sábado, 3 de dezembro de 2011

Reinaldo Pimenta (Origem das Palavras 17)

Justificar
PRIMEIRO-DE-ABRIL
O calendário Julino, de 45a.C., deslocou o início do ano, de 10 de março (dia do equinócio da primavera, quando o Sol passa do hemisfério sul para o hemisfério norte) para 1° de janeiro.
Vários povos submetidos aos romanos seguiram o novo calendário; outros levaram mais tempo em razão da resistência das autoridades eclesiásticas em aceitar o início do ano num mês cujo nome era dedicado a Janus, uma divindade pagã.
Os franceses resistiram muito, até 1564. Nesse ano, o rei Carlos IX decretou que o ano deveria ser contado a partir de 1° de janeiro tal como determinado pelo calendário juliano. Até então, os franceses comemoravam o ano-novo em 25 de março, no Dia da Anunciação, nove meses antes do nascimento de Cristo. As comemorações duravam uma semana, culminando, com festas, jantares e trocas de presentes, em 1 de abril.
Mesmo depois do decreto real, franceses conservadores não deram a menor bola e continuaram com suas festividades, comilanças e lembrancinhas no dia 1 de abril. Chamados "bobos de abril", foram ridicularizados, passando a receber nesse dia presentes idiotas e convites para festas inexistentes.
O costume de pregar mentiras em 1 de abril saiu da França e foi para o mundo. Lá o dia é conhecido como poisson d"Avril, peixe de abril, em referência à saída do Sol do signo zodiacal de peixes.
Como os ingleses não admitem nenhum povo mais conservador, somente em 1751 deixaram de adotar o início do ano em 25 de março e passaram para 1 de janeiro.

PUXAR A BRASA PARA SUA SARDINHA
A expressão, que significa levar vantagem egoisticamente, veio do espanhol arrimar ei ascua a su sardina.
Antigamente trabalhadores que moravam em cortiços ganhavam sardinhas, que eles assavam no fogo que iluminava o ambiente. Mas, quando os homens pegavam as brasas para suas sardinhas, o fogo se apagava e o clima esquentava, com muita briga e bate-boca no escuro. As desavenças chegaram a tal ponto que foi proibido o ingresso de sardinhas nos cortiços.

FAZER O QUILO
A palavra quilo, além da unidade de massa (do grego khílioi, mil), pode significar o líquido esbranquiçado a que se reduzem os alimentos na última fase da digestão. Veio do grego khulós, sumo, suco produzido pela digestão dos alimentos.
A expressão fazer o quilo é uma das seguintes atividades a que você pode dedicar-se depois de uma refeição: (a) repousar ou dormir (depois do almoço); (b) caminhar para facilitar a digestão. Segundo alguns etimólogos, a palavra quilo aí não tem nada a ver com o suco grego: veio do quimbundo (língua falada em Angola) quilo, sono.

REMORSO
A CONSCIÊNCIA TEM DENTES AFIADOS.
Um sinônimo em desuso para remorso é remordimento, que é o ato de remorder. Remorder pode significar tornar a morder ou afligir ("o arrependimento remordia o criminoso"). Remorso veio do latim remorsu, particípio de remordere, morder de novo, atormentar. Quer dizer, remorso é etimologicamente mordido outra vez. Por quem? Pela consciência. A palavra foi usada pela primeira vez, com o sentido de arrependimento, pelo poeta francês Rutebeuf (século XIII), na expressão remors de conscience, remordimento da consciência.

SAIR À FRANCESA
É sair de fininho, sem ser notado.
Os francos eram tribos germânicas que apareceram no século III. No século V, invadiram a Gália (país que ficava no atual território da França). Na língua dos francos, o frâncico, a palavra frank significava livre, liberal, isento - os francos não pagavam impostos na Gália por serem seus conquistadores. Frank deu no francês franc e daí foi para o português franco, com sentidos próximos ao do vocábulo frâncico original: sincero, gratuito (entrada franca), livre de impostos (zona franca).
Sair à francesa, então, seria originariamente sair franco, no sentido aduaneiro, ou seja, sair livremente, com isenção, sem demora para conferências de papéis e para cálculo de impostos a cobrar. Revoltados, os franceses, em respeito à sua [messe e em provocação a seus tradicionais adversários, criaram a expressão substitutiva filer à l"anglaise, sair à inglesa.
No português, franco originou franquear, permitir, livrar de impostos, e franquia, isenção, imunidade, licença.
O inglês [ranchise também veio do francês franc.

Fonte:
PIMENTA, Reinaldo. A casa da mãe Joana 2. RJ: Elsevier, 2004

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