FUI BUSCAR MEUS AVÓS na rodoviária e, quando chegamos na portaria do prédio onde eu morava com minha família, ao procurar pelas chaves (havia esquecido principalmente a da entrada do edifício), toquei o interfone. Na primeira e segunda vez, ninguém deu sinal de vida. Insisti e, finalmente, na sexta vez, a Francisca, nossa empregada, atendeu, afobada:
— Quem é?
— Abre, Francisca.
— Quem é?
— Eu...
— Eu quem?
— Troncoso
— Ok. Abriu?
— Não...
— Abriu?
— Não...
— E agora?
— Abriu.
Neste interregno, entre o chato indigesto e causticante do abre e o não abre do mecanismo ao ser acionado, meu avô Serafim (lá do interiorzão de Andirá, no Paraná), exumou da sua cabeça branca um velho ensebado e surrado chapéu de palha, se virou para minha avó Lucinda e observou, muito sério:
— Tá vendo, amor? Vê se pode! Nosso neto pensa que somos besta. Espia! Está falando com a parede.
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Nota: Coriscando é o título alusivo a série de contos/crônicas de Aparecido Raimundo de Souza, que hora se inicia, referente a Corisco (faísca, brilho instantâneo), por serem muito breves. Nome sugerido pelo autor do blog, ou seja, eu, José Feldman.
Fonte:
Texto enviado pelo autor.
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