Quando Nosso Senhor andava no mundo ia, de uma feita, com São Pedro e São João, comer uma ovelha que recebera de presente. São Pedro encarregou-se de assar mas, ao tratar, provou os rins e achou-os tão gostosos que os comeu. Na hora do almoço, Nosso Senhor pediu os rins e São Pedro procurou, procurou, e acabou dizendo:
- Esta ovelha não tem rins!
- Não pode ser, Pedro. Todos os animais têm rins!
- Eu sei, mas essa ovelha não os tinha.
Por mais que Nosso Senhor perguntasse, São Pedro teimou em dizer que a ovelha não tinha rins. Nosso Senhor não quis discutir e seguiram viagem.
Lá adiante encontraram um rio e não havia ponte. Nosso Senhor meteu o pé em cima d’água e saiu como se pisasse em terra firme. São João fez o mesmo. São Pedro deu os primeiros passos mas foi-se afundando. Começou a gritar.
- Acode-me, Senhor!
Nosso Senhor dizia:
- Quem comeu os rins da ovelha?
- Sei lá quem os comeu! A ovelha não os tinha!
E afundando, afundando. Nosso Senhor puxou-o pelos cabelos e continuaram a viagem.
Depois iam atravessando um tabuleiro comprido quando apareceu fogo por todos os lados. Estavam queimando para fundar os roçados e a queima pegara no pasto. As labaredas foram subindo e cercando os três homens. Nosso Senhor foi com o mesmo passo, pelo meio do fogo. São João acompanhou-o. São Pedro foi-se queimando todo e gritou:
- Senhor acode-me!
- Quem comeu os rins da ovelha?
- Sei lá? A ovelha não os tinha!
Nosso Senhor vendo que São Pedro ficava estorricado, afastou o fogo e seguiram o caminho.
Pela tarde deram numa casa rica onde o filho único estava morrendo, cercado de médicos. Nosso Senhor aproximou-se do doente, abençoou-o e ele levantou, bonzinho de saúde.
O fazendeiro, morrendo de alegria, deu um saco cheio de moedas de ouro a Nosso Senhor.
Depois da ceia, Nosso Senhor botou as moedas em cima da mesa e dividiu o dinheiro em quatro lotes.
- Para que dividistes o dinheiro em quatro partes? Somos três! perguntava São Pedro.
- Não se agonie, respondeu Nosso Senhor - uma parte é minha, outra de João, a terceira é tua e a quarta de quem comeu os rins da ovelha!
- Fui eu, Senhor, fui eu! gritou São Pedro.
E ficou com as duas partes.
O homem resiste mais à água e ao fogo do que ao dinheiro. O que o dinheiro não arrumar, não tem mais arrumação.
Fonte:
Luís da Câmara Cascudo. Contos tradicionais do Brasil. São Paulo: EDUSP, 1986.
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sexta-feira, 7 de agosto de 2020
Luís da Câmara Cascudo (Os Rins da Ovelha)
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