quarta-feira, 17 de julho de 2019

Jaime Vieira (Nas Asas da Poesia) 2


CHATICE

por este mundo ser chato
por todo mundo estar chato
quero mesmo ser um chato
e me agarrar
na cabeleira
do tempo.

CONSPIRAÇÃO

enquanto
brincam com o tempo,
os teus cabelos
em mutirão,
a todo momento,
trabalham sérios
mudando de cor
quando não,
vão embora.

DESCANSO

a velha
palavra
rui o tempo,
em descanso
vira
epitáfio.

DESPETALAR

O espinho
é o segurança da flor
em espetáculo.
Apenas fere,
que pena,
não é obstáculo.

DESPOEMA

No calote da linguagem
com dupla imagem,
a poesia ganha passagem
e não diz nada.
Aí, o engano
é único.

HISTÓRICO

Há séculos
(desde toda eternidade)
o sol e a lua
são os mesmos.
Gerações desaparecem
e eles indiferentes
no palco do céu
continuam o espetáculo.

POSSIBILIDADE

o impossível
é sempre possível
basta querer
impossivelmente
querendo.

POTENCIAL

no coração pequenino
do passarinho
cabe a vastidão do céu
e a decisão do voo.

QUERO MAIS

no poço das palavras
que não mentem
tomo posse
e não mato a sede.

RELUZIR

bem atrás,
lá no azul negro
do infinito
algumas estrelas pequenas
brincam de esconde-esconde,
as mais afoitas
dizem: boa-noite!

RISOS

O mar se agitou
e ondas rolaram seixos
dando gargalhadas.
Também, pô!
O voo rasante das gaivotas
faziam cócegas na sua superfície.

Fonte:
Jaime Vieira. Asas. São Paulo/SP: Edicon, 1989.

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