terça-feira, 20 de outubro de 2020

Cecy Barbosa Campos (Cristais Poéticos) IV


AFLIÇÃO

Deparo-me com a página em branco
à minha frente,
pedindo para ser utilizada
e receber a escrita.
Entretanto, as palavras
presas a minha mente
perdem-se num emaranhado
de caminhos confusos
e não conseguem
adquirir vida.
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DESMEMÓRIAS


Tudo passa na vida.
Caminhos sem volta
deixaram marcas na face
e espadas invisíveis
atravessadas no peito.
As mãos — com lentidão,
tentam escrever as lembranças
que se confundem,
interrompidas
por parênteses de tempo.
Perdido o fio da meada
cruzo os braços
e esqueço as palavras.
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FLUIDEZ


Eu sou a água
que corre em tua direção
disposta a saciar
a tua sede.
Acompanho a tua forma
amoldando-me a ti.
Suavemente fluida
sigo teus contornos
abraçando as margens,
refletindo imagens
no murmúrio tranquilo
de carícias inauditas.
Sem deixar marcas
para onde for,
serei sempre
imprescindível à tua vida.
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INÍCIO E FIM

Venho do barro,
a matéria prima da criação.
A ele retornarei,
filha da terra
que me vai cobrir.
Prova da insignificância
e do nada que somos,
apesar de tentativas vãs
para mostrar importância.
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POESIA


Encontro-me sem trilhas,
perdida em descaminhos
que me levam
a lugar nenhum.
Sigo por veredas perdidas
em meio a florestas ignotas
sem admitir interferências
na intimidade das minhas escolhas.
De repente, por entre galhos,
troncos partidos e folhas,
brilha a luz que transfigura a dor
e inunda o coração
de Poesia.
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SOLUÇÃO


Procuro esconder
o que não quero ver
no fundo dos meus pensamentos
perdidos em turbilhão.
Das tempestades
devastadoras
que anuviaram uma vida,
restam apenas esboços indistintos
permeados de sombras.

Fonte:
Cecy Barbosa Campos. Versos perplexos. Juiz de Fora/MG: Editar Editora Associada, 2019.
Livro enviado pela poetisa.

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