domingo, 19 de fevereiro de 2012

Mara Melinni (Livro de Trovas)


A amizade verdadeira,
mesmo quando se despede,
fica de qualquer maneira...
Não se compra... e nem se mede...!

A ausência é tanta, em verdade,
que a minha desilusão
tem a forma da saudade
e os braços... da solidão!!!

A identidade que encobre
cada não e cada sim,
vem da verdade mais nobre
que eu trago dentro de mim...!

Ano Novo, quantos sonhos
em ti renovo, tão certo
de que dias mais risonhos
já me parecem mais perto!

As folhas secas de outono,
seguindo, sem direção,
são sonhos que vão, sem dono,
à espera de outra estação.

A velha esquina esquecida
toda enfeitada de flor,
sem querer, fez-se guarida
de nossa história de amor.

A vida é palco, onde há canto
de maldade, espanto e dor...
Não há cortina, entretanto,
que feche um palco de amor!

Da linda infância de outrora,
guardo os brinquedos diversos,
na lembrança, que hoje mora,
no doce encanto... dos versos!

De papel, foi meu barquinho,
pelo rio, sem destino...
Mas encontrou, no caminho,
os meus sonhos de menino!

Dos gritos pela calçada
a lembrança derradeira...
Hoje a rua, abandonada,
sente saudade da feira!

É Ano Novo... Tens a chance
em que a vida tem o preço
de ter tudo ao teu alcance
no sonho de um recomeço...!

Espera...! Que eu te proponho,
pois a ausência é triste sina:
- Sê a musa do meu sonho,
que o meu sonho não termina...!

É tanta a maldade insana...
Mas cresce, dia após dia,
um grito que nos irmana
pela nossa ecologia!

Eu sinto a força da vida
e a mão divina de Deus,
em cada manhã florida,
na aurora... dos versos meus!

Eu vi o amor eclodindo
na mensagem de um chamado:
- O mar, despido, sorrindo...
- O sol se pondo... apressado!

Identidade é o segredo
que revela muito mais
do que a marca do teu dedo
e das tuas digitais...

Já não chores, madrugada,
que o orvalho, na linda flor,
cristaliza, na alvorada,
tua lágrima de amor!

Mais vale amar, sem receios,
numa entrega destemida...
Do que não sentir os veios
da doce fonte da vida!

Mar adentro, mundo afora,
a distância aumenta mais...
e enquanto a saudade chora,
“um lenço acena no cais”.

Meu senhor, por caridade,
não me julgue em atos vãos...
Trago a minha identidade
nos calos das minhas mãos.

Nas noites de solidão...
— Lua, que embala os amores,
és, em tua mansidão,
a musa dos trovadores!

No outono, a folha caída,
que espera o seu triste fim,
revela o quanto, na vida,
é outono... dentro de mim...!

Nossas juras semeadas
na infância, de amor risonho...
Inda giram, de mãos dadas,
Na ciranda do meu sonho!

Ó, mãe... teu afeto é tanto,
tão angelicais teus traços...
que a vida tem mais encanto
na doçura dos teus braços!

O tempo passa, é verdade,
levando tudo o que sou...
mas só não passa a saudade
que o próprio tempo deixou!

Quando adormeço, sozinho,
relembrando aquele adeus...
a lembrança é o triste ninho
do calor dos braços teus!

Relembrando velhos traços,
por mil recantos dispersos...
eu me perco nos teus braços,
e te encontro... nos meus versos!

Saudade – quantos desejos
por esta espera sem fim...
Relembrando os teus arpejos,
hoje sou refém... de mim!

Seca: quanta desventura
enche a terra de tristeza!
O homem sofre, mas a cura
vem da própria natureza.

Se eu me for, antes de ti...
Levarei, dos nossos traços,
cada noite que vivi
na cortina... dos teus braços.

Segue o tempo, indiferente,
pela idade, em despedida...
Passa, mas deixa presente
o doce encanto da vida!

Sentindo o temor da idade,
vejo, no amor que ficou,
teu retrato – uma saudade
que o tempo não revelou...!

Senti o afeto embalando
aquela linda criança...
No abraço da mãe, ninando,
o seu sonho de esperança!

Sereno é quem, sem temores,
faz de sua caminhada,
um jardim cheio de flores
entre os espinhos da estrada!

Sob a mesma nostalgia,
a saudade, sem pudor,
sobrevive, todo dia,
à ausência do teu amor!

Tanto esperei... E, sem jeito,
fiz daquela madrugada,
a doce musa, em meu leito,
nessa espera amargurada...!

Tocam sinos de alegria
no encanto do firmamento...
E a luz da estrela anuncia
Jesus em seu nascimento!

Uma família sem teto,
repartia o mesmo pão...
Mas sobrava sempre afeto,
no final da divisão...!

Velha fonte... O largo antigo...
Sob as ruínas... Num canto...
Hoje tu choras comigo,
Dividindo o mesmo pranto!

Vejo no espelho da vida
transpor-se, à luz da saudade,
minha face enternecida
dos tempos da mocidade!

Vida: caminho que alcança
na esquina a sua metade;
de um lado, vive a esperança,
do outro, dorme a saudade.

Fonte:
http://melinni.blogspot.com/p/minhas-trovas.html

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