirão Poético I


Evaldo da Veiga
ESSE SOU EU


Já caminhei tanto
Jamais pensei viver tantos caminhos
Sinto que a linha de chegada está perto
Muitas coisas em vacilo, mas em outras
Tenho convicção que vivi tudo que podia

Vivi a vida que se ofereceu e um pouco mais
Esquivei-me do fim várias vezes
Muitas vezes não escolhi os caminhos
Segui por coincidência

Por instinto, um farol que indicava
E até mais do que isso, um empurrão
Que não sabia vindo de onde
Eu fiz como podia, segundo aprendi

Tudo bem ao meu modo
Muitas vezes não sendo o que eu queria
Consciência leve,
Não fiz melhor porque não pude

Em especial fiz melhor quando amei
Os momentos de rancor produziram pouco valor
Minha colheita melhor
Foi quando plantei o bem

E mesmo assim poderia
Ter feito bem melhor
Mas se soubesse o que sei hoje
Na época eu fiz o que sabia fazer

Busquei ver tudo até o detrás dos escombros
Até em noites escuras de incerteza
Busquei manter-me calmo
Planejando um amanhecer de luz e amor

Esses foram meus melhores momentos
Se fui afoito em alguns instantes
Em outros tive cuidado
Principalmente quando envolvia vida
Que não era a minha
Era bom cuidar além de mim, ser protetor

Fiz sempre assim ao meu modo
Houve dias de amargura, chorar por dentro
Na maioria só eu sabia da dor
A dor da gente nem sempre é notada

Quando dói mesmo não tem testemunhas
Às vezes o erro foi porque fui puro
Outras vezes não esperei o sinal
Quando eu quis abraçar o mundo com as mãos...

Mas nada disso já importa
O que vale é que,
se não posso alterar o início
Posso criar um novo começo, agora

Antônio Fonseca
MEU PORTO SEGURO


Cai a chuva com seus lamentos.
Encontra os meus e me inunda:
Medos, temores, desconfianças, síndromes e escuridão.
É necessária,
Mas rasga meu peito no espocar dos trovões
E cega-me os flashes intermitentes.
Agarro-me no que tenho:
Nau errante desgovernada.
Só Deus sabe a que distância está meu porto seguro!
Resta-me lavar a saudade
Nas águas vertentes dos olhos
Dos céus,
E meus!...
Em contrapartida existe o sonho
Que expulsa a lentidão desse telescópio
Nos erros grosseiros dos astrônomos,
E coloca-me lado a lado com Maria...
Com Maria (que me rege).
Assim; pode cair temporal!

Maria Rosana Temoteo da Silva
DESPEDIDA


Os versos que nunca te ofereci
surgem no momento de maior dor,
jamais pensei que omitirias
o sentimento que batizastes de amor.

Agora tu és o meu passado
e eu, um dia, tua namorada.
Ao me perguntarem hoje, o que sou tua
direi então: - "Simplesmente nada".

Talvez um dia ainda seremos
cúmplices no amor e na arte.
Aí então, depois de passada a mágoa,
te amarei novamente por toda a eternidade!

Delasnieve Daspet
SOMBRAS


Tantas saudades...
Começo a renovação,
Mas as sombras
Pesam-me nos ombros.

Cesar Moura
ABADIA


Prior regente do amor
Perdeu-se em ironia
Vencido pela dor,
Ao ver por arcaico modo
O destino da paixão.

Vencido pelo cansaço
O abade pois os pés no chão,
Quisera acreditar nesta fantasia
Que vestira a ilusão...

Precisou pintar de lorde
Nesta côrte o menestrel,
Não foi preciso desafiar à espada um dragão
Pela mão de uma princesa,
Bastou somente a realeza em vestes pompa
Para consagrar esta fábula na união!

Mas na abadia desfilou toda a congregação
No tapete vermelho da alta moda
Só por caviar e ostentação.

Vi no olhar do pobre súdito
Que desejava o confessor à confessar o seu amor
Por esta nata de toda nobreza,
Que ao pensar no desprezo que tem pela ralé,
Que só de doer já é pecar.

Conceição Pazzola
ECOS BANAIS


Sobrepondo-se ao cair da água
O choro da moça menina
Abala as paredes do banheiro
Testemunhas impotentes

Acima e abaixo do coração
Chora em silêncio lá fora
A mulher que tudo ouve
Impotente mãe, ora

Filha é também por instantes
Em seu mergulho interior
Conhece os porquês de ser
De tantas lágrimas inúteis

Depois do leite derramado
De tantas palavras ocas
Caídas no vazio do tempo
Ecos banais tão repetidos.

Roldão Aires
COINCIDÊNCIA


Sinto a tua ausência,
Aperta-me, a saudade.
Não sei se te mando
Rosas, para veres
Que meu amor, é verdade.
Quando, a estes versos
Escrevia,
Ouço baterem à porta.
Levantei-me para abri-lá
Eras tu com um ramalhete.
Pensastes como eu pensei,
Sentistes a mesma dor,
Que só quem ama sente.
Viestes com rosas.
Prá mim bastava,
Só um bilhete.

Marisa Cajado
VERSOS NA MADRUGADA


Há pouco foste embora...
Pouco tempo pra tanta demora
Em te encontrar novamente.
Deixastes impregnado levemente
Teu cheiro, tua lembrança
No quarto, na cama, no travesseiro
Na gama da química do amor.

Deitei-me no leito de forro marinho
E cobri-me com o lençol branco
O mesmo que nos cobriu e se fez ninho
Nestes dias de amar aberto e franco.
E tenho que calar no peito este afeto
Que teima em explodir, enquanto calas
O que por certo, não quer dizer teu ser inquieto.

E eu diria: _ Por que não falas?
Por que o silêncio que te distancia
Mais que os quilômetros que nos separam?
Dúvidas, anseios, que no ser resvalam
Em meio as recordações que já passaram
Tiram-me o sono, em nascente de poesia.
Pelas doces impressões que aqui ficaram

Como entender a química do sentimento
Que se expressa de modo tão diverso
Deixando adverso o pensamento
Sem resposta na tônica do meu verso?
Talvez o inverso deste verso que componho
Seja o teu verso, o teu testemunho
Deste querer que não trazes imerso,
Por não ser eu, a musa do teu sonho.

Fonte:
Colaboração de Poetas del Mundo

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