PRISCILA CHEGA PARA O PAI e, na sua inocência dos dez anos, manda a pergunta sem pensar duas vezes no que poderá acontecer logo em seguida:
— Pai, paizinho... Posso lhe perguntar uma coisa?
— Claro, minha filha.
— O senhor me ama?
— Muito, Priscila.
— Me ama como ama a mamãe?
— Amo as duas da mesma maneira, ou melhor, amo de maneiras e formas iguais. Só que, embora sendo amores iguais, são amores com maneiras e sentidos diferentes.
— Como é lá isto, pai, se o senhor acabou de dizer que embora sendo amores iguais, têm sentidos diferentes?
— Vou tentar explicar de maneira bem simples. O meu amor por você Priscila, é um amor de pai para filha. É aquele amor fantástico, puro, sem manchas, que está guardadinho num cantinho oculto, escondidinho bem aqui dentro do meu peito. Que aflora no sopro do menor movimento que eu faça quando lhe beijo e lhe abraço. Já o que sinto por sua mãe não se descreve... É verossímil.
— É o que, pai? Não entendi...
— Verossímil é aquele amor que parece verdadeiro e, na verdade é.
— O senhor tem certeza disto, pai? É de fato verdadeiro ou não?
— Claro que é, filha. O amor que sinto por sua mãe é como o amor que você nutre por esta sua bonequinha Barbie. Você a ama incondicionalmente, ou seja, não fica sem ela. Onde você vai, a leva com você, como se fizesse parte do seu corpo. Tenho certeza que se você a perder, morreria de tédio e de solidão. Diga sinceramente para seu pai: você ficaria sem a sua bonequinha?
— Não, pai.
— Pois então, minha filha. Eu não ficaria sem o amor da sua mãe. Ela é essencial. É dela... Ou melhor, é dela que sai a minha felicidade e que me mantém vivo e respirando. Em outras palavras, é do coração dela que brota todo o amor incondicional que preenche a minha vida. Sem a sua mãe, seu papito não seria ninguém...
— O senhor sabe por que o pai da Débora foi embora?
— Ele foi embora? Desconhecia este fato... Acaso você sabe o motivo, minha princesa?
— Paizinho, o senhor sabe tanto quanto eu que ele foi embora...
— Eu sei? De onde você tirou esta ideia maluca?
— Não é maluca, pai. O senhor sabe que ele foi embora e também sabe o motivo. A Debora me falou que foi por sua causa. Ela me segredou que toda noite, antes de ‘vim embora pra casa’, o senhor passa na lanchonete da mãe dela e bebe uma cerveja. Depois vocês vão lá para os fundos e trocam afagos, e se beijam...
O pai da garota quase teve um piripaque:
— Mentira, minha filha. Sua amiguinha Débora é uma grande mentirosa. E uma tremenda fofoqueira. Não dê ouvidos ao que ela lhe conta. Se esta desgraça de conversa fiada chega aos ouvidos da sua mãe... Jesus, Maria, José... Pelo amor de Deus, filha, esquece este assunto...
— Não tem como, pai. Assiste a estes vídeos que a Débora acabou de me mandar pelo meu whatsapp.
Fonte:
Texto enviado pelo autor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário