sábado, 22 de agosto de 2020

Chaguri e Bertoletti (A Internet como Espaço Virtual para o Incentivo à Literatura)

Artigo de Jonathas de Paula Chaguri (PG-UEM/FAFIPA), Vanessa Alves Bertolleti (PG-UEM), Mário Luiz Neves de Azevedo (Orientador – UEM), em 2009.

1. INTRODUÇÃO

A Internet, este poderoso instrumento de comunicação e informação, vem se disseminando velozmente no mundo inteiro. Sua utilização se faz presente em diferentes setores da sociedade carregando, na sua essência, um potencial de impulsionar processos de mudanças paradigmáticas. Parece impossível imaginar um computador sem acesso a internet. Apesar de seu surgimento ser mais recente que a invenção do computador pessoal e a sua popularização ter ocorrido algumas décadas depois, hoje, a falta de acesso à grande rede torna um computador semelhante a uma televisão sem os telejornais, telenovelas e filmes, de fato muito incompleta. Os recursos da internet aplicados no ambiente educativo podem contribuir qualitativamente no desenvolvimento de novas posturas educacionais. Entretanto, para que ela possa ser usada pedagogicamente na sua plenitude, é fundamental que o educador domine esta tecnologia, ou seja, conheça seu potencial técnico para que possa explorá-la adequadamente. Muito se têm escrito sobre a ligação da educação com tecnologia e, com isto, levantado questões acerca do papel da escola e do educador na Sociedade Informática. Conforme Schaff (1991), o termo Sociedade Informática é utilizado para caracterizar uma sociedade onde tecnologias informatizadas se fazem presentes em todos os processos de atividades sociais, ou seja, a sociedade em que vivemos. Contudo, este trabalho não se preocupa em buscar respostas a essas questões, mas sim, objetiva-se relatar alguns caminhos de como a Internet pode ser um recuso utilizado por autores eleitores para uma expansão da literatura.

2. O COMEÇO DE TUDO

De acordo com Castro & Silva (2008) a internet começou a ser idealizada e criada entre os anos 60 e 70 pelo governo norte-americano em tempos de guerra fria, com a intenção de garantir segurança e agilidade na troca de dados entre bases militares. Passaram-se algumas décadas até a rede mundial de computadores ganhar a utilidade que possui hoje. Desde o início da Internet em termos mundiais, é registrada a criação de páginas de conteúdo voltado às atividades e criações dos próprios autores. Entre elas estão os ezines ou zines[1] eletrônicos, que por sua vez são a adaptação dos fanzines/zines impressos em papel, com conteúdo artístico e cultural não necessariamente profissional (CASTRO & SILVA, 2008). Contudo, estes tipos de publicação eram difíceis de serem encontradas devido a falta de ambiente virtual da época.

Basicamente duas palavras parecem ser essenciais para caracterizar o termo Weblog[2]: velocidade e facilidade. Essas duas características que compõe o Weblog na criação das páginas, na sua publicação, atualização e principalmente na interação com os leitores. “De acordo com a idéia de publicação de conteúdo original, livre e amador, o termo Weblog  foi concebido pelo americano Jorn Barger em 1997” (CASTRO & SILVA, 2008, p. 694).

O termo Weblog é a justaposição de duas palavras inglesas web (rede, sinônimo de Internet) e log (registro). Este termo é para designar um tipo especial de site, que mostrava informações em ordem cronológica (diária), e misturava a tradicional estruturadas páginas com mecanismos de interação. Em 1998 estes tipos de páginas se multiplicaram e foram surgindo páginas na internet como The Eatonweb Porta de Brigite Eaton e Blogger.com [3] criado pela empresa Pyra Entertainment de Evan Willians, que, além de fornecer um portal para sites com os critérios acima descritos, posteriormente oferecia ferramentas para novas criações destes tipos de site, com facilidades jamais vistas na Internet. Assim, passa a surgir os primeiros editores de Weblogs na Internet. Peter Merholz, respeitado jornalista americano, em 1999 disse ser inevitável que a pronúncia de Weblog passaria para somente blog e o editor de Blog para Blogger como realmente ocorreu em todo o mundo (CASTRO & SILVA, 2008).

Desse modo, através dos primeiros Blogs em 1999 a mídia passa a dar mais atenção a essa forma de expansão de ideia de publicação de conteúdo original, livre e amador criando os primeiros softwares[4] como o Blogger.com que possibilitava a criação e manutenção de um Blog, mais fácil, sem qualquer conhecimento e/ou custo desse recurso na Internet. Neste sentido, os Blogs são páginas de Internet que são atualizadas com frequência e seus conteúdos dependem unicamente do que o autor desejar publicar. A maioria deles possui um sistema de comentários para cada entrada, sendo o post [5] do Blog em que o visitante pode exprimir sua opinião em tempo real sobre o que leu. A liberdade de expressão e a rápida recepção da resposta são o ponto forte do Blog. O autor pode publicar o que quiser, sem intermediários e obter respostas de qualquer público, anonimamente ou não.

Alguns Blogs narram apenas fatos do cotidiano irrelevantes para a maioria das pessoas. Outros têm um tema fixo, como por exemplo, um seriado de televisão. Ainda, há os que simplesmente não têm tema, abordando de tudo um pouco e ainda os jornalísticos, cômicos, políticos, críticos e dentre outros.

Houve um significante crescimento dos Blogs nos últimos anos, e isso, levou com que as ferramentas dos blogs também se expandissem para sanar as necessidades dos usuários para um melhor layout [6] do texto publicado no Blog. Assim, uma das ferramentas que consolidou o uso diário dos Blogs na Internet foi o permalinks [7] que possibilita a participação de mais de um autor em um mesmo Blog dando início aos Blogs coletivos. Também o microblogging outra ferramenta criada para dar apoio aos usuários de Blogs que por sua vez, possibilita a criação de uma página, muitas vezes interligada ao Blog de outro autor, na qual só se publica posts de até 140 caracteres.

3. OUTROS RECURSOS

Além dos Blogs, cuja criação está ao alcance de literalmente qualquer pessoa com acesso à Internet, há além das revistas e periódicos virtuais os hipertextos [8].O hipertexto possui uma natureza especial que aponta algumas características determinantes próprias.

a) O hipertexto é um texto não-linear: apresenta uma flexibilidade desenvolvida na forma de ligações permitidas/sugeridas entre nós que constituem redes que permitem a elaboração de vias navegáveis. (...)

b) O hipertexto é um texto volátil: não tem a mesma estabilidade dos textos de livros, (...) e todas as escolhas são tão passageiras quanto às conexões estabelecidas por seus leitores, sendo um fenômeno essencialmente virtual;

c) O hipertexto é um texto topográfico: não é hierárquico nem tópico, por isso ele é topográfico (...) um espaço de escritura e leitura que não tem limites definidos para se desenvolver;

d) O hipertexto é um texto fragmentário: consiste na constante ligação de porções em geral breves com sempre possíveis retornos ou fugas; carece de um centro regulador imanente, já que o autor não tem mais controle do tópico e do leitor;

(e) O hipertexto é um texto de acessibilidade ilimitada: acessa todo tipo de fonte, sejam elas dicionários, enciclopédias, museus, obras científicas, literárias, arquitetônicas etc. e, em princípio, não experimenta limites quanto às ligações que permite estabelecer;

(f) O hipertexto é um texto multisemiótico: caracteriza-se pela possibilidade de interconectar simultaneamente a linguagem verbal com a não-verbal (musical, cinematográfica, visual e gestual) (...).

(g) O hipertexto é um texto interativo: procede pela interconexão interativa (...) que, por um lado, é propiciada pela multisemiose e pela acessibilidade ilimitada e, por outro lado, pela contínua relação de um leitor-navegador com múltiplos autores em quase sobreposição em tempo real, chegando a simular uma interação verbal face-a-face (MARCUSCHI, 2002, p. 92).

Conhecendo as características desta tipologia textual fica evidente a inserção do Blog como “filiado” diretamente ao hipertexto. Na verdade todas as características hipertextuais se mostram presentes na maioria dos Blogs.  Contudo, a principal característica que difere tenuamente um Blog em relação aos outros tipos de hipertexto é a ênfase dada à interatividade. Segundo Snyder (1997) o hipertexto obscurece os limites entre escritores e leitores. Estes papéis de autor e leitor, no caso do Blog, se revezam em uma sobreposição em tempo real, levando a uma interação mais profunda e reflexiva de ambos, chegando em alguns casos a simular uma conversa face-a-face.

