sábado, 6 de fevereiro de 2021

Leon Eliachar (O Biquini)


Elza pediu dinheiro ao marido pra comprar um maiô, pois o verão estava chegando. Ele lhe deu cem cruzeiros:

— Com o troco você pode tomar um sorvete.

Ela desafiou-o:

— Cem cruzeiros não dá nem pro sorvete, quanto mais pro maiô.

Ele meteu a mão no bolso, puxou um maço de notas, fechou a cara:

— Então diz, de quanto é que você precisa.

Ela não se afobou:

— No mínimo, uns oitocentos. Depende do modelo.

Ele contou quatro notas de cem, jogou em cima da mesa com má vontade:

— Vê se te ajeitas com isso, agora não tenho mais.

Mostrou a carteira vazia:

— Olha aí, fiquei limpo.

À noite, antes do jantar, ele perguntou:

— Como é, comprou o maiô?

E ela:

— Só uma parte.

Ele não entendeu, pediu pra ver, ela foi buscar.

— Mas é iiiiiiiiiiiiiisso?

Ela exibia nas mãos um biquíni. Procurou esticá–lo ao máximo, não dava jeito. Ele insistiu:

— Cadê o resto?

— “Isto” foi o que seu dinheiro deu pra comprar, o “resto” custa mais quatrocentos.

Ele se enfureceu:

— Depois sou eu o louco. Com oitocentos cruzeiros, compro um biquíni, mas com uma mulher dentro.

Bateu a porta com força, gritou de dentro do quarto:

— Se quiser que vá assim mesmo que o papai aqui não trabalha na Casa da Moeda.

Elza deu uma gargalhada. No dia seguinte, na hora do café, colocou a “peça única” do biquíni, pôs os óculos escuros, pegou a bolsa e a barraca, passou na frente do marido, em direção à porta da rua. Ele engasgou:

— Aonde é que você vai assim?

— À praia, é claro.

Ele meteu a mão no bolso, deu-lhe mais quatrocentos cruzeiros.

Fonte:
Leon Eliachar. A mulher em flagrante. (desenhos e paginação de Fortuna). Publicado em 1965.

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