quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Claudemiro Amaral (Poemas Avulsos)


ALMAS ENCARCERADAS

Velhas saudades dos meus tempos idos
repetem hoje, ao te fitar — Peti!
Lá do passado, sonhos esquecidos
cobrem de amor meu coração por ti!

No teu olhar mais divinal eu vi
partirem certos, para os meus sentidos,
laços de amor... e me desfaleci…
Pois somos ambos já comprometidos!...

Como explicar deste mistério o enredo?
se há pecado?... e no pecar faz medo?...
Mistério, pois... mas essas ondas passam!

Pois nosso amor, que é divinal, consola,
balsamizando sempre, por esmola,
as nossas almas quando se entrelaçam!
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BUSCANDO A VERDADE


Vale pensar maduramente e crer,
vendo a verdade em toda parte estar!
Vale buscar para depois saber
que quem procura sempre há de encontrar!

Mas o saber que em tudo faz vibrar
mostra a verdade a palpitar no ser!
Se na distância ela nos faz pensar,
dentro de nós ela nos faz crescer...

Pois o saber, como a estrela-guia,
mantém-se oculto; mas, pra quem confia,
sem ser preciso ele apalpar, nem ver,

ele perdura e sempre está presente,
vendo o passado a refletir na frente,
por luz suprema a palpitar no ser...
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EU SINTO


Eu sinto em mim uma saudade imensa!
Certo desejo, talvez sede ou fome!
Sinto minha alma em vibração suspensa!
Sinto a verdade me mudando o nome...

Sinto, não nego, que uma luz consome
a densa treva como recompensa,
mas o segredo social que tome
outro caminho onde há respeito e crença!

Eu sinto fome... fome de saber!
Eu sinto sede é de me ver crescer
no meu saber para matar a fome!.,.

Eu, vendo a treva a consumir quem erra,
vejo a virtude aproximar da terra,
como a verdade me mudando o nome!
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FRATERNIDADE


Quero falar sem atacar. Porém,
nunca fugi, falando a verdade.
Mostrar defeito em quem talvez não o tem
é sinal vivo de perversidade!...

Pra ser sincero, contra tal maldade,
o melhor mesmo é só fazer o bem...
mas, do abuso contra a liberdade,
é bom mostrar sem ofender ninguém!

Quem porventura pode ser isento
da sutileza, do sagaz fermento
que nos envolve, a toda humanidade?

Quem assim for que lave então a mão;
mas que respeite sempre o seu irmão
no doce afeto da fraternidade!...
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MAGIA DIVINA


A luz acende... E, sem mostrar aonde
fica o mistério em combustão no ser:
se em plena luz onde a virtude esconde,
se na magia que lhe faz nascer!...

Se no segredo que lhe faz crescer,
se na ciência que não me responde,
se dentro em mim me conduzindo a ver
no próprio éter, onde o mistério esconde!

Eu sou na carne um embrião movendo..
sou luz no éter devagar crescendo:
um vivo morto pra depois nascer...

Imerso em trevas sem achar saída!
como centelha a navegar perdida,
buscando a vida para à luz volver!
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OBRA-PRIMA


Do protoplasma até o corpo ereto
que dorme a vida em embrião latente:
transmuta a vida e vai nascer na frente
no ser sublime e já de amor repleto!...

É a própria vida que palpita e sente
necessidade de fazer completo,
no ser vivente, um embrião secreto
reproduzindo e transformando a gente!

Vivendo o corpo, em células reparte
deixando à vida uma função de amor
onde o saber vem revelando a arte...

Como oficina gera mais calor:
vem a função que multiplica e parte
a obra-prima para o CRIADOR!...
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O MEU RESPEITO


Do meu respeito vem felicidade
como ornamento do meu ser pensante!
Tudo eu respeito... a própria iniquidade,
Por um dever que encontrei distante...

Aqui, porém, como um farol brilhante
está a luz... a própria liberdade!
A decantada e como um astro errante,
mas que nos cobre de felicidade.

Mas do abuso nasce a anarquia:
nasce a vileza na "democracia",
o vitupério na "religião".

Nasce o fermento da sociedade...
Nasce o descaso — nasce a falsidade
e desrespeito por qualquer Nação!

Fonte:
Aparício Fernandes (org.). Anuário de Poetas do Brasil – Volume 4. Rio de Janeiro: Folha Carioca, 1979.

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