Tanto nos Blogs quanto em outros hipertextos o leitor é o protagonista. É ele quem escolhe seus caminhos, buscando as informações que deseja, no momento e na ordem que julgar mais interessante, ou seja, acaba a seu modo, também produzindo o texto à sua maneira. Contudo, no caso dos Blogs esta interação não se limita apenas a escolhas. Faz com que o leitor se sinta à vontade para dividir o espaço com o autor da página, colocando como desejar suas próprias ideias. Apesar de ainda não nos convencer do porquê do sucesso dos Blogs, principalmente entre os jovens, este tipo de ferramenta da Internet é um site comum e tão interessante quanto difícil de se montar. Neste ponto, portanto, parece surgir o principal motivo de seu sucesso: a facilidade de criação e atualização. Montar e atualizar um Blog são tarefas relativamente muito simples, requer o mínimo de informática e o máximo da criatividade. Basta que o interessado se cadastre gratuitamente em algum site editor de Blogs, escolha um modelo pré-definido e está apto a escrever sobre o que desejar com a certeza de seus textos estarem à disposição, instantaneamente, a milhões de pessoas mundo afora. Para atualizar há a mesma facilidade. O texto é escrito diretamente em espaços do site editor e em seguida é publicado, podendo ser inseridas figuras, fotos, ou diversas outras mídias, em uma mesma publicação.

Nada muito diferente é o sistema de comentários, disponível na maioria dos Blogs. Logo após a leitura de uma determinada publicação o visitante, por meio de um simples clique é convidado a expressar sua opinião sobre o que leu. Assim, é só escrever e publicar.

4. OS RECURSOS DA INTERNET NA EDUCAÇÃO

Conforme relata Pais (2002) o uso da informática na educação não se deve restringir às salas e laboratórios de informática. Especialmente devido ao fato de nem sempre existirem condições físicas e materiais adequados para essa prática, que abranjam todos os alunos uniformemente. A Internet é mais um recurso onde se pode encontrar vários tipos de aplicações educacionais. Conforme Moran (1998, apud FAQUETTI, & OHIRA, 1999, p. 49) destaca os seguintes recursos:

• de divulgação: a divulgação pode ser institucional, mostrando seus objetivos e o que a escola possui como também pode ser específica da biblioteca, dos professores, dos alunos ou de grupos organizados da escola que divulgam seus trabalhos, projetos ou ideias.

• de pesquisa: a pesquisa pode ser feita durante as aulas ou fora dela; na biblioteca ou nas salas de laboratório; pode ser uma atividade livre ou obrigatória, individual ou em grupo;

• de apoio ao ensino: nas atividades de apoio ao ensino pode-se obter textos, imagens, sons dirigidos ao programa desejado, utilizando-os como um elemento a mais junto com os livros, revistas e vídeos;

• de comunicação: novas práticas de comunicação são desenvolvidas nas escolas. Correio eletrônico, Web, listas e grupos de discussão são alguns dos recursos utilizados. Eles proporcionam encontros virtuais entre pessoas, possibilitam a formação de grupos específicos com interesses afins para trocas de informação.

Nesta perspectiva, a partir dos pressupostos apresentado acima é imprescindível refletir sobre o papel do professor. Como fazer com que os alunos tenham contato com novas tecnologias quando estas estão tão próximas de alguns e ao mesmo tempo tão distante de outros? Devemos considerar que a escola e a sala de aula não são as únicas instâncias do sistema de aprendizagem. O aluno recebe informações diariamente de diversas outras fontes não somente na escola, e isto, não pode ser ignorado pelo professor. Na verdade, é neste momento que surge a necessidade do aproveitamento dessas informações extra classe para um relacionamento mais profundo entre o novo e o já conhecido, efetivando assim o aprendizado por completo.

Por conseguinte, ao resgatarmos o objetivo central desse trabalho: relatar alguns caminhos de como a Internet pode ser um recuso utilizado por autores e leitores para uma expansão da literatura, nota-se que é possível propiciar incentivo a literatura como forma de cultura e de formação, utilizando meios que possibilitem a nossos alunos, leituras prazerosas e interessantes, não somente por meio de materiais impressos como livros didáticos e obras literárias, mas também, por meio de outros tipos de leitura, como a jornalística, crítica, esportiva, e sem dúvida, a ‘literária’, devido a sua importância na vida estudantil do aluno, e por ser um dos tipos de leitura mais difíceis de ser apreciada por eles. Assim, sabendo que a Internet é uma das principais fontes de leitura de nossos alunos por que não incentivar o uso de ferramentas como os hipertextos e Blogs para a expansão da literatura?

