segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Pedro Malasartes (Ai, Que Dor de Dente)


Cansado de andar, Pedro Malasarte chegou a uma grande cidade. Já haviam se passado dois dias desde que se banqueteara com os cegos e seu estômago dava horas.

Para piorar ainda mais sua situação, estava com uma dor de dentes que mal podia suportar.

Mas não tinha dinheiro nem para pagar o dentista -que naquele tempo era o barbeiro -nem para comer. Gastara as últimas moedas no caminho, comprando um burrico para uma pobre velha que também ia para a cidade mas mal podia andar.

Ia mergulhado em tristes pensamentos quando passou na porta de uma padaria. Acabava de sair uma fornada e o cheiro de pão enchia o ar.

Pedro Malasarte olhou para dentro e viu toda espécie de pães e bolos.

Ficou com água na boca.

O dono da padaria estava na porta, com seu avental branco, e parecia ter o rei na barriga. Em tom de mofa, vendo a cara de Pedro Malasarte, perguntou-lhe:

– Quantos pães e doces seriam necessários para matar a sua fome, hein?

Nosso herói respondeu sem hesitar:

– Puxa, aposto que comeria uns cem...

– Ora, ora! – exclamou o padeiro, que adorava fazer apostas. – Que posso lhe fazer se não conseguir comer mesmo cem pães e doces?

– Amigo padeiro, já deve ter percebido que não tenho comigo um só tostão. Mas para lhe mostrar que sou mesmo capaz de fazer o que estou dizendo, pode mandar me arrancar um dente de quatro raízes se não comer cem pães e doces!

Arrancar dente sempre foi coisa de meter medo. Divertido com a aposta, o dono da padaria mandou Pedro Malasartes entrar e serviu-lhe os mais finos produtos do seu estabelecimento. Pãezinhos de queijo e broas, bolos, doces, marias-moles e tudo o mais.

Nosso herói estava mesmo com uma fome de lobo e conseguiu comer, sem maior esforço, uns quatro pães, duas ou três broas, algumas roscas e quatro ou cinco doces.

Dando-se por satisfeito, virou-se para o padeiro:

– É... Não é que não consigo nem olhar mais para pães e doces?

Prontamente o outro o agarrou pelo braço e levou-o ao barbeiro:

– Amigo barbeiro, trate de arrancar por minha conta um dente de quatro raízes desse malandro!

– Este aqui, este aqui -apontou Pedro Malasartes, mais que depressa, rindo por dentro.

O barbeiro arrancou-lhe o dente dolorido em três tempos. Não doeu tanto assim, mas Malasartes fez muitas caretas.

-Está vendo só no que dá fazer apostas? -disse o padeiro, com ar triunfante. -Devia ter visto logo que não poderia comer tanto assim.

– Pois agora é que vou comer muito mais! -retrucou Pedro Malasartes.

E foi-se embora assobiando, com a barriga cheia e livre do dente que tanto o incomodava, sem gastar um tostão...

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