sábado, 17 de outubro de 2020

José Lucas de Barros (Caderno Poético) III, décimas


"É MAIS FELIZ A VELHICE
QUE É POR ALGUÉM AMPARADA."


Distante da meninice,
Nos remansos da saudade,
Havendo fraternidade
É mais feliz a velhice;
Há mais encanto e meiguice
Sobre a fronte esbranquiçada...
Mais branda se torna a estrada
Que é pisada com amor,
Como dói menos a dor
Que é por alguém amparada.
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"ESSE PECADO QUE EU FIZ
SÓ DEUS PODE PERDOAR."


Até ficarei feliz
Se o padre, por caridade,
Perdoar pela metade
Esse pecado que eu fiz.
Pecar não foi o que eu quis,
Vou dizer aos pés do altar
Quando for me confessar
Ao capuchinho barbudo,
Porém pecado rabudo
Só Deus pode perdoar,
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"NÃO PODE HAVER POESIA
NO CHEIRO DA GASOLINA."


Se o poeta passa o dia
Nos manejos de uma bomba,
O sonho suspira e tomba,
Não pode haver poesia;
Tudo quanto a musa cria
Vai caindo na rotina...
A neurose da buzina
Do motorista insistente
Sufoca e mata o repente
No cheiro da gasolina!

(Ao poeta Manoel Juvêncio da Silva, que trabalhava num posto de gasolina,
em Serra Negra do Norte).

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"O BOLO TEM QUATRO VELAS
QUE O TEMPO NÃO APAGOU."


Quatro luminosas telas,
Quatro cristais de magia,
Por quatro anos de poesia
O bolo tem quatro velas;
Quatro esperanças singelas,
Quatro dons que o céu guardou,
Quatro almas que Deus salvou
Com quatro messes divinas,
Quatro estrelas peregrinas
Que o tempo não apagou.
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"ORILO VIROU FORMIGA
ENTRE AS MALAS DO CORREIO."


Empresa dura o castiga
Com grossa enchente de malas
E, para bem despachá-las,
Orilo virou formiga;
A papelada o fatiga,
No corre-corre sem freio.
De minha parte, eu receio
Perder sua lira doce,
Pois o poeta enfurnou-se
Entre as malas do Correio.

(O poeta Orilo Dantas vinha faltando às sessões do Clube dos Trovadores do Seridó e alegava sobrecarga de serviços nos Correios, onde trabalhava).
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"SE EU NÃO MATAR A SAUDADE
ELA FINDA ME MATANDO!"


A própria felicidade
Parece chegar ao fim;
Não sei que será de mim,
Se eu não matar a saudade!
Todo instante ela me invade,
Machucando, machucando!
Não sei, meu Deus, até quando
Terei essa dor no peito!
Eu já vi que não há jeito,
Ela finda me matando!

Fonte:
José Lucas de Barros. Pelas trilhas do meu chão. Natal/RN: CJA Ed., 2014

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