quarta-feira, 24 de julho de 2019

Paulo Camelo (Sextina)


6 sextilhas e 1 terceto.

A sextina é um dos sistemas estróficos mais difíceis e raros. Criada por Arnaut Daniel, no século XII, foi usada por alguns dos grandes poetas, como Dante, Petrarca e Camões. No Brasil, dela se utilizaram Jorge de Lima, Américo Jacó, Waldemar Lopes, Edmir Domingues, Dirceu Rabelo e outros.

Compõe-se de seis sextetos e um terceto final, a coda. Utilizando versos decassilábicos, tem as palavras (ou as rimas) finais repetidas em todas as estrofes, num esquema pré-determinado. Assim, as palavras (ou rimas) que aparecem na primeira estrofe, na sequência de versos 1, 2, 3, 4, 5, 6, repetem-se na estrofe seguinte, na sequência 6, 1, 5, 2, 4, 3. E se faz a estrofe seguinte na sequência 6, 1, 5, 2, 4, 3, em relação à estrofe anterior. E assim até a sexta estrofe, finalizando os sextetos, O terceto final tem, em cada verso, no início e no fim, as palavras (ou rimas) utilizadas no poema todo, na posição em que se apresentaram na primeira estrofe.

Ezra Pound, referindo-se à sextina, disse: "A arte de Arnaut Daniel não é literatura. É a arte de combinar palavras e música numa sequência onde as rimas caem com precisão e os sons se fundem ou se alongam.
" Ao que Edmir Domingues objetou, dizendo: "Mas é este o objetivo de toda a verdadeira poesia, o perfeito encontro entre a forma e o conteúdo, entre a linguagem e a música".


SEXTINA de Luís de Camões

Foge-me pouco a pouco a curta vida = 1 a
(se por caso é verdade que inda vivo); = 2 a
vai-se-me o breve tempo d'ante os olhos; = 3 a
choro pelo passado e quando falo, = 4 a
se me passam os dias passo e passo, = 5 a
vai-se-me, enfim, a ideia e fica a pena. = 6 a

Que maneira tão áspera de pena! = 6 b
Que nunca u'a hora viu tão longa vida = 1 b
em que possa do mal mover-se um passo. = 5 b
Que mais me monta ser morto que vivo? = 2 b
Para que choro, enfim? Para que falo, = 4 b
se lograr-me não pude de meus olhos? = 3 b

Ó fermosos, gentis e claros olhos, = 3 c
cuja ausência me move a tanta pena = 6 c
quanta se não compreende enquanto falo! = 4 c
Se, no fim de tão longa e curta vida, = 1 c
de vós m'inda inflamasse o raio vivo, = 2 c
por bem teria tudo quanto passo. = 5 c

Mas bem sei, que primeiro o extremo passo = 5 d
me há de vir a cerrar os tristes olhos = 3 d
que Amor me mostre aqueles por que vivo. = 2 d
Testemunhas serão a tinta e pena, = 6 d
que escreveram de tão molesta vida = 1 d
o menos que passei e o mais que falo. = 4 d

Oh! que não sei que escrevo, nem que falo! = 4 e
Que se de um pensamento n'outro passo, = 5 e
vejo tão triste gênero de vida = 1 e
que, se não lhe não valerem tantos olhos, = 3 e
não posso imaginar qual seja a pena = 6 e
que traslade esta pena com que vivo. = 2 e

N'alma tenho contínuo um fogo vivo, = 2 f
que, se não respirasse no que falo, = 4 f
estaria já feita cinza e pena; = 6 f
mas, sobre a maior dor que sofro e passo, = 5 f
me temperam as lágrimas dos olhos = 3 f
com que, fugindo, não se acaba a vida. = 1 f

Morrendo estou na vida, e em morte vivo; = 2 g
vejo sem olhos, e sem língua falo; = 4 g
e juntamente passo glória e pena. = 6 g


Fontes:
Paulo Camelo. Sextina. in https://camelo.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=47664. 25 set 2005.
Sextina de Camões obtido no livro de Lóla Prata. E eu sei fazer versos? Bragança Paulista/SP: ABR, 2011.Livro enviado pela autora.

2 comentários:

Paulo Camelo de Andrade Almeida disse...

https://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/preview.php?idt=47664

Embora não haja problema em se difundir ensinamento, eu apreciaria que fosse dito que o texto explicativo é de minha autoria, no Recanto das Letras.

Paulo Camelo de Andrade Almeida

Jota Feldman disse...

Prezado Paulo

Agradeço por ter me alertado sobre esta apropriação de seu texto, eu sou sempre a favor de respeitar os direitos autorais, tanto que no meu blog pode ver que coloquei para sempre citarem os autores. Verifiquei o livro da autora e realmente não menciona vosso nome, e na bibliografia final apenas está www.recantodasletras.com.br sem mais nenhuma referência.
Sendo assim, faça-se justiça a quem merece, não vi razão para manter o nome dela no título ou na imagem que sempre coloco, e troquei pelo seu, a quem de direito pertence. É uma lástima que tais ações ocorram sem respeito ao próximo. Espero que aceite os meus pedidos de desculpas. Um forte abraço.