Elza pediu dinheiro ao marido pra comprar um maiô, pois o verão estava chegando. Ele lhe deu cem cruzeiros:
— Com o troco você pode tomar um sorvete.
Ela desafiou-o:
— Cem cruzeiros não dá nem pro sorvete, quanto mais pro maiô.
Ele meteu a mão no bolso, puxou um maço de notas, fechou a cara:
— Então diz, de quanto é que você precisa.
Ela não se afobou:
— No mínimo, uns oitocentos. Depende do modelo.
Ele contou quatro notas de cem, jogou em cima da mesa com má vontade:
— Vê se te ajeitas com isso, agora não tenho mais.
Mostrou a carteira vazia:
— Olha aí, fiquei limpo.
À noite, antes do jantar, ele perguntou:
— Como é, comprou o maiô?
E ela:
— Só uma parte.
Ele não entendeu, pediu pra ver, ela foi buscar.
— Mas é iiiiiiiiiiiiiisso?
Ela exibia nas mãos um biquíni. Procurou esticá–lo ao máximo, não dava jeito. Ele insistiu:
— Cadê o resto?
— “Isto” foi o que seu dinheiro deu pra comprar, o “resto” custa mais quatrocentos.
Ele se enfureceu:
— Depois sou eu o louco. Com oitocentos cruzeiros, compro um biquíni, mas com uma mulher dentro.
Bateu a porta com força, gritou de dentro do quarto:
— Se quiser que vá assim mesmo que o papai aqui não trabalha na Casa da Moeda.
Elza deu uma gargalhada. No dia seguinte, na hora do café, colocou a “peça única” do biquíni, pôs os óculos escuros, pegou a bolsa e a barraca, passou na frente do marido, em direção à porta da rua. Ele engasgou:
— Aonde é que você vai assim?
— À praia, é claro.
Ele meteu a mão no bolso, deu-lhe mais quatrocentos cruzeiros.
Fonte:
Leon Eliachar. A mulher em flagrante. (desenhos e paginação de Fortuna). Publicado em 1965.
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