terça-feira, 23 de julho de 2019

Antonio Carlos Barros (Gralha Azul Singrando Horizontes)


Conta a lenda que, uma certa gralha negra, dormia num galho de pinheiro e foi acordada pelo som dos golpes de um machado. Assustada, voou para as nuvens, para não presenciar a cena do extermínio do pinheiro. Lá no céu, ouviu uma voz pedindo para que ela retornasse para os pinheirais, pois assim ela seria vestida de azul celeste e passaria a plantar pinheiros. A gralha aceitou então a missão e foi totalmente coberta por penas azuis, exceto ao redor da cabeça, onde permaneceu o preto dos corvídeos. Retornou então aos pinheirais e passou a espalhar a semente da araucária, conforme o desejo divino.

Assim como a Lenda da Gralha Azul, ouvi uma voz, nem tanto do céu e nem tanto da terra, do amigo e Acadêmico João Líbero, velho amigo de infância, nascido e crescido em nossa querida Sorocaba, pedindo e me incentivando para que retornasse aos pinheirais da cultura, para assim como ele, espalhasse a semente da poesia, das lendas, dos textos Tropeiros e Gaúchos, dos causos e mentiras, da Irmandade, da música, enfim que voltasse a escrever.

O pedido do amigo Líbero ecoou como uma machadada em minha cabeça, onde eu, adormecido sobre os galhos do pinheiro, não vislumbrava mais, espalhar o pouco das sementes culturais, que havia guardado em meus antigos pessuelos.

Pois bem, como diz o Gaúcho: “Não podemo se entregá pros home de jeito nenhum, amigo e companheiro”, o pingo estava encilhado e passando a minha frente. Resolvi “muntá”.

Então como diz uma música Gaúcha: “Com café de lambe-sela eu abro o dia/ Se o Camargo me faltar pelo sendeiro/ O Tropeiro vai cantando de alegria/ Quando a gralha pular entre os pinheiros/ Com soquete na panela fervilhando/ Me preparo para a noite que aí vem/ Abre a gaita, eu abro o peito, improvisando/ E adormeço quando o sol, dorme também”.
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Notas:
Pingo: cavalo.
Pessuelos: Espécie de alforje duplo, de couro ou de lona, usado na garupa do cavalo.
Café de lambe sela: café muito fraco.
Sendeiro: Cavalo ruim, sem préstimo algum.

Fonte:
O Autor

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