BOLHAS
Olha a bolha d’água
no galho!
Olha o orvalho!
Olha a bolha de vinho
na rolha!
Olha a bolha!
Olha a bolha na mão
Que trabalha!
Olha a bolha de sabão
na ponta da palha:
brilha, espelha
e se espalha.
Olha a bolha!
Olha a bolha
que molha
a mão do menino:
A bolha da chuva da calha!
LEILÃO DE JARDIM!
Quem me compra um jardim
com flores?
borboletas de muitas
cores,
lavadeiras e
passarinhos,
ovos verde e azuis
nos ninhos?
Quem me compra este
caracol?
Quem compra um raio
de sol?
Um lagarto entre o muro
e a hera,
Uma estátua da
Primavera?
Quem me compra este
formigueiro?
E este sapo, que é
jardineiro?
E a cigarra e a sua
canção?
E o grilinho dentro
do chão?
(Este é o meu leilão!)
O CAVALINHO BRANCO
À tarde, o cavalinho branco
está muito cansado:
mas há um pedacinho do campo
onde é sempre feriado.
O cavalo sacode a crina
loura e comprida
e nas verdes ervas atira
sua branca vida.
Seu relincho estremece as raízes
e ele ensina aos ventos
a alegria de sentir livres
seus movimentos.
Trabalhou todo o dia, tanto!
desde a madrugada!
Descansa entre as flores, cavalinho branco,
de crina dourada!
PESCARIA
Cesto de peixes no chão.
Cheio de peixes, o mar.
Cheiro de peixe pelo ar.
E peixes no chão.
Chora a espuma pela areia,
na maré cheia.
As mãos do mar vêm e vão,
as mãos do mar pela areia
onde os peixes estão.
As mãos do mar vêm e vão,
em vão.
Não chegarão
aos peixes do chão.
Por isso chora, na areia,
a espuma da maré cheia.
TANTA TINTA
Ah! Menina tonta,
toda suja de tinta
mal o sol desponta!
(Sentou-se na ponte,
muito desatenta...
E agora se espanta:
Quem é que a ponte pinta
Com tanta tinta?...)
A ponte aponta
e se desaponta.
A tontinha tenta
limpa a tinta,
ponto por ponto
e pinta por pinta...
Ah! A menina tonta!
Não viu a tinta da ponte!
Fonte:
Cecília Meireles. Ou isto ou aquilo. Publicado em 1964.
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