quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Luiz Damo (Poemas Escolhidos) IV

CRESCIMENTO

De crescer, o ser começa,
a partir do nascimento
e o crescimento só cessa
depois do sepultamento,
a fim de avançar depressa
se acelera o crescimento,
porque todos temos pressa
em conquistar nosso intento,
quando a meta não for essa,
se chega a fazer promessa:
pra alcançar nesse momento.

Talvez a felicidade,
que tanto sonhamos ter,
esteja à nossa vontade
para dela nos valer,
viver com simplicidade
num mundo sempre a crescer,
sem excesso, nem vaidade,
que possa comprometer,
não só como humanidade
mas também na eternidade,
é feliz quem souber SER.
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ESSÊNCIAS


Nunca espere frutos ter
se nada tiver plantado,
sempre acaba sem colher
quem nunca tem semeado.
Portas que só têm sinais
de entrada e não de saída,
quem entrar, talvez jamais,
de lá voltará com vida.
Sejam ternos os fanais,
eternos fachos florais
numa senda colorida.

A primavera nos traz
as primeiras sensações,
que enchem da sublime paz
tão sequiosos corações,
um sorriso transbordante
cobre a face com olores
e no olhar do ser pensante
um ramalhete de cores,
essência aromatizante,
unge e perfuma o semblante
dos sensíveis prosadores.
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MEDIDA CERTA


Peço a Deus que me dê vida
na devida proporção,
se possível na medida
pra cumprir minha missão,
nunca me falte energia
nem vontade de viver,
mostrando no fim do dia
a paz que brota do ser,
minha mão plante harmonia
meu semblante a luz que guia
nos caminhos do saber.

Tudo na vida são fases
nem sempre bem sucedidas,
muitas delas são capazes
de causar graves feridas,
tomara, possamos vê-las
integralmente vencidas
sabendo que pra vencê-las
por nós devem ser vividas,
mesmo sem nunca querê-las
preferimos ser estrelas
frente as flores coloridas.
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MUTAÇÕES


Tarde de julho, nublada,
o vento uivando anuncia
que a noite será gelada
e a manhã cinzenta e fria,
quem nunca teve morada
faz da estrada a moradia,
entre o pouco e o quase nada
com o pouco ficaria.
Vida insossa provocada
pela ferida causada
nos passos de cada dia.

Mas o sol quando desponta,
bem cedo, no alvorecer,
lentamente toma conta
do cosmos vital do ser.
Toda a treva, a luz desmonta,
fazendo à paz florescer
um vasto rol que remonta
aos confins do entardecer.
A vida não nasce pronta
nela o tempo é quem reponta
sonhos que fazem viver.
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PONTE


Muitos fazem das marquises,
um improvisado teto,
resultante dos deslizes
na busca de amor e afeto.
Repousando nas calçadas
sem colchão, sem protetor,
calça e manga arregaçadas
tendo o céu por cobertor.
Corpo inerte estatelado,
ignora o que passa ao lado
mesmo assim é sonhador.

Sedentos por natureza
buscamos água na fonte,
vida vinda à profundeza
do mais distante horizonte.
Com farta delicadeza
descemos ao pé do monte,
pra sorver toda a beleza
refletida em nossa fronte.
O tempo mostra agudeza,
nos lapida com destreza
para sermos dele a ponte.

Fonte:
Luiz Damo. Pétalas do Quotidiano. Caxias do Sul/RS: Lorigraf, 2012.
Livro enviado pelo autor.

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