Devido o espírito aventureiro, Malasartes não consegue passar um dia fechado dentro de uma casa, assim ele comprova que “Sua casa é o mundo, seu destino é a estrada”, e ainda acrescenta: “Eu sou Pedro Malasartes, o sabido sem estudo, eu nasci sem saber nada e vou morrer sabendo tudo.”
Em mais uma de suas andanças, numa certa manhã de verão e seca no sertão, ele encontra no meio do seu caminho um urubu com uma perna e uma asa quebradas, debatendo-se no meio da estrada. Agarrou o urubu, colocou dentro de um saco e seguiu o seu caminho.
Ao anoitecer estava diante de uma casa grande e bonita. Pela janela viu uma mulher guardando vários pratos de comidas saborosas e garrafas de vinho em um armário. Bateu na porta e pediu abrigo e comida. Mas a mulher recusou o seu pedido, dizendo que como o marido não estava em casa ficava feio, pra ela, receber um homem em sua casa. O que as vizinhas não vão falar. Terminou dizendo.
Malasartes foi pra debaixo de uma árvore e continuou a observar a casa. Com pouco tempo ele reparou que vinha chegando as escondidas um rapazinho ainda moço e que foi recebido com muitos agrados pela mulher dona da casa que o levou imediatamente para mesa e começou a servir vinho e um manjar de fazer inveja a qualquer rei.
Quando os dois iam começar a comer a beber, eis que aparece montado num cavalo alazão o dono da casa. O rapaz fugiu pelas portas do fundo e a mulher tratou de esconder os pratos de comidas e os litros de vinho dentro do armário.
Malasartes deu o tempo suficiente para o dono da casa tomar um banho e trocar de roupas e bateu novamente na porta da casa. O homem veio atende-lo, e ele pediu abrigo e comida. O dono da casa o mandou entrar, lavar as mãos e o convidou a sentar na mesa para o jantar.
A mulher começou a servir outra comida, bem pobre e mal feita. Malasartes, sempre com o urubu dentro do saco, deu com o pé, fazendo o roncar e começou a falar baixinho, como se estivesse discutindo com o urubu.
O dono da casa intrigado perguntou: – Com quem está falando?
Malasartes sem gaguejar respondeu. – Com esse urubu.
O dono da casa meio desconfiado retrucou: – Um urubu falando?
– Sim senhor, falando e adivinhando. Esse urubu é ensinado e adivinhador. – Disse com toda a esperteza Malasartes.
O patrão, imaginando que Malasartes era louco perguntou: – E o que é que ele está adivinhando agora?
Malasartes com a firmeza que lhe é peculiar respondeu:
– Ele está dizendo que naquele armário há um peru assado, arroz de forno, pernil de porco, bolho de milho, farofa de cebola e três litros de vinhos.
O Dono da casa só para comprovar ordenou a mulher: Procura aí, mulher, pra ver se é verdade. A mulher desconfiada ainda tentou dizer que aquilo era loucura, pois urubu não fala e nem tão pouco adivinha e Malasartes retrucou:
– Abra pra ver se é verdade ou não.
O Dono da casa ordenou: – Abra é uma ordem.
A mulher abriu o armário e fingindo surpresa anunciou tudo que o urubu tinha dito e todos comeram com muito apetite aquelas guloseimas.
Ao terminar o jantar o Dono da Casa perguntou por quanto ele queria vender o urubu e Malasartes fingindo indiferença disse que não vendia de forma alguma.
Pela manhã, após um grande e saboroso café, o dono da casa dobrou a oferta da noite passada e Malasartes fingindo contrariado aceitou o dinheiro, deixando na casa da mulher traidora e do homem besta enganado, um urubu, com a asa e as pernas quebradas, que nunca mais adivinhou coisa alguma.
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