sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Samuel da Costa (Poemas Escolhidos) IV


FLORESCER
Para Flaubert Brutus

Estou aqui!
Não dobrei a esquina!
Não desapareci por completo,
Não sangrei até morrer...
Em praça pública,
Como alguns bem queriam.

Estou aqui...
Não evanesci mata adentro!
Não fugi para o Quilombo...
Não ouvi os cães ladrarem.

Ainda estou aqui!
Florescendo a cada dia...
Que passa!
Cada vez mais belo...
Cada vez mais forte...
Não desapareci completamente.
Não sumi das memórias das pessoas.
Floresci em pela luz do dia...
Não fui tragado!
Pelas areias do destino.

Ainda estou aqui...
Bem vivo!
Ainda não desapareci.
No meio da multidão resoluta...

Ainda estou aqui!
E não fui embora...
O tumbeiro não me levou.

Ainda estou aqui!
Negro como a noite...
Mas puro como o dia.
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NÃO! EU NÃO PLANTEI FLORES

Eu não plantei flores!
E nunca vou plantá-las!
Para não vê-las morrerem...
Abruptamente!
Pisoteadas cruelmente,
Pelas botas asseadas...
E lustradas.
Dos soldados desumanizados!
Fortemente armados,
Que em descompassados...
E uniformizados!
Passam em marcha.

Não! Eu não vou semear!
Flores algumas...
Para não vê-las...
Serem arrancadas...
Tiranicamente!
Da floresta negra em chamas.
Pelas mãos inumanas,
Para suprir um mercado em fúria.
Para serem vendidas...
A posteriori!
Em um ávido mercadejo qualquer!

Não! Eu não vou plantar flores!
Para não me desumanizar...
Em demasiado...
Para não ter que levá-las!
No campo-santo...
Em homenagem sepulcral.
Para aqueles que partiram,
Para o além vida...
E nunca mais voltarão!
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AO NASCER DE UM NOVÍSSIMO DIA
(Da série o amor em vermelho)

Ao nascer de um novo dia
Vamos nós dois
Sacrossanta negra musa
Até o vergel das almas perdidas
Sagrar o nosso etéreo amor

No alvor
Ao nascer de um novíssimo dia
Minha musa de ébano
Consagramos
O nosso hialino amor
À beira do místico lago encantado

No amanhecer
Na alvorada nova
Ao nascer de um novo dia
Sagrarmos o nosso divinal amor
Consorte minha
No cósmico altar
Dos deuses e deusas imortais
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DA ÁRVORE DOS ACONTECIMENTOS
(Da série o amor em vermelho)

Não se arvores negra ninfa
Dos nevoentos bosques
Eu fiz as minhas próprias escolhas
Alheias as tuas ignotas vontades

São mãos invisíveis do destino
A te guiar na celestial escuridão
Para longe de mim

Não se arvores aedo de ébano
Tu fizeste as tuas próprias escolhas
Alheias as minhas próprias vontades
Alheias as tuas sibilinas ambições
De ficar ao lado meu

Não se arvores poeta de ébano
Pois são as mãos impossíveis
A me guiar pelas álgidas
Imensidões cósmicas sem fim
Para longe do teu ebúrneo palácio
Das memórias perdidas

Não nós arvoremos negra ninfa
Somos nós dois
Flanando livremente para o além
Das imensidões astrais do hiperespaço

Somos nós dois
Enclausurados no hipertexto
Para todo o sempre
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O EQUILÍBRIO EQUIDISTANTE ENTRE NÓS
(Da série o amor em vermelho)

Pergunte-me tudo
Eu não vou me esquivar de nada
Só não me pergunte
De ontem à noite

Pergunte-me
Tudo o que quiseres
Para mim
Só não me pergunte o que fiz
Ontem à noite
Quando eu tentei em vão
Esquecer-te por completamente

Sobre o ontem à noite
Refugiei-me em mim
Eu não queria te ver novamente
Nem ouvir a tua eufêmica voz
Eu não queria rever a cena dantesca
De nós dois dançando
Na minha mente outra vez

Ontem à noite eu fugi
De nós dois
Não queria ser uma sibilina imagem
Presa em uma moldura digital
Nos teus estribilhos

Ontem à noite
Ao som de músicas impossíveis
Ao sabor do destino
Eu fugi de nós dois
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A MEDIDA DE TODAS AS COISAS
(Da série o amor em vermelho)

Nas medidas de todas as coisas
De todos os inaudíveis sons
Ao redor
De todas as abstratas cores
E de todas negras múltiplas
Escuridões ao meu redor

Nas medidas de todas as coisas
De todos os sintéticos sons
Ao redor
De todas as cores e as não-cores
Ao meu redor
Um simples bom dia teu
Para mim
Já não me basta
Mussulinosa negra ninfa

Nas medidas de todas as coisas
Do meu multiverso apoplético
Minha dulcíssima negra musa
Eu espero que tenhas venerado
Profundamente
De todos os vagos versos agrafos
Que a ti eu dediquei
A beira da fossa abissal

Nas medidas de todas as coisas
Eu espero que tu vás até as janelas
Do ebúrneo palácio das memórias perdidas
E contemple todos os ruidosos ruídos
E todos os silêncios profundos
Ao teu redor
De todas as cores e as escuridões
Ao teu redor

Nas medidas de todas as coisas
Espero que mergulhes
Os teus delicados pés
Nas ebúrneas áreas da praia desolada
Que esvoaces o trigal dos teus cabelos
Ao sabor dos ventos outonais atlântico

Nas medidas de todas as coisas
Espero que não interrompas
As tuas nevoentas quimeras
Nunca mais divina Luna

Fonte:
Poemas enviados pelo poeta.

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