sábado, 31 de outubro de 2020

Professor Garcia (Trovas que Sonhei Cantar) 12


Aquela fronte sofrida,
que na cruz, tanto sofreu,..
Por ser a essência da vida
está viva e não morreu!
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As rendas da cor de neve,
na areia branca a brilhar...
São versos que o vento escreve
das ladainhas do mar!
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A todo instante eu tropeço,
ergo-me e fico sem jeito;
na dor da queda é que eu meço
a fé que existe em meu peito!
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Canta, velho sino, e espanta,
a dor que canta em teu peito,
que a dor que em meu peito canta
espanto do mesmo jeito!
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De que valem nossos laços,
arranjos lindos, perfeitos...
Se esses nós de teus abraços
ao por do sol, são desfeitos?
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Desde minha tenra infância,
seguem-me por onde eu for...
Os gritos da mendicância,
por meus pedidos de amor!
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Do amor, eu não me desfaço,
nele, a vida se agasalha...
Pois para o amor, sobra espaço
no meu casebre de palha!
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Esquece as mágoas pequenas,
e as grandes, torna a esquecer;
diante de Deus, nossas penas,
são dons do nosso viver!
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Eu vi num pobre andarilho,
a paz no rosto de alguém!
Honra e pobreza, meu filho,
é o que pouca gente tem!
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Mãos dadas! sempre juntinhos
curtindo os dias risonhos...
Quando formos dois velhinhos,
quem curtirá nossos sonhos?
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Meus poetas pirilampos,
um contraste nos conduz;
Uns, são luzes pelos campos;
o outro, sem campo e sem luz!
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Minha casa é uma surpresa;
é simples, do teto ao chão...
Se faltar pão sobre a mesa,
sobra amor no coração!
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Na infância, mamãe rezava,
à tarde, por devoção,
enquanto a gente jogava
bola de gude e pião!
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O homem deixa cicatrizes
por todo canto que passa,
trocando as horas felizes
por minutos de desgraça!
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O ocaso, que me seduz,
é o mesmo que me entristece,
quando a tarde apaga a luz,
puxa a cortina e adormece!
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O pai, que aconselha o filho,
ante a dor que fere o peito...
Mostra que o amor tem mais brilho,
depois de um sonho desfeito!
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Percebo em tuas retinas,
minha eterna flor de lís...
O olhar de duas meninas,
num ser que me faz feliz!
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Pondo em meus pés, teus espinhos,
e a tua cruz sobre as costas...
Rasguei velhos pergaminhos
com perguntas sem respostas!
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Por ironia ou por terdes
falso orgulho, é que, no entanto,
Há nos vossos olhos verdes
perpétuas gotas de pranto!
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Preso ao lar que não é dele,
canta o poeta passarinho
a dor, do pranto daquele,
que canta longe do ninho!
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Saudade - que me incendeia,
toda noite, que surpresa!...
Se apago a luz da candeia
sua chama fica acesa!
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Se amar é o gesto mais nobre
que a vida ensina e nos diz,
no amor, é que se descobre
um jeito de ser feliz!
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Se o tempo, desgovernado,
apaga tudo que alcança...
Por que poupar o passado
que apagou minha esperança?
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Sigo-te amor, fielmente,
e aprisionado aos teus laços,
como é leve esta corrente
quando estou preso em teus braços!
- - - - - –
Só depois que a idade avança,
o homem, já curvo e cansado...
Enxerga a luz da esperança
no olhar de um crucificado!
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Velho andarilho, na estrada,
tangendo o passo miúdo;
na mochila, quase nada,
no coração, quase tudo!

Fonte:
Professor Garcia. Trovas que sonhei cantar. vol.2. Caicó: Ed. do Autor, 2018.  
Livro enviado pelo autor.

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