AMOR OCULTO
Talvez não saibas quanto te venero,
e nem percebas tanto amor ardente,
mas, mesmo assim, eu te amo ocultamente,
e quanto mais te vejo, mais te quero!
Tenho por ti um grande amor sincero,
que o peito meu cativa e alegra a mente,
a paz não tenho quando estás ausente,
aflijo-me sem ver-te, e desespero.
Sinto alegria por te ver sorrindo,
mas, se tu partes, a minha alma chora,
pela tristeza de te ver partindo...
Ah! se eu pudesse possuir-te agora,
pra te adorar, feliz, num sonho infindo,
e amar-te sempre pela vida afora!
CIGARRAS
Soando como acordes de guitarras,
nas frondes do arvoredo, na devesa,
maravilhado ouvia, com surpresa,
a estranha sinfonia das cigarras!
Era um cantar festivo, em algazarras,
a ressoar no espaço — uma beleza,
qual um concerto nobre à Natureza,
com voz vibrante e aguda das fanfarras!
Cigarra, nos teus cantos irradias
a tua mágoa, as grandes nostalgias...
e de saudade choras em teu hino!
Canta cigarra, canta assim dolente,
o teu cantar sonoro agrada a gente
e faz lembrar meus tempos de menino!
ETERNO PEREGRINO
Fiquei do teu olhar sem a ternura
e solitário sigo o meu caminho.
Por que no amor encontro tanto espinho?
Por que me traz o amor tanta amargura?
Sem ti, vivo a curtir tamanha agrura,
mas é Destino meu viver sozinho,
em um amor, sem lar e sem carinho,
na triste solidão que me tortura.
Por que te conheci, se o meu Destino
torna-me eterno e triste peregrino
me arrebata os entes meus tão caros?
Que importa a vida assim, sem ter sentido
Se o teu olhar não vejo e estou perdido?
Se os dias meus felizes me são raros?
MARIELA
Alma inocente — lírio de candura,
em pleno alvor da vida foi-se embora,
alçou-se para o Azul, espaço afora,
buscando sua pátria a grande altura.
Os anos não apagam a figura
dessa alma que partiu mas inda mora
num coração de pai que a rememora,
numa saudade eterna e com ternura.
Sua partida foi-nos deprimente,
quão doloroso o seu adeus pungente,
pela tristeza e a mágoa de perdê-la!
O Céu, que a humana sorte determina,
traçou-nos tão amarga e triste sina,
mas nos permitirá um dia vê-la!
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MEU PAI
Nos meus distantes tempos de criança,
meu pai eu via, sóbrio, mas amigo,
a proteger-nos sempre do perigo,
a transmitir-nos sempre confiança.
Os tempos se passaram, e a lembrança
dos bons conselhos seus, que ainda sigo,
revela-me a nobreza que bendigo,
do pai que nos traria segurança.
Mui triste, um dia, vi meu pai velhinho:
tinha os cabelos brancos como arminho,
chegara, enfim, cansado, ao fim da vida.
Levaram-no pra sempre: ia dormindo.,.
sereno como um justo, o vi partindo,
e… então, rolou-me a lágrima incontida!
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SAUDOSA MARÍLIA
Choramos tua morte prematura,
a tua sorte má, teu sacrifício;
porém não é a morte um malefício,
para quem ama e vive com ternura.
Choramos pela tua desventura,
sofremos pelo teu atroz suplício;
mas para o justo a morte é beneficio
que traz a luz e a paz da Grande Altura.
Descanse em paz tua alma tão sofrida.
De ti lembrar-se~ão por toda vida
as tuas inocentes sete flores!
No coração de todos, na saudade,
tu viverás por toda a eternidade,
e hão de cessar, pra sempre, as tuas dores!
VÉSPER
Meus olhos na vigília já cansados,
buscando amor na noite dos meus dias,
perdidos em tristeza e nostalgias,
radiosa estrela viram deslumbrados!
Vênus formosa, mãe dos meus pecados!
Deusa do Amor, das ternas alegrias,
envolve-me num sonho, em fantasias,
oh! vem suavizar meus tristes fados!
Quem te enviou, divina, ao meu caminho?
Vens me trazer ternura, amor, carinho,
eliminar pra sempre as minhas dores?
Meu coração é teu, vem aos meus braços,
ó luminosa Vésper dos Espaços!
dá-me os afagos teus, os teus amores!
Fonte:
Aparício Fernandes (org.). Anuário de Poetas do Brasil – Volume 4. Rio de Janeiro: Folha Carioca, 1979.
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