O professor jamais perderá sua autonomia, mas certamente receberá muito em troca, se orientá-los corretamente, ajudando-os a selecionar e diferenciar os bons conteúdos dos conteúdos fúteis e incompletos existentes em abundância na grande rede. Uma sugestão é promover leituras de hipertextos que contenham conteúdos literários que instiguem o aluno, aguçando sua curiosidade a pesquisar mais informações, a ponto de conseguirem por si só compreender que da diversidade, deve-se buscar qualidade. O que deve ficar evidente é a necessidade de uma atenção especial de nossa parte, educadores, às mudanças e às novidades que se fazem presentes no nosso dia-a-dia e, consequentemente, no dia-a-dia de nossos alunos. A partir do reconhecimento desta realidade fazermos o possível para aproveitá-la de modo eficiente em nossa prática docente, deixando de lado pré-conceitos que possam nos impedir de aproveitar as oportunidades. Que nos impeçam de enxergar no novo, algo instigante e ainda com muitas possibilidades a serem exploradas.

5. CONCLUSÃO

As novas tecnologias de informação, mais especificamente a Internet, têm contribuído para que mudanças paradigmáticas ocorram-nos diversos setores da sociedade. A educação também passa por este momento de transformação onde os conceitos são rediscutidos, reformulados e o novo está em construção. O uso da Internet como recurso de informação e comunicação nas instituições de ensino cresce gradativamente. Sua ampliação está vinculada a existência de uma infraestrutura adequada; ao conhecimento operacional da Internet e suas aplicações educacionais; e ao planejamento de sua inserção como instrumento de trabalho para respaldar os objetivos educacionais.

Neste sentido, o Mercado Editorial lança mão de uma união com rede de computadores a fim de propiciar uma divulgação de ideias, e até mesmo, em proporcionar uma circulação de textos literários para o alcance do público leitor. Assim, dentre os vários espaços em que se desenvolve o processo de expansão editorial de textos literários em um meio de divulgação em massa, destaca-se a“Internet”, que por meio de suas ferramentas possibilita a nossos alunos, leitura e construção de uma nova literatura, não nos moldes impressos, como revistas e livros didáticos e literários, mas em blogs, hipertextos, sites de revistas, livros e, especialmente, sob os olhos dos autores que lêem leitores que escrevem e todos que, nesse cenário, se destacam.

REFERÊNCIAS

CASTRO, A. G. M; SILVA, M. L. A Literatura Brasileira em Tempos de Internet: blogs, microblogs e outros logs. In: II Congresso de Linguagens em Interação. II CONALI. Universidade Estadual de Maringá, Anais..., 2º, 2008. p. 693-703.Maringá – PR.

FAQUETTI, M. F; OHIRA, M. L. B. A Internet como Recurso na Educação: contribuições da literatura. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina. Florianópolis, V. 4, N. 4, 1999.

MARCUSCHI, L. A. O hipertexto como um novo espaço de escrita em sala de aula. In: Revista Linguagem & Ensino. Vol. 4. Nº 1, 2001. p. 79-111.

PAIS, L. C Educação escolar e as tecnologias da Informática.  Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

SNYDER, I. Hypertext. The electronic labirinth. Washington. New York University Press, 1997.

SCHAFF, A. A sociedade Informática. São Paulo. Unesp/Brasiliense, 1991.
****************************************

NOTAS:

[1] Do inglês “fanzine”; tipo de impresso artesanal de conteúdo cultural/artístico.

[2] Equivalente a “registro (log) na rede (web)”, no sentido de registrar (algo escrito) na Internet.

[3] Um dos primeiros sites a hospedar e oferecer ferramentas específicas para blogs.

[4] É um programa de computador, pela qual o sistema/serviço é oferecido por determinado site.

[5] Denominado como “postagens”; cada um dos registros/textos inseridos pelo autor do blog.

[6] Parte visual design de um site, também chamada de template.

[7] Links permanentes que facilitam as referências. Nos blogs, estes links direcionam para um post específico, sem que o leitor tenha que buscar o conteúdo.

[8] É um texto eletrônico, isto é, um texto cujo espaço de escrita é a tela do computador e se pode fazer uma relação óbvia entre blog e hipertexto

Fontes:
CHAGURI, Jonathas de Paula; BERTOLLETI, Vanessa Alves; AZEVEDO, Mário Luiz Neves de. A internet como espaço virtual para o incentivo a literatura. In: SINAGEL – Simpósio Nacional de Pesquisa em Estudos Literários. 1, 2009, Maringá. Anais... Maringá, 2009, p. 591 -596.

Imagem = Prefeitura Municipal de Vila Velha/ES
https://www.vilavelha.es.gov.br/noticias/2020/07/biblioteca-virtual-com-classico-da-literatura-e-filme-ganhador-do-oscar-31093
 

Nota do blog: O artigo foi postado em sua íntegra com as devidas fontes. Apenas alguns parágrafos foram divididos para uma melhor visualização, para não ficar um bloco muito extenso.

Nenhum comentário: