O SILÊNCIO DE UM POETA
Quando a palavra se ausenta,
o silêncio é tão profundo,
que o próprio rumor do mundo,
da abstração se alimenta.
A emoção até que tenta
animá-la, comovê-la...
como enxergar uma estrela,
quando a noite é nevoenta?
Por sabê-la desmaiada,
o poeta a reanima,
mas ela amordaça a rima.
e o verso não diz mais nada.
Porém, quando a flor é morta,
o pólen dança no ar,
e até no fundo olhar
mais vazio, há uma porta,
E quando menos se espera,
num doce sopro de brisa,
o verso se realiza
e poliniza a primavera.
A palavra é tão esquiva
e desenha o que quiser,
e ela sempre está mais viva
num sorriso de mulher
E é assim que ela projeta
- por ser viva e fascinante -
na mudez de algum instante,
o instante... de um poeta.
DELETO... OU NÃO DELETO ?
Recebo o teu e-mail... e indago,
Por que, com tanta tecnologia,
a minha dor te vê modo vago
e o meu amor apenas fantasia ?
O afeto que tu dizes que me tinhas
desfaz-se nas palavras que me trazes
e na imprecisão de tantas linhas
percebo o quanto os sonhos são fugazes.
Prometes um amor bem mais seleto;
se tens tantos amores, qual me dás ?
aquele bem mais tímido e discreto...
...ou simplesmente amores passionais ?
Confesso, estou confuso... a alegria
desfaz os dissabores e conduz
o amor fragilizado à euforia
do sonho prazeroso que o seduz.
Meu coração escolhe o trampolim
e hesita... quer pular, mas a razão
algema a intenção que existe em mim.
Meu Deus... que quer de mim meu coração ?
Será que és um spam ? ...meu dedo em riste
não sabe em qual tecla há de tocar
e o enter... excitante... sempre insiste...
em me trazer a luz do teu olhar.
E nessa confusão tão... virtual...
que torna meu desejo tão... concreto,
pergunta o meu amor... imparcial:
- Deleto o teu amor... ou não deleto ?
FOTO DIGITAL
Do teu retrato, tua alma em vão me olha,
pedindo um beijo, uma atenção...qualquer afeto...
tua saudade é como um vento que desfolha
um livro antigo que não é mais predileto.
Há no meu álbum, tantas fotos me pedindo
que eu me recorde de momentos inexatos,
mas quando tento, a lembrança vai fugindo
e eu fico rindo do silêncio dos retratos.
Fotos antigas como as tuas só resgatam
muitas mentiras, farsas e hipocrisias
e os negativos sem sentido só retratam
sombras manchadas de ilusões e utopias.
O teu retrato sedutor perdeu o foco,
a importância, a sedução, a fantasia...
e se ele existe sem razão, logo eu o troco
por outro foco que não é fotografia.
Tua lembrança é uma foto inconsistente,
que se desgasta, pois repousa na moldura
de um coração que já nem sabe se te sente,
quando o que sente é solidão e amargura.
Hoje, eu esqueço a solidão e faço um xis,
mirando as lentes da câmera digital,
mas se percebo uma imagem infeliz,
deleto tudo e busco a foto ideal.
Hoje meu rosto é que serve de modelo
para o fotógrafo que vê uma mulher
como uma linha que se solta do novelo
e em vão costura o coração de quem a quer.
POR QUE POR QUÊ?
Por que é que tudo tem que ter sempre um porquê?
... o amor, amada, não precisa de respostas
e o desamor e a solidão nos dão as costas,
...se eu expresso o amor que sinto por você.
Bom é amar, sem ter que dar explicações...
as emoções libertam todo o nosso encanto
e a cada pranto, sempre há novas sensações
de ouvir a voz dos mais sublimes acalantos.
O nosso amor, tão preocupado com sonhar
nunca dá tempo à indagação inconveniente...
... porque o amor mais sedutor que a gente sente,
responde sempre com o brilho do nosso olhar.
Portanto, amada... se alguém lhe perguntar
- com esse "porquê" que interroga e não responde,
diga: - Não sei, o nosso amor só vai aonde
a emoção faz a razão brincar... de amar.
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