A FRAGILIDADE DA COERÊNCIA
Teço a minha trama
E a do meu companheiro
As linhas são muito finas
Escanteada é a luz suspeita
Fios necessários por separar
Até percebo a agonia
Da sombra fugidia
E na clareza na certeza
Vejo que linhas tênues se partem fácil.
CANTOS DE CISNE
Pálida lembrança paterna
Engomado uniforme branco
Em noites de Lua Cheia
Cantarolava “Oh, cisne branco...”
Na verdade
Nunca escutara Argentina
Os verdadeiros acordes
Do tango de Gardel .
AGULHAS POR ENFIAR
Enfie esta agulha, Argentina
E ela prontamente
Desempenhava com facilidade
O que os olhos maternos cansados
Já não mais poderiam executar
A bem da verdade
Crescera ao pé da máquina
A ouvir trechos de melodia binária
Assim feliz supria contente
A incompetência adulta
O não enxergar conveniente
Agulhas necessárias por enfiar
Em fundos tão estreitos
Que a sua vista poderia alcançar.
O OUTRO LADO DO PRAZER
Misericórdia Senhor...
Escassez de homens nobres
Misericórdia, Senhor...
Escorregadia é a certeza
Aflita acena ao cais da tentação
O outro lado do prazer
Atravessa o mar da loucura contagiosa
Entrega-se ao algoz de face beijada.
UM CISCO NO OLHO
Caminhante silente
Gesto cuidado
Desvio do olhar
Incômoda atenção
Bela canção à esquina
Mas ninguém ali o conhecia
Desconfia-se
De cigano vagante.
BLOCO DE JUDAS
Dançariam seus ódios mútuos
A mulher dos cabelos ruivos e a serviçal judiada
Eis que o dia final havia chegado
Era tão somente um bloco engraçado
De fêmeas e machos tolos
E os importantes seriam então judiados
E ela, pretensiosa pecadora
Ao som de bumbo e tambor
Em seus vermelhos estonteantes
Retornaria à perversidade escura de antes
Ao socavão dos seus desejos malvados
Arderia no fogo do seu juízo final
Regozijo inútil.
UM QUASE NADA
À loja da esquina
Alegria de panos
Meus suspiros aí deixados
Seu Salim e seu riso de marfim
Armazém das cores
Quantas vezes aí voltei
Em meus ecos suspirados
Hoje perdidas tramas
Quase um fiapo
Um fio de pouca coisa
Alegria de quase nada
Em seu riso de marfim
Subiu aos céus suspirado.
DESORDENADA LUZ ORIENTAL
Os mais ricos pigmentos
Despeja o céu ao poente
Cores damascenas
Desordenada luz oriental
Seda persa de outrora
Cavalos do espectro
Em asas de luz ao rapto
Fio da trama por desatar
Sobre o aparador da sala de jantar
O suspiro esquecido
O vestido reinado da estátua
Desordenada luz oriental
Fantasma do Bairro Judeu.
FLORES MORRIDAS
Parei. Em esquina contente
Conjunção imaginária
A jogar bola de satisfação
Avistei meninos folgados
Sem dengos. Contudo plenos
Voltei. À Rua das Flores
Pálida lembrança de meus encantos
Avistei para desgosto meu
Mulheres sem alegrias
A carpir evidências
Mulheres antes meninas. Como eu
Nas mãos, suadas e mornas
Flores sozinhas traziam. Só Angélicas
Murchas outrora perfumadas.
Fonte:
http://www.ube.org.br/
Um comentário:
Agradeço a este blog a inclusão de meus poemas!
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