segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Luiz Damo (Poemas Escolhidos) III


CRIANÇA

Cada vez que surge a flor
traz consigo, além das cores,
toda a magia do olor
que perfuma seus valores.
Na difusa luz do dia
fonte de vida e de paz,
guarda as marcas da harmonia
que sempre nova se faz.
Força impulsionando o ser
feliz por vê-lo crescer
no berço que se compraz.

Voando às asas dos ventos
num passeio à eternidade,
pereniza os bons momentos
com o pólen da amizade.
Assim, torna pleno o passo,
de quem no afã de crescer
dança ao som dum só compasso
o recital do viver.
Manter a estrada florida
deve a margem ser mantida
num eterno renascer.
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CARGA PESADA

Velha carreta de bois
rente à curva do estradão,
dorme cansada, depois,
de rodar num duro chão.
E o carreteiro exaurido
pelas andanças campeiras
descansa por ter cumprido
suas metas condoreiras,
rodas que não rangem mais,
ecos que somem jamais
das lembranças corriqueiras.

Ora transportando feno,
ora um fardo inconformado.
Se hoje parecer pequeno
o que ontem foi transportado,
basta ter olhar sereno
pra ver quanto tem mudado.
Percurso, talvez ameno,
porém não menos pesado.
Quem andar na direção
da carreta ou caminhão
faz deles o seu cajado.
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COLHEITA

Toda a leitura conduz
à sonhada descoberta,
pelo fruto que produz
o afeto ao livro desperta.
Leitura, a ceifa perfeita,
em todas as estações,
farta e constante colheita
no campo das plantações.
Ninguém deixe pra ser feita
à sombra da sala estreita
das cabais desilusões.

Sempre uma nobre razão
nos faça chegar à glória,
fonte que à luz dê evasão
escrevendo em paz a história.
Há momentos que perdemos
o entusiasmo de viver,
porém morrer não podemos,
sem cumprir nosso dever,
cada página que lemos,
uma mensagem colhemos
não sem antes florescer.
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MARCAS DO SER

Na beleza de uma flor
o vigor não se resume,
pode demonstrar a dor
mesmo que espalhe perfume.
Essência, luta e labor,
sob o respaldo do esmero,
farão do batalhador
suprimir o vil desterro
e os reflexos do esplendor,
descrições do semeador
sem rasura e desespero.

As primeiras impressões
sempre vão permanecer,
no arquivo das emoções
e delas nunca esquecer.
Dentre tantas expressões
a última a vir florescer
seja a das confirmações
nas linhas do entardecer.
Que tudo, sem exceções,
nada traga decepções
no rol do perene ser.
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ODE ÀS LETRAS

As doces uvas plantadas
nos ramos do nosso ser,
foram letras enxertadas
nas videiras do viver,
nobres fontes transbordaram
excelsa sabedoria,
as águas se transformaram
em dileta Academia.

Na bandeira vislumbramos
a estrela sempre a brilhar,
nessa luz nos espelhamos
pra também iluminar
e às letras, hoje cantamos,
sob o sol, raro esplendor,
à Academia exultamos
exaltando o seu fulgor.

Um passado de sucesso,
revestido de bravura,
dos anais desse progresso
à egrégia literatura.
Nestas plagas, semeadora,
da cultura universal,
das letras, desbravadora,
no universo cultural.
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PÃO

Daquilo que tem faltado
nas mãos do consumidor,
talvez mais tenha sobrado,
na mesa do produtor,
num desejo redobrado
de se tornar vencedor,
busca o passo tão sonhado
na rota de um lutador,
com vigor fica provado,
ninguém se torna abastado
sem ser um desbravador.

Nosso pão de cada dia
o tenhamos sobre a mesa,
seja a fonte de energia,
dando vida à natureza.
É de ti que vem o pão
louro fruto dos trigais,
alvo pó vindo do grão
celebrado em madrigais.
Ceifado, colhido à mão,
ondulante cobre o chão,
herança dos ancestrais.

Fonte:
Luiz Damo. Pétalas do Quotidiano. Caxias do Sul/RS: Lorigraf, 2012.

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