Segunda metade da década de 1960. O prefeito era o Doutor Luiz Moreira de Carvalho, médico, nascido mineiro em Divisa Nova, pioneiro maringaense aqui chegado em 1949. A prefeitura funcionava ainda no prédio antigo, na esquina das avenidas Getúlio Vargas e 15 de Novembro.
Num certo dia lá chegou solicitando audiência com o prefeito um famoso ator que na época fazia sucesso no cinema e nas primeiras produções da televisão brasileira. Virou festa o paço. Funcionários e outras pessoas que no momento estavam no local se alvoroçaram pedindo autógrafos. Doutor Luiz foi informado, mandou o moço entrar e o recebeu com as devidas honras.
O ator estava na cidade para apresentar uma peça de teatro e queria um favorzinho, não me lembro se um patrocínio ou isenção de algum imposto ou taxa. O prefeito perguntou se o espetáculo seria público ou em recinto fechado, com ingresso pago. Sim, o ingresso seria pago, explicou o galã.
Doutor Luiz coçou os fartos bigodes, deu um sorriso meio encabulado, pegou a garrafa térmica na mesa ao lado, serviu um cafezinho ao visitante. Em seguida, com aquele vozeirão de Herón Domingues, caprichou na diplomacia: “Pois é, meu jovem, sou um admirador seu, aprecio muito o seu talento artístico, porém lamento não poder atendê-lo. Como o senhor sabe, lido com dinheiro do povo, que como tal só pode ser gasto quando em benefício da coletividade”.
Continuou: “Se o senhor fosse um artista amador residente em Maringá, e sua apresentação fosse feita com entrada livre, tudo bem. Mas o senhor é um ator profissional e vai receber justa remuneração pelo seu belo trabalho; portanto, como qualquer outro profissional, estará sujeito às normas fiscais vigentes no município. Desse modo, peço que me desculpe, mas não tenho como deferir seu pedido”.
O moço se levantou, deu um abraço no prefeito, respondeu: “Doutor, o senhor acaba de me dar uma grande lição de civismo. Não vou jamais esquecer isso. O senhor tem toda a razão e quem pede desculpa sou eu. Se me permite, vou lhe deixar dois ingressos de cortesia. Será uma honra enorme tê-lo na plateia, juntamente com sua esposa”.
Doutor Luiz agradeceu: “Aceito com alegria, mas faço questão de pagar, como qualquer outro espectador”.
Puxou a carteira, fez o pagamento e pediu um autógrafo do ilustre.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 9-7-2020)
Fonte:
Texto enviado pelo autor.
Num certo dia lá chegou solicitando audiência com o prefeito um famoso ator que na época fazia sucesso no cinema e nas primeiras produções da televisão brasileira. Virou festa o paço. Funcionários e outras pessoas que no momento estavam no local se alvoroçaram pedindo autógrafos. Doutor Luiz foi informado, mandou o moço entrar e o recebeu com as devidas honras.
O ator estava na cidade para apresentar uma peça de teatro e queria um favorzinho, não me lembro se um patrocínio ou isenção de algum imposto ou taxa. O prefeito perguntou se o espetáculo seria público ou em recinto fechado, com ingresso pago. Sim, o ingresso seria pago, explicou o galã.
Doutor Luiz coçou os fartos bigodes, deu um sorriso meio encabulado, pegou a garrafa térmica na mesa ao lado, serviu um cafezinho ao visitante. Em seguida, com aquele vozeirão de Herón Domingues, caprichou na diplomacia: “Pois é, meu jovem, sou um admirador seu, aprecio muito o seu talento artístico, porém lamento não poder atendê-lo. Como o senhor sabe, lido com dinheiro do povo, que como tal só pode ser gasto quando em benefício da coletividade”.
Continuou: “Se o senhor fosse um artista amador residente em Maringá, e sua apresentação fosse feita com entrada livre, tudo bem. Mas o senhor é um ator profissional e vai receber justa remuneração pelo seu belo trabalho; portanto, como qualquer outro profissional, estará sujeito às normas fiscais vigentes no município. Desse modo, peço que me desculpe, mas não tenho como deferir seu pedido”.
O moço se levantou, deu um abraço no prefeito, respondeu: “Doutor, o senhor acaba de me dar uma grande lição de civismo. Não vou jamais esquecer isso. O senhor tem toda a razão e quem pede desculpa sou eu. Se me permite, vou lhe deixar dois ingressos de cortesia. Será uma honra enorme tê-lo na plateia, juntamente com sua esposa”.
Doutor Luiz agradeceu: “Aceito com alegria, mas faço questão de pagar, como qualquer outro espectador”.
Puxou a carteira, fez o pagamento e pediu um autógrafo do ilustre.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 9-7-2020)
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Texto enviado pelo autor.
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