quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Estante de Livros (“Thais”, de Anatole France)


Thaís é um livro de Anatole France. Publicado pela primeira vez em 1889. 
A obra se passa no Egito, parte da literatura francesa e uma crítica aos costumes da época.

Com um estilo fluente, cético e sarcástico Anatole France foi um dos escritores mais característicos da literatura francesa. Nascido em Paris, foi coerente com sua paixão e, por isso, adotou o pseudônimo France. Mas, seu nome verdadeiro era Anatole Jacques Thibault. Crítico feroz aos costumes e instituições do seu tempo, fez-se a voz da cidade, daquela Paris herdeira e centro da cultura da sabedoria e da arte do mundo ocidental. Anatole France – um filósofo epicurista – produziu várias e sucessivas obras-primas, e em 1912 recebeu o Prêmio Nobel de Literatura.

Thais é a obra que assinala o zênite da força criadora do autor. Ambientada no Egito, é a história de uma meretriz e de um monge. O triunfo do corpo sobre a alma – Epícuro contra o estoicismo – foi mais finamente traçado, com tanta beleza e melodia de estilo.

Thais se passa na Alexandria, é a história de uma meretriz, que no livro é chamada de ''comediante'', e de um monge, Paphnucio, que se enamora dela, mas logo entra em conflito com suas convicções religiosas por conta desse amor. Ora, Paphnucio é um cristão primitivo, e um de seus objetivos na vida se trata de obter um tal grau de pureza espiritual que o obrigaria a passar por caminhos que pressupunham privações extremas, não só a supressão dos desejos carnais, como também os cuidados básicos de higiene, insistindo em ver no sofrimento causado por infecções, causadas por prolongados jejuns, uma forma de aproximar-se de Deus. Chega mesmo a fazer do alto de uma das colunas de um velho monumento em ruínas, o seu lar, para se elevar acima do resto da humanidade e chegar mais perto de Deus.

Pode-se perceber que Paphnucio, bastante radical, não aceita a beleza, a saúde e o bem-estar como algo bom, mas como coisas que afastam o ser humano do divino. O monge originava-se de uma abastada família de Alexandria, e foi educado para seguir o princípio do prazer; porém curiosamente, desvia-se do caminho que sua família havia traçado para ele, e resolve seguir uma nova e ainda estranha para muitos, filosofia: o Cristianismo, que então já começava a se espalhar entre as classes mais ricas, sofrendo nessa época, menor perseguição do que em seus primórdios.

Thais, jovem e bonita, desfruta de tudo o quanto a vida e a sua beleza podem oferecer; riqueza, fama, homens, arte. O monge, por sua vez, vive uma vida de castidade e preces no deserto até o momento em que, perturbado por pequenos demônios, decide deixar o monastério e ir para a cidade, em busca de Thais.

Paphnucio em seu afã, exagera em sua convicção, que se torna bastante radical, e acaba por destruir a própria vida e a da mulher amada.

Na obra, o monge faz de seu objetivo de vida fazer com que a meretriz Thaís abandone a vida devassa e, dessa forma, conseguisse a salvação de sua alma. Entretanto, o monge se apaixona pela meretriz e depois que percebe que a alma dela está salva, percebe que não era isso que ele queria.

O enredo é muito bem construído, com certa dose de crítica e sátira (que ao meu ver é incomum para a época - 1890), e é de uma leitura gostosa, muito embora tenha um vocabulário um tanto quanto rústico.

De um modo geral o autor redige a trama com doses de entranhamento filosófico e um toque de sátira sem perder um estilo artístico e literário mais refinado. De maneira objetiva, também retrata muito bem o cristianismo, ainda nos seus primeiros séculos de existência (aproximadamente em 300 d. C.)
Fontes:
Ana Ruppenthal, disponível em skoob 

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