quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Pedro Malasartes (Pedro se vinga do Fazendeiro)


Um casal de velhos possuía dois filhos homens, João e Pedro, este último era tão astucioso, vadio e inteligente que todos o chamavam de PEDRO MALASARTES. Como era gente pobre, o filho mais velho, João, saiu para ganhar a vida e empregou-se numa fazenda onde o proprietário era rico e cheio de velhacaria, não pagando aos empregados porque fazia contratos impossíveis de serem compridos. João trabalhou quase um ano e voltou para casa quase morto. O patrão tirara-lhe uma tira de couro desde o pescoço até o fim das costas e nada mais lhe dera. Pedro, o Malasartes, ficou furioso e saiu para vingar o irmão. 

Procurou o mesmo fazendeiro e pediu trabalho. O fazendeiro disse que o empregava com duas condições: 

Primeiro, não enjeitar serviço e segundo, quem ficasse zangado primeiro tirava uma tira de couro do outro. 

Pedro não pensou duas vezes, de pronto aceitou as condições impostas pelo patrão. 

No primeiro dia foi trabalhar numa plantação de milho. O patrão mandou que uma cachorrinha o acompanhasse. E disse: Só pode voltar pra casa quando a cachorra voltar. 

Pedro meteu o braço no serviço até meio-dia. A cachorrinha deitada na sombra nem se mexia. Vendo que a cachorra era treinada e que aquilo era uma artimanha do Patrão, Malasartes deu uma grande paulada na cachorra que saiu ganindo e correndo até o alpendre da casa. O Malasartes, para surpresa do velho patrão, voltou e almoçou. A tarde ele nem precisou bater na cachorra, fez só o gesto e a cachorra com medo voou pelo caminho em direção a casa do fazendeiro. 

No outro dia o fazendeiro escolheu uma outra tarefa e o mandou limpar a roça de mandioca. Malasartes arrancou toda a plantação, deixando o terreno completamente limpo. Quando foi dizer ao patrão o que fizera este ficou com a cara feia e Malasartes perguntou: 

– Zangou-se, meu amo e senhor? 

O Patrão a contragosto pra não perder a aposta respondeu: 

– De jeito nenhum, meu caro. 

No terceiro dia o patrão acordou Malasartes bem cedinho e disse: 
– Pegue o carro de boi e me traga mil estacas de um pau liso, linheiro e sem nó. 

Malasartes não contou conversa, cortou todo o bananal, explicando ao patrão que bananeira era o pau que liso, linheiro e sem nó. O patrão fez uma careta de raiva e Malasartes perguntou: 

– Zangou-se, meu amo e senhor? 

O patrão, para não perder a aposta disse: 

– De jeito nenhum, meu caro. 

No dia sequinte, quarto dia de trabalho do Malazartes na Fazenda, o patrão mandou que ele levasse o carro e a junta de bois, para dentro de uma sala numa casinha bem perto, sem passar pela porta. E para atrapalhar ainda mais, fechou a porta e escondeu a chave. 

Malasartes agarrou um machado e fez o carro em pedaços, em seguida matou e esquartejou os bois e os sacudiu, carnes e madeiras, pela janela, para dentro da sala. O patrão quando viu fez uma careta de raiva e Malasartes perguntou: 

– Ficou com raiva, meu amo e senhor? 

O patrão, mais uma vez, para não perder a aposta respondeu: 

– De jeito nenhum, meu caro. 

A noite o patrão ficou pensando como pegar aquele cabra tão vivo. Levantou-se de supetão, foi até a rede onde Malasartes estava dormindo, o acordou, ordenando: 

– Você vai agora mesmo vender meus porcos lá na feira. 

Malasartes não contou duas vezes e levou mais de quinhentos porcos para vender na feira. Antes porém de fazer o grande negócio, cortou todos os rabos dos porcos. Vendeu os porcos bom um preço muito bom, além do preço que pagavam no mercado, dizendo ser aqueles porcos de uma raça muito especial. Voltando para casa, enterrou todos os rabos num lamaçal e chegou na casa do fazendeiro aos gritos de desespero dizendo que a porcada toda estava atolada no lameiro. O patrão desesperado correu para ver a desgraça. Malasartes sugeriu cavar com duas pás. Correu para a casa e pediu a mulher do fazendeiro para lhe entregar duas notas de dinheiro para comprar as pás. A velha, que também era tão ruim quanto o marido, não queria dar mas Malasartes para mostrar a ela que era verdade perguntava através de gestos ao patrão se devia levar uma ou duas pás, e o patrão aos gritos respondia: - Traga duas e entregue logo, velha rabugenta. 

