sábado, 10 de outubro de 2020

Prof. Garcia (Trovas que Sonhei Cantar) 10


Anjo do Bem bate palmas,
mostra as mãos com seus sinais;
sê paz e perdão das almas
que encorpam nossos Natais!
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A solidão - dobra quando,
no fim da tarde, eu medito,
ao ver o Sol se apagando
na solidão do infinito!
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Beijaste a flor ressequida
e a rosa mudou de cor;
teu beijo de amor, querida,
mudou a vida da flor!
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De uma roseira, tão pobre,
que lindo gesto o da flor:
Perfuma a casa do nobre,
enche a do pobre de amor!
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Em minhas preces pequenas,
faço um pedido, e afinal...
Quero apenas Pai, apenas,
ser feliz neste Natal!
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Enquanto a noite se aninha,
a saudade me seduz
e a tarde, bela e sozinha
enche os meus versos de luz!
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Escravo, do teu assédio,
refém de tua ternura,
sofro, por não ter remédio,
para um mal que não tem cura!
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Esse orgulho que te ronda,
que entulha o teu peito aflito;
impede que o amor responda
aos apelos do teu grito!
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Hoje, eu despertei cantando,
molhando os pés no mormaço
das nuvens soltas brincando
tecendo rendas no espaço!
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Lembranças, são pergaminhos,
onde o tempo, por maldade,
vai rabiscando os caminhos
dos perfis da mocidade!
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Não temo o tempo que avança!
Envelhecer, na verdade...
É voltar a ser criança
no fim da terceira idade!
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O artista que a tarde pinta,
mostra aos ateus e ao descrente,
que alguém sem pincel nem tinta
pinta a dor do sol poente!
- - - - - –
O cego percebe o filho,
pelo cheiro do suor!...
Por trás desse olhar, sem brilho,
brilha um olhar, muito maior!
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O poeta encontra meios,
de às vezes, mesmo sozinho...
Ser feliz, sem ter receios
da solidão do seu ninho!
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Por descartar teus conselhos,
mas por teu beijo roubado...
Beijo os teus lábios vermelhos
no guardanapo encharcado!
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Por mais que outro alguém te ofenda,
mantém firme a compostura,
que a mão, do tempo, remenda
a cicatriz da amargura!
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Quando a tarde me entristece,
roubando a luz da razão,
pinta no ocaso uma prece
com versos de solidão!
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Rondando o circo do sonho,
num suspiro derradeiro,
velho, o palhaço tristonho,
diz adeus ao picadeiro!
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Saudade!... Eu sei quem tu és;
e em cada sonho desfeito,
fica a sombra de teus pés
tatuada no meu peito!
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Se a cruz redime o pecado,
seu peso nos leva á Luz...
Eu quero o peso dobrado
nos braços de minha cruz!
- - - - - –
Semeia filho, a semente
do amor, que te dei um dia!...
Que um neto meu, certamente,
há de colher alegria!
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Se o remorso se agasalha,
num coração descontente...
Sem gume, é velha navalha
cortando o peito da gente!
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Somos pobres passarinhos,
que a vida, em seus rituais,
dá-nos os mesmos caminhos
com destinos desiguais!
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Tempo!... ó tu, que me devoras,
não sejas ingrato assim!...
Se és tu, meu pastor das horas,
prendas as horas por mim!
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Vivi tão pouco ao teu lado,
mamãe! Contigo sonhei.
Devia ter te beijado
bem mais, do que te beijei!


Fonte:
Professor Garcia. Trovas que sonhei cantar. vol.2. Caicó: Ed. do Autor, 2018.  Livro enviado pelo autor.

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