quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Abilio Terra Junior (Poesias Escolhidas)


E A INCÓGNITA PERSISTE

e a incógnita persiste,
pois não sei dos teus sentimentos
e tu não sabes dos meus

me persegues com o olhar
quando sabes que não posso ver-te,
mas posso sentir-te

te finges interessada em algo
que não eu,
mas me sentes

o tempo nos deixa marcas,
nos amadurece por dentro
quanto ao sentimento

permanece encoberto
só aflora em raros momentos
em que o coração acorda

e conta a nossa história
que imaginei e tu também
que toca o nosso íntimo

porque tanto mistério,
eu me pergunto;
e imagino que tu também

se o amor nos ronda
e, às vezes, se cansa e se vai,
pois se sabe presente

e não se faz de indulgente,
pois sabe não ser esse o caminho
de tão nobre sentimento

quando ele aflora,
mostra-se poderoso
nos deixa perplexos

quando nos sabemos amantes
permanecemos distantes
e a dor nos dilacera

ALI, PASSAVA BOI, PASSAVA BOIADA

Ali... passava boi, passava boiada
tinha uma palmeira na beira da estrada
onde foi cravado muito coração...

Triste Berrante
Solange Maria e Adauto Santos
Trilha sonora da novela ‘Pantanal’

neste mesmo espaço selvagem,
em seu compasso de espera
o olhar fraterno do boi se alongava,
me espreitava na doce comunhão

eu o amava e o estreitava
no meu coração tão sincero,
sentia seu cheiro gostoso,
seu porte de cavaleiro,
senhor da sua missão

eram tempos tão fiéis
que nos amávamos, corríamos
ao vibrar do berrante
que clamava ao vaqueiro seu valor

o olhar trigueiro da cabocla
expressava sua emoção;
nossos corações se enlaçavam
naquela palmeira solitária

nunca mais meu coração
vibrou tão nobre, tão puro,
naqueles tempos de ouro
em que eu sentia a vida

depois, se estreitou, se quedou
nas urgências do tempo veloz;
perdeu-se da sua glória
na sua origem de mestre

entre carros que passam velozes
no asfalto negro e perdido,
meu olhar enxerga além
e vê o boi que passa a boiada
––-
A JANELA ENTREABERTA

agora não podes divagar
após o ato consumado
e tergiversar, como uma borboleta
de flor em flor,
com palavras e mais palavras

pois te esvaíste em um longo sussurro no deserto
e a flor sedenta se transubstancia
em um esplendor sereno e compreensivo

nada mais esperes; te entregues
à momentânea tensão que se foi

observe os retângulos das paredes
e o canto do pássaro que pousa, displicente,
sobre um frágil galho que invade a janela

a atmosfera, ora pesada, ora leve
se insinua nos poros;
um sorriso surge e um olhar sedoso
observa teus cabelos
que se espraiam e se avolumam

a cada instante em que a vida
se declara presente e vitoriosa

os jogos foram-se, um a um,
e resta agora um momento
de imponderável sensibilidade

dúvidas e certezas espalham-se
e ganham a janela entreaberta

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É natural de Belo Horizonte-MG e reside em Brasília-DF. Economista, servidor público aposentado, dedica-se, atualmente, à poesia e aos contos e crônicas.

Casado com Luiza Helena, e filhos Roberto e Marcella.

Possui sete livros virtuais para download e poemas formatados para leitura na sua homepage ‘Os Homens Pássaros’, http://www.oshomenspassaros.com .

Aprecia gnosticismo, música, animais, pintura, escultura, fotografia, ecologia, ciência, poesia, literatura, cinema, surrealismo, arte, natureza, universo, defesa dos direitos humanos e assuntos afins.

Possui dois livros publicados, ‘Numa Floresta de Símbolos’, pela Editora Alcance e ‘Os Homens Pássaros’, pela CBJE.

Define-se como um poeta que observa o mundo ao seu redor e não se contenta com as aparências e que tenta utilizar as palavras para perscrutar o mundo do sonho e o mundo da realidade.

No seu modo de entender, estes mundos se encontram interpenetrados, não há como separá-los.

Abilio Terra Junior na Editora Alcance:
http://www.editoraalcance.com.br/index.php/abilio-terra-junior/


Fonte:
http://www.ube.org.br/espaco-do-autor.asp?ordem=autor&tipo=6

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