sábado, 10 de dezembro de 2011

João Costa (Falando de Amor)


Num mar de pura magia
o umbral do tempo transponho,
rumo ao reino da utopia,
na caravela do sonho.

Um gosto de fim de festa,
tristeza, desilusão
É tudo, enfim, que nos resta
depois que os sonhos se vão...

Em meu delírio, cansado
de tanto em vão te esperar,
a saudade canta um fado
e faz minha alma chorar.

Peço-te perdão, querida ,
pela audácia de querer-te,
de sonhar-te em minha vida,
de imaginar merecer-te.

Nossas emoções primeiras,
sob o efeito da paixão,
são fortes, mas passageiras,
como chuvas de verão.

Viva intensamente quem
tem um sonho a ser vivido
que a saudade sempre vem
atrás de um sonho perdido…

Não me indagues por que te amo.
Não saberia dizer.
Eu te amo só porque te amo.
Que outra razão pode haver?

A vida é triste, sombria,
nesta minha solidão.
Sem a tua companhia,
é inverno em pleno verão.

A noite é perfeita e bela,
a lua encanta e seduz,
tecendo em nossa janela
uma cortina de luz.

Poesia, vida, beleza,
bem-aventurança, dor,
felicidade, tristeza…
É isso e bem mais o amor.

Jurei que não voltaria,
ao partir, e assim o fiz.
Lamento essa teimosia
que só me fez infeliz…

De príncipe me chamava
e a gente era tão feliz.
E quando não mais se amava,
nem como escravo me quis.

Tu me prendes com abraços,
torturas com tal paixão,
que, sendo algemas teus braços,
bendita seja a prisão!

Nem ouro nem o fulgor
dos diamantes trago, e sim,
no peito, a rosa do amor;
nas mãos, carinhos sem fim.

Passa o tempo… Passa a vida…
E eu não consigo esquecer-te.
Não me perdôo, querida,
pelo crime de perder-te.

É noite… Insone, penando,
nesta triste solidão,
ouço o silêncio gritando
dentro do meu coração.

Na despedida, confiei
na promessa que fizeste:
– Espera-me, eu voltarei!
Mas quando… não me disseste.

Dos bons acontecimentos
de minha vida, bendigo
aqueles doces mementos
que pude viver contigo.

Desiludido da vida,
do amor – em total entrega -,
sou folha no chão caída
que nem o vento carrega.

Desfeito o sonho mais puro,
longe de quem tanto quis,
para não sofrer, procuro
esquecer que fui feliz…

Não ambiciono o Eldorado.
Meu mundo, embora singelo,
contigo sempre ao meu lado,
é dos mundos o mais belo.

Relembramdo tempos idos,
abro a agenda da memória
e encontro sonhos perdidos,
pedaços da nossa história.

Quero um relógio, querida,
cujo mágico processo,
atrase a tua partida
e abrevie o teu regresso.

– Eu volto! – me consolava.
Mas, em profunda agonia,
meu coração pressagiava
que ela jamais voltaria…

Somos metades perdidas
e eu espero te encontrar.
E esperarei quantas vidas
ainda tiver que esperar…

Cansado de tanto errar,
nessa procura infeliz,
já nem sei se ao te encontrar
eu me sentirei feliz.

Que te amo ao mundo proclamo.
Duvidas, mas eu insisto.
Se é mentira, amor, que eu te amo,
é mentira que eu existo.

O tempo passa…Demoras…
E eu aqui a te esperar.
Meu amor, quantas auroras,
nessa espera, vi chegar!…

Voltarás…Que importa quando?
Eu só sei que voltarás…
Estarei sempre esperando
o dia em que tu virás.

Por esta senda de espinhos,
vou sufocando meus ais,
pois eu sou, sem teus carinhos,
o mais triste dos mortais.

Quis-te para sempre, amor,
mas me deste a solidão.
Hoje és saudade e esta dor
é eterna em meu coração…

Quando as almas são unidas
pelo amor, completamente,
deixam de ser duas vidas
para ser uma somente.

A noite é toda poesia.
Lua e estrelas a brilhar…
Mas, sem tua companhia
de que me serve o luar?…

De exuberância suprema,
que nos encanta e extasia,
cada alvorada é um poema
que Deus compõe todo dia.

Tua presença é poesia,
tudo de bom para mim;
teu sorriso pressagia
felicidade sem fim…

Os meus dias são tristonhos.
Tu não vens e o tempo avança.
Nem mesmo no mar dos sonhos
vislumbro a nau da esperança.

Quando eu me for desta vida,
irei a meu Deus pedir
que ele me faça, querida,
reencontrar-te no porvir.

Descobri, ao te perder,
que, sem direito a perdão,
fui condenado a viver
algemado à solidão.

De saudade angustiado,
faço versos soluçando
e cada trova é um recado
por teu regresso implorando.

Mais triste e pior castigo
do que o meu não pode haver:
- Não pode viver contigo,
sem ti não saber viver...

Nós dois... A felicidade...
Muito amor... Sonhos... Depois,
a distância e a saudade
como abismo entre nós dois...

Que importa o tempo passado,
se é tão grata a descoberta?
- Ao ver-te ainda ao meu lado,
sei que fiz a escolha certa!

Dei a ti meu coração,
muito te amei e te quis.
Se tudo foi ilusão,
não importa, eu fui feliz!...

Os meus versos se calaram,
à saudade sucumbi,
minhas lágrimas secaram
de tanto chorar por ti...

Ao partires, me disseste:
- Espera-me, eu voltarei!
O tempo passou... Não vieste...
E o pior: eu te esperei.

Recomeça a nostalgia
quando o dia vai morrendo.
Não suporto esta agonia.
Volta, amor, estou sofrendo!

O tempo que tudo apaga,
promovendo o esquecimento,
em vez de apagar afaga
teu nome em meu pensamento.

Que em tua ausência dispare,
eu apelo ao tempo; e quando
estivermos juntos, pare,
o momento eternizando.

Fonte:
João Costa. Meu Caderno de Trovas. Saquarema, RJ: Edição Artesanal, 2011.

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