Cléo, Shine e Mel, arte por José Feldman |
O cão no folclore nacional
Nas tradições e costumes brasileiros, existem várias superstições envolvidas no comportamento do cão, inclusive lendas e histórias mal-assombradas, e até contidas nos brincos de crianças. O cão latindo em frente de uma casa, representa morte em pessoas ali residentes. Cachorro deitado de costas, é mau agouro para seu dono. Cachorro correndo em forma de círculo, dizem que está trazendo felicidade para o seu dono. Cachorro vomitando no fundo do quintal está afastando o mal, evitando desgraça para seus moradores. Dependendo do nome que se bota no animal, este se influenciara no seu destino. Por isso o cão não deve ter nome de pessoa, nem de coisa. Para sua felicidade e do próprio dono o cão deve ter nome de peixe como tubarão, xaréu, tuninho, agulhão, dentão e mero.
Adagiário do cachorro
As sentença acerca do cachorro, em sua maioria chegaram de Portugal, juntamente com os primeiros colonizadores. Entre as mais citadas, principalmente em nosso estado são estas:
Cachorro velho não ladra em vão
Cachorro bom de tatu, morre de cobra
Cachorra apressada pare filhos cegos
Cachorro que engole osso, toma a medida do pescoço
Cachorro cotó não passa pinguela
Cão que muito ladra não morde
Cão com raiva seu dono trava
Cão na igreja tudo apedreja
Cão que lobo mata, lobos o matam
Cão nunca ladra em falso
Cão não rejeita osso
Cão que muito lambe, chupa sangue
Cão azeiteiro nunca bom coelheiro
Cão mordido todos mordem.
O cachorro na poesia popular
Na poesia popular, como temos sempre informado, encontram-se formas mais essenciais da sensibilidade do espírito humano. Os poemas matutos, no Brasil principalmente, despertaram um novo mundo na cultura erudita, e por isso os historiadores e folcloristas nacionais criaram fama, levando os versos para complementar a Sociologia, estudando o conhecimento dos agrupamentos humanos. Os cordéis, hoje são matérias obrigatórias nas universidades europeias, onde se focalizam parte da ciência dos fenômenos sociais.
Num romance popular, pesquisado por Sílvio Romero, no interior de Pernambuco, o folclore nacional foi enriquecido com a Alforria do cachorro, conforme publicamos:
No tempo em que o rei francês
Regia os seus naturais
Houve uma guerra civil
Entre os brutos e animais
Neste tempo era o cachorro
Cativo por natureza
Vivia sem liberdade
Na sua infeliz baixeza
Chamava-se o dito senhor
Dom Fernando de Turquia;
E foi o tal cão passando
De vileza a fidalguia.
E daí a poucos anos
Cresceu tanto em pundonor.
Que os cães o chamaram logo
De Castela imperador
Veio o herdeiro do tal
Dom Fernando da Turquia,
Veio a certos negócios
Na cidade da Bahia.
Chegou dentro da cidade
Foi à casa de um tal gato
E este o recebeu
Com muito grande aparato
Fez entrega de uma carta
E ele a recebeu;
Recolheu-se ao escritório
Abriu a carta e leu.
E então dizia a carta:
— Ilustríssimo Senhor
Maurício – Violenzo – Souré –
Ligeiro – Gonçalves – Cunha –
Sutil – Maior – Ponta-pé –
Dou-lhe amigo, agora a parte
De que me acho aumentado,
Que estou de governador
Nesta cidade aclamado
Remeto-lhe esta patente
De governador lavrada;
Pela minha própria letra
Foi dita confirmada.
Ora o gato, na verdade,
Como bom procurador,
Na gaveta do telhado
Pegou esta e guardou
O rato como malvado,
Assim que escureceu
Foi à gaveta do gato
Abriu a carta e leu
Vendo que era a alforria
Do cachorro, por judeu
Por ser de má consciência
Pegou a carta e roeu
Roeu-a de ponta a ponta
E pô-la em mil pedacinhos.
E depois as suas tiras.
Repartiu-as pelos ninhos.
O gato, por ocupado
Lá na sua relação
Não se lembrava da carta
Pela grande ocupação
E depois se foi lembrado,
Foi caçá-la e não achou,
E por ser maravilhoso
Disto muito se importou.
Regia os seus naturais
Houve uma guerra civil
Entre os brutos e animais
Neste tempo era o cachorro
Cativo por natureza
Vivia sem liberdade
Na sua infeliz baixeza
Chamava-se o dito senhor
Dom Fernando de Turquia;
E foi o tal cão passando
De vileza a fidalguia.
E daí a poucos anos
Cresceu tanto em pundonor.
Que os cães o chamaram logo
De Castela imperador
Veio o herdeiro do tal
Dom Fernando da Turquia,
Veio a certos negócios
Na cidade da Bahia.
Chegou dentro da cidade
Foi à casa de um tal gato
E este o recebeu
Com muito grande aparato
Fez entrega de uma carta
E ele a recebeu;
Recolheu-se ao escritório
Abriu a carta e leu.
E então dizia a carta:
— Ilustríssimo Senhor
Maurício – Violenzo – Souré –
Ligeiro – Gonçalves – Cunha –
Sutil – Maior – Ponta-pé –
Dou-lhe amigo, agora a parte
De que me acho aumentado,
Que estou de governador
Nesta cidade aclamado
Remeto-lhe esta patente
De governador lavrada;
Pela minha própria letra
Foi dita confirmada.
Ora o gato, na verdade,
Como bom procurador,
Na gaveta do telhado
Pegou esta e guardou
O rato como malvado,
Assim que escureceu
Foi à gaveta do gato
Abriu a carta e leu
Vendo que era a alforria
Do cachorro, por judeu
Por ser de má consciência
Pegou a carta e roeu
Roeu-a de ponta a ponta
E pô-la em mil pedacinhos.
E depois as suas tiras.
Repartiu-as pelos ninhos.
O gato, por ocupado
Lá na sua relação
Não se lembrava da carta
Pela grande ocupação
E depois se foi lembrado,
Foi caçá-la e não achou,
E por ser maravilhoso
Disto muito se importou.
Cascudo comentando o cordel, explica que a alforria do cachorro, confia-a ao gato, foi inutilizada pelos ferinos dentes do rato. Quando o cachorro procurou seu diploma e o gato foi buscá-lo encontrou-o em pedaços ínfimos. Dai, a inimizade, malquerença e desafeição havida entre os dois animais.
Uma sextilha de Zé de Souza
Desse fabuloso repentista que integra a radiofonia potiguar Zé de Souza (Patrulha da Cidade – R. C.) recolhemos esta sextilha espirituosa, humorística e conceituosa:
O cachorro esse meu amigo
que ao homem presta socorro.
Seja andando na estrada
ou caçando lá no morro,
– Melhor um cachorro amigo,
que um amigo cachorro.
que ao homem presta socorro.
Seja andando na estrada
ou caçando lá no morro,
– Melhor um cachorro amigo,
que um amigo cachorro.
Fonte:
Gumercindo Saraiva. O cão na literatura popular. Tribuna do Norte. Natal/RN, 29/09/1974.
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