Aquela fronte sofrida,
que na cruz, tanto sofreu,..
Por ser a essência da vida
está viva e não morreu!
- - - - - -
As rendas da cor de neve,
na areia branca a brilhar...
São versos que o vento escreve
das ladainhas do mar!
- - - - - -
A todo instante eu tropeço,
ergo-me e fico sem jeito;
na dor da queda é que eu meço
a fé que existe em meu peito!
- - - - - -
Canta, velho sino, e espanta,
a dor que canta em teu peito,
que a dor que em meu peito canta
espanto do mesmo jeito!
- - - - - -
De que valem nossos laços,
arranjos lindos, perfeitos...
Se esses nós de teus abraços
ao por do sol, são desfeitos?
- - - - - -
Desde minha tenra infância,
seguem-me por onde eu for...
Os gritos da mendicância,
por meus pedidos de amor!
- - - - - -
Do amor, eu não me desfaço,
nele, a vida se agasalha...
Pois para o amor, sobra espaço
no meu casebre de palha!
- - - - - -
Esquece as mágoas pequenas,
e as grandes, torna a esquecer;
diante de Deus, nossas penas,
são dons do nosso viver!
- - - - - -
Eu vi num pobre andarilho,
a paz no rosto de alguém!
Honra e pobreza, meu filho,
é o que pouca gente tem!
- - - - - -
Mãos dadas! sempre juntinhos
curtindo os dias risonhos...
Quando formos dois velhinhos,
quem curtirá nossos sonhos?
- - - - - -
Meus poetas pirilampos,
um contraste nos conduz;
Uns, são luzes pelos campos;
o outro, sem campo e sem luz!
- - - - - -
Minha casa é uma surpresa;
é simples, do teto ao chão...
Se faltar pão sobre a mesa,
sobra amor no coração!
- - - - - -
Na infância, mamãe rezava,
à tarde, por devoção,
enquanto a gente jogava
bola de gude e pião!
- - - - - -
O homem deixa cicatrizes
por todo canto que passa,
trocando as horas felizes
por minutos de desgraça!
- - - - - -
O ocaso, que me seduz,
é o mesmo que me entristece,
quando a tarde apaga a luz,
puxa a cortina e adormece!
- - - - - -
O pai, que aconselha o filho,
ante a dor que fere o peito...
Mostra que o amor tem mais brilho,
depois de um sonho desfeito!
- - - - - -
Percebo em tuas retinas,
minha eterna flor de lís...
O olhar de duas meninas,
num ser que me faz feliz!
- - - - - -
Pondo em meus pés, teus espinhos,
e a tua cruz sobre as costas...
Rasguei velhos pergaminhos
com perguntas sem respostas!
- - - - - -
Por ironia ou por terdes
falso orgulho, é que, no entanto,
Há nos vossos olhos verdes
perpétuas gotas de pranto!
- - - - - -
Preso ao lar que não é dele,
canta o poeta passarinho
a dor, do pranto daquele,
que canta longe do ninho!
- - - - - -
Saudade - que me incendeia,
toda noite, que surpresa!...
Se apago a luz da candeia
sua chama fica acesa!
- - - - - -
Se amar é o gesto mais nobre
que a vida ensina e nos diz,
no amor, é que se descobre
um jeito de ser feliz!
- - - - - -
Se o tempo, desgovernado,
apaga tudo que alcança...
Por que poupar o passado
que apagou minha esperança?
- - - - - -
Sigo-te amor, fielmente,
e aprisionado aos teus laços,
como é leve esta corrente
quando estou preso em teus braços!
- - - - - –
Só depois que a idade avança,
o homem, já curvo e cansado...
Enxerga a luz da esperança
no olhar de um crucificado!
- - - - - -
Velho andarilho, na estrada,
tangendo o passo miúdo;
na mochila, quase nada,
no coração, quase tudo!
Fonte:
Professor Garcia. Trovas que sonhei cantar. vol.2. Caicó: Ed. do Autor, 2018.
Livro enviado pelo autor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário