Poucos saberão quem era o António José Custódio, mas todos conheciam o ti António Carqueja. Foi uma figura típica da nossa terra. Exímio bailador, segundo ele próprio “arranhava” umas coisitas no harmónio*, na concertina e no realejo.
Ensinou alguns jovens a tocar concertina. Tocava ferrinhos no Rancho**, e pertencia aos grupos de Foles e de Realejos.
No princípio de cada mês (logo doze vezes) ia a casa dele para me falar do mês em referência, mas a condição – ele que não era poeta – mas tinha que ser em verso.
JANEIRO
Desde mil novecentos e vinte e três,
que eu estou bem recordado,
o que se fazia no mês de Janeiro
era cavar e arrancar o mato.
Mil novecentos e vinte e três,
que eu tenho de recordação,
em Janeiro se começava a limpar as terras,
para semear pão:
Ninguém dizia que não,
tudo queria era trabalhar,
uns arrancando mato com o enxadão,
outros com os bois a lavrar.
Logo de manhã ia-se regar,
com o trabalho se tinha sigueira
com os bois engatados às charruas,
a romper as carvalheiras;
Rapazes e raparigas solteiras,
todos cheios de opinião
iam pra charneca arrancar mato,
pra ganhar 25 e nem mais um tostão;
Era o ordenado que corria,
era o que ganhava o pobre…
os novos 25 tostões a 3.000 reis por dia,
que 5 ou 6.000 reis ganhava o homem;
Era isto, mas com medo da fome
toda a gente queria trabalhar;
trabalhava a mulher e trabalhava o homem,
pois tinham os filhos a sustentar;
Pra charneca se ia trabalhar,
semanas, semanas e semanas…
pra noite toda a gente puxar
para aquelas boas cabanas;
As cabanas eram grandes,
cabia lá tudo e todos;
dormiam lá as pessoas
e ainda cabiam os bois;
Como tantas, tantas noites,
nas cabanas se passarem,
contavam-se histórias e contos,
para os serões se acabarem;
Os contos que se contava,
era sempre depois de ceia,
a luz que nos alumiava
era de uma lanterna ou de uma candeia;
Toda a gente tinha sigueira
com este viver na vida;
para as terras se lavrarem
tinha que se fazer esta lida;
Se bem ou mal arranjado
isso se tinha que dar,
ao longo dos anos da vida,
alguma coisa posso contar;
De tudo isto me lembro
e não sou eu o primeiro,
era a vida que tinha que se dar,
dentro do mês de Janeiro.
Desde mil novecentos e vinte e três,
que eu estou bem recordado,
o que se fazia no mês de Janeiro
era cavar e arrancar o mato.
Mil novecentos e vinte e três,
que eu tenho de recordação,
em Janeiro se começava a limpar as terras,
para semear pão:
Ninguém dizia que não,
tudo queria era trabalhar,
uns arrancando mato com o enxadão,
outros com os bois a lavrar.
Logo de manhã ia-se regar,
com o trabalho se tinha sigueira
com os bois engatados às charruas,
a romper as carvalheiras;
Rapazes e raparigas solteiras,
todos cheios de opinião
iam pra charneca arrancar mato,
pra ganhar 25 e nem mais um tostão;
Era o ordenado que corria,
era o que ganhava o pobre…
os novos 25 tostões a 3.000 reis por dia,
que 5 ou 6.000 reis ganhava o homem;
Era isto, mas com medo da fome
toda a gente queria trabalhar;
trabalhava a mulher e trabalhava o homem,
pois tinham os filhos a sustentar;
Pra charneca se ia trabalhar,
semanas, semanas e semanas…
pra noite toda a gente puxar
para aquelas boas cabanas;
As cabanas eram grandes,
cabia lá tudo e todos;
dormiam lá as pessoas
e ainda cabiam os bois;
Como tantas, tantas noites,
nas cabanas se passarem,
contavam-se histórias e contos,
para os serões se acabarem;
Os contos que se contava,
era sempre depois de ceia,
a luz que nos alumiava
era de uma lanterna ou de uma candeia;
Toda a gente tinha sigueira
com este viver na vida;
para as terras se lavrarem
tinha que se fazer esta lida;
Se bem ou mal arranjado
isso se tinha que dar,
ao longo dos anos da vida,
alguma coisa posso contar;
De tudo isto me lembro
e não sou eu o primeiro,
era a vida que tinha que se dar,
dentro do mês de Janeiro.
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* Harmônio ou harmónio – ou órgão de fole, é um instrumento musical de teclas, cujo funcionamento é muito similar ao de um órgão, mas sem os tubos que caracterizam este último. Apesar de feito para uso doméstico, tornou-se um instrumento musical de uso típico em igrejas, por seu tamanho e preço. (wikipédia)
** Rancho - Rancho Folclórico de Montargil (em Portugal).
Fonte:
Boletim em linha. Montargil Acção Cultural. N. 92. Janeiro de 2021.
Colaboração de Lino Mendes.
* Harmônio ou harmónio – ou órgão de fole, é um instrumento musical de teclas, cujo funcionamento é muito similar ao de um órgão, mas sem os tubos que caracterizam este último. Apesar de feito para uso doméstico, tornou-se um instrumento musical de uso típico em igrejas, por seu tamanho e preço. (wikipédia)
** Rancho - Rancho Folclórico de Montargil (em Portugal).
Fonte:
Boletim em linha. Montargil Acção Cultural. N. 92. Janeiro de 2021.
Colaboração de Lino Mendes.
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