Obedecendo as ordens a velha deu as duas notas para Malazartes que tratou de esconde-las nos bolsos que trazia dentro das calças escondidos. Voltou para o lameiro, reclamou da surdez da velha mulher do patrão que não lhe entregou as pás, entrou no lameiro e começou a puxar os rabos dos porcos que dizia estar enterrado, e ia ficando com todos nas mãos. O Patrão fez uma careta horrível de raiva e Malazartes perguntou: 

– Está zangado, meu amo e senhor? 

E o patrão, fulo de raiva, mas sem querer perder a aposta, respondia: – De jeito nenhum, meu caro, de jeito nenhum. 

De noite, sozinho, pensando no que estava ocorrendo e vendo que a cada dia aquele empregado o deixava mais pobre, o fazendeiro resolveu o matar o mais rápido possível, de um modo que ninguém desconfiasse e que ele não tivesse problemas com a justiça. Pensou, rolou na cama, e pronto, já tinha o golpe certo, tão certo que Malasartes nunca vai descobrir, pensou erradamente o patrão assassino. Levantou-se aos gritos chamando Malasartes e esse como um raio entrou pela porta e já estava bem na frente do patrão. 

– Pois não, meu amo e senhor. 

O patrão olhou bem para o seus olhos e disse: – Meu filho, como sei que você é muito eficiente e como estou muito satisfeito com o seu trabalho, vou lhe incumbir de uma tarefa muito difícil e árdua. 

Malasartes respondeu. 

– Diga logo, meu amo e senhor, estou pronto a lhe servir da melhor maneira possível, como sempre fiz. 

O patrão quase morreu com um acesso de tosses. Respirou e disse a Malasartes. 
– Ultimamente anda rondando a minha casa e me roubando um ladrão desconhecido. Tome aqui essa arma. Eu fico vigiando primeiro, já tô sem sono, quando for de madrugada, antes do galo cantar, você vem me render. 

A idéia do derrotado patrão, era atirar em Malasartes e dizer a polícia que tinha se enganado, pensando que era o ladrão. 

De madrugada, assim como tava combinado, Malasartes olhou pelo buraco da fechadura e viu encostado na cerca, armado até os dentes, o patrão. Deu volta pelo oitão da casa grande, entrou pela porta da cozinha, subiu para o quarto do velho e começou a acordar a velha, dizendo que o seu marido a esperava lá fora no curral, e que era melhor ela levar a espingarda dele, que tava bem carregada, pois se ela visse o ladrão podia plantar chumbo nele. 

A velha pegou a espingarda e saiu. Quando chegou bem perto da cerca do curral, o patrão pensando que era o Malasartes começou a atirar na velha, acertando um tiro bem no peito. Pensando que tinha matado o Malasartes e só para se certificar da conclusão do trabalho, foi chegando para perto para olhar. 

Qual não foi o seu espanto ao ver a sua velha mulher estatelada agonizando no chão. Naquela hora, Malazartes chegou por traz dele, chorando e o acusando de ter matado a mulher e dizendo: 

– Vou agora mesmo contar a polícia que o senhor é um assassino. O patrão num aperreio danado, não sabia se acudia a mulher ou se tentava convencer a Malasartes para não o denunciar. Malasartes, olhou pra ele e perguntou com uma cara chorosa e safada. 

– Tá com raiva, meu amo e senhor?

O patrão respondeu: 

– De forma alguma, meu caro, porém me diga logo quanto quer pra ficar calado e quanto quer pra sumir da minha fazenda e da minha vista? 

Malazartes cobrou muito caro, pegou muito dinheiro, deixou o fazendeiro liso e pobre e voltou rico, vingado e satisfeito para casa de seus pais, cantando: 
Sou mala sem ser maleiro
sou ferro sem ser ferreiro
sou nordestino e brasileiro, 
eternamente herdeiro
do meu passado estrangeiro. 

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