A onça pediu ao gato que lhe ensinasse a pular, porque o maior mestre de pulos que há no mundo é o gato. O gato ensinou uma, duas, três, dez, vinte qualidades de pulos. A onça aprendeu todos com a maior rapidez e depois convidou o gato para irem juntos ao bebedouro, isto é, ao lugar no rio onde os animais descem para beber.
Lá viram um lagarto dormindo em cima duma pedra.
— Compadre gato — disse a onça — vamos ver quem dum pulo pega aquele lagarto.
— Pois vamos — respondeu o gato.
— Então comece.
O gato saltou em cima do lagarto e a onça saltou em cima do gato — mas este deu um pulo de banda e se livrou da onça.
A onça ficou muito desapontada.
— Como é isso, compadre gato? Esse pulo você não me ensinou...
— Ah, ah, ah! — fez o gato de longe.
— Isto é cá segredo meu que não ensino a ninguém. Chama-se o "pulo do gato" — meu, só meu. Os mestres que ensinam tudo quanto sabem não passam duns tolos. Adeus, comadre! — e lá se foi.
=============
— Ah! — exclamou Pedrinho. — Agora estou compreendendo por que se fala tanto no "pulo do gato"...
— Mas pulam mesmo assim ou é história da história? — perguntou a menina.
— Não há pulo que os gatos não dêem — disse dona Benta. — É um bichinho maravilhoso. Já vi o Romão cair dum telhado altíssimo. Outro bicho qualquer se espatifaria. Romão, porém, deu uma volta no ar e caiu sobre as quatro patas — e lá se foi, ventando, sem que nada lhe acontecesse.
— Mas se o gato é da mesma família da onça — observou a menina — tudo o que o gato faz a onça também deve fazer.
— Sim, mas o gato é pequeno e portanto tem agilidade muito maior que a da onça. Quanto pesa um gato? Um quilo, apenas. E uma onça? Cem vezes mais. Natural, portanto, que por causa do peso maior a onça não seja capaz de fazer o que o gato faz.
— É verdade, vovó — perguntou Pedrinho — que os políticos espertos usam o pulo do gato?
Dona Benta suspirou.
— Os políticos matreiros, meus filhos, são os gatos da humanidade. Dão toda sorte de pulos — e sabem muito bem essa história de cair de pé. Há alguns entre nós que podem dar lições a todos os gatos do mundo...
–––––––––––––
Continua… XXVIII – O Doutor Botelho
–––––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source
Lá viram um lagarto dormindo em cima duma pedra.
— Compadre gato — disse a onça — vamos ver quem dum pulo pega aquele lagarto.
— Pois vamos — respondeu o gato.
— Então comece.
O gato saltou em cima do lagarto e a onça saltou em cima do gato — mas este deu um pulo de banda e se livrou da onça.
A onça ficou muito desapontada.
— Como é isso, compadre gato? Esse pulo você não me ensinou...
— Ah, ah, ah! — fez o gato de longe.
— Isto é cá segredo meu que não ensino a ninguém. Chama-se o "pulo do gato" — meu, só meu. Os mestres que ensinam tudo quanto sabem não passam duns tolos. Adeus, comadre! — e lá se foi.
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— Ah! — exclamou Pedrinho. — Agora estou compreendendo por que se fala tanto no "pulo do gato"...
— Mas pulam mesmo assim ou é história da história? — perguntou a menina.
— Não há pulo que os gatos não dêem — disse dona Benta. — É um bichinho maravilhoso. Já vi o Romão cair dum telhado altíssimo. Outro bicho qualquer se espatifaria. Romão, porém, deu uma volta no ar e caiu sobre as quatro patas — e lá se foi, ventando, sem que nada lhe acontecesse.
— Mas se o gato é da mesma família da onça — observou a menina — tudo o que o gato faz a onça também deve fazer.
— Sim, mas o gato é pequeno e portanto tem agilidade muito maior que a da onça. Quanto pesa um gato? Um quilo, apenas. E uma onça? Cem vezes mais. Natural, portanto, que por causa do peso maior a onça não seja capaz de fazer o que o gato faz.
— É verdade, vovó — perguntou Pedrinho — que os políticos espertos usam o pulo do gato?
Dona Benta suspirou.
— Os políticos matreiros, meus filhos, são os gatos da humanidade. Dão toda sorte de pulos — e sabem muito bem essa história de cair de pé. Há alguns entre nós que podem dar lições a todos os gatos do mundo...
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Continua… XXVIII – O Doutor Botelho
